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Marta como vice de Boulos também é balão de ensaio do PT para 2026

Ato de filiação da ex-prefeita Marta Suplicy ao PT em fevereiro - LUIZ RODRIGUES/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Ato de filiação da ex-prefeita Marta Suplicy ao PT em fevereiro Imagem: LUIZ RODRIGUES/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
do UOL

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

21/02/2024 04h00

O retorno da ex-senadora Marta Suplicy ao PT tem um objetivo além de fortalecer a chapa do deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) à Prefeitura de São Paulo. Caso ganhe força, ela pode se tornar um nome viável para o partido em 2026.

O que aconteceu

Conquistar o governo do estado seria inédito para o partido. Com boa avaliação como prefeita de São Paulo (2001-2004) e força entre classes conservadoras, ela voltou ao partido que ajudou a fundar, também, como uma opção a mais para tentar alcançar esse objetivo.

Marta foi alçada ao posto em especial por falta de nomes fortes no PT paulista. O retorno da ex-senadora teve forte influência do presidente Lula (PT), que vê a eleição da capital como uma das prioridades do ano.

Publicamente, o PT de São Paulo fala que é "colocar o carro à frente dos bois". Mas não há quem descarte essa possibilidade, apenas lembram que há outros interessados. Segundo aliados da ex-senadora, tudo vai depender, claro, do desempenho da dupla na campanha à prefeitura.

Por que não?

O governo de São Paulo é um sonho antigo do PT. Com a força popular de Lula, o partido acredita que 2026 pode ser o ano de quebrar esse tabu e já começa a articular seus possíveis nomes.

Já está dado que o presidente concorrerá a reeleição e os paulistas querem garantir uma cabeça de chapa para seu palanque. Entre os nomes que despontam está, naturalmente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), derrotado no segundo turno em 2022, e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, terceiro lugar na disputa em 2014.

Marta viria como uma opção nova. Ex-senadora eleita pelo estado, ela tem uma avaliação positiva na capital, em especial nos chamados "extremos" da cidade, regiões populosas ao sul e a leste.

Ela tem ainda adesão considerável entre as classes média e alta, um dos principais calos do PT no estado mais rico do país. Descendente de uma das famílias mais tradicionais da cidade, ela sempre circulou entre empresários e a chamada "high society" paulistana, os quatrocentões, da qual faz parte.

Em uma pesquisa Quaest de dezembro do ano passado, a nova-velha-petista foi considerada ainda a melhor prefeita de São Paulo desde a redemocratização. Ela foi escolhida por 24% dos moradores, com Luiza Erundina e Paulo Maluf (9%) na sequência. O atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) ficou em último, com 1%.

Contra, pesa em especial resistência dentro do próprio partido e seu passado recente. Ex-ministra de Dilma Rousseff (PT), ela fez duras críticas ao PT e chegou a votar a favor do impeachment da ex-presidente ao sair do partido, em 2015. Até a filiação, em fevereiro, ocupava um cargo na prefeitura de Nunes por aliança com o ex-prefeito Bruno Covas (PSDB), morto em 2021.

Por enquanto, é uma ideia, um balão de ensaio apoiado em muitas condicionais, dizem petistas. Se a chapa Boulos-Marta vencer e seu nome crescer, por que não?, questionam.

Há outros interessados

Marta está longe de correr sozinha, mesmo que mostre interesse e viabilidade. Partidários dizem que o PT é "um partido complexo" e geralmente seus nomes são escolhidos por votação interna —a menos, como tem acontecido nos últimos anos, que Lula insista em um nome.

Haddad seria o candidato natural. Atual nome mais forte do PT paulista, conseguiu retomar a popularidade na capital, que não o reelegeu em 2016, ganhando do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) na cidade em 2022. Ele também ocupa um dos ministérios mais importantes e de maior destaque do governo.

Aliados descartam. Haddad não só está feliz na Fazenda como segue sendo o nome preferido à sucessão de Lula, agora postergada para 2030. Pleitear um governo estadual —sempre com a chance de ser derrotado— seria considerado um passo para trás.

Seu colega Padilha também é tido como um quadro que poderia agradar das classes mais populares à classe média e já está em pré-campanha interna. Ministro palaciano com acesso direto a Lula, ele tem a confiança do presidente, com passagens pelo Ministério da Saúde e duas vitórias para a Câmara dos Deputados.

Conquista inédita

Terra natal do partido, São Paulo nunca foi um estado fácil para o PT. Desde as primeiras eleições diretas durante a redemocratização, em 1982, o partido só chegou ao segundo turno em dois momentos: em 2002 e em 2022 — não coincidentemente, impulsionado por Lula na eleição nacional.

Em 2002, o ex-deputado José Genoino foi derrotado pelo atual vice-presidente Geraldo Alckmin (então PSDB) por 57% a 41%. Em 2022, Haddad perdeu para Tarcísio por 55% a 44%.

Nas outras nove eleições, a participação foi anêmica. Chegou ao segundo lugar duas vezes, com o atual presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, em 2006 e 2010, derrotado no primeiro turno respectivamente pelo senador José Serra e por Alckmin, ambos no PSDB. No resto, incluindo a candidatura de Lula em 1982, nem arriscou uma chance.

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