Essequibo: após telefonema com Lula, Maduro propõe reunião de "alto nível" com a Guiana

O governo venezuelano propôs uma reunião de "alto nível" com a Guiana neste sábado (9), em um cenário de tensões ligadas à disputa territorial entre os dois países pela região de Essequibo, rica em petróleo. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao seu colega venezuelano Nicolas Maduro que não tome "medidas unilaterais" que possam agravar a disputa de fronteira entre a Venezuela e a vizinha Guiana, durante uma ligação telefônica mais cedo, no sábado.

O presidente Nicolas Maduro teve "conversas telefônicas com o presidente (do Brasil) Luiz Inácio da Silva e com o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas", durante as quais fez uma "proposta para uma reunião de alto nível com a República Cooperativa da Guiana, cuja data será anunciada nos próximos dias", informou o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela, sem especificar se Georgetown havia aprovado a abordagem.

"Lula enfatizou a importância de evitar medidas unilaterais que possam agravar a situação" na disputada região de Essequibo, rica em petróleo, disse a presidência brasileira em um comunicado.

O presidente do Brasil, que faz fronteira com os dois países, reiterou a "crescente preocupação" dos outros países sul-americanos, que em uma declaração conjunta na noite de quinta-feira convidaram "ambas as partes ao diálogo e à busca de uma solução pacífica".

"Se há uma coisa que não queremos, é uma guerra na América do Sul", disse o presidente Lula.

O antigo conflito sobre o Essequibo

A descoberta de vastos depósitos de petróleo reacendeu o antigo conflito sobre o Essequibo, um território de 160 mil km² administrado pela Guiana, mas reivindicado pela Venezuela, que afirma que a verdadeira fronteira é a que remonta ao império espanhol em 1777.

A disputa foi encaminhada à Corte Internacional de Justiça (CIJ), a mais alta corte da ONU, que não é reconhecida pela Venezuela. A Guiana acredita que as fronteiras foram acordadas em 1899, quando o Reino Unido era a potência colonial do território.

Os dois países continuam trocando declarações amargas, e o Conselho de Segurança da ONU se reuniu a portas fechadas na noite de sexta-feira (8), mas nenhum comentário foi feito.

 A Rússia, aliada do presidente venezuelano Nicolas Maduro, que apoiou seu colega russo Vladimir Putin desde as primeiras horas da invasão russa na Ucrânia, pediu "soluções pacíficas aceitáveis para todos".

Washington, um aliado de Georgetown, afirmou seu "apoio inabalável à soberania da Guiana".

O ministro da Defesa da Venezuela descreveu os exercícios militares aéreos anunciados pelos Estados Unidos na Guiana como uma "provocação".

No entanto, alguns analistas acreditam que a retórica nacionalista do governo venezuelano sobre o Essequibo e o referendo realizado no domingo, no qual 95% dos votos foram a favor da adesão à Venezuela, de acordo com números oficiais contestados, são uma tentativa de Maduro de manipular a situação política menos de um ano antes da eleição presidencial de 2024, na qual ele está buscando um terceiro mandato.

Cerca de 125 mil pessoas, um quinto da população da Guiana, vivem em Essequibo, que cobre dois terços da superfície do país.

(Com informações da AFP)