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Coalizão contra Hamas proposta por Macron em Israel recebe duras críticas na imprensa francesa

25/10/2023 10h32

A imprensa francesa repercute nesta quarta-feira (25) a proposta feita ontem pelo presidente Emmanuel Macron ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. O chefe de Estado francês sugeriu a criação de uma coalizão internacional contra o movimento palestino Hamas, nos mesmos moldes da que foi formada em 2014 contra o grupo Estado Islâmico no Iraque e na Síria.

Durante um encontro com Netanyahu em Jerusalém, Macron propôs "aos nossos parceiros internacionais a construção de uma coalizão regional e internacional para combater os grupos terroristas que ameaçam a todos nós". A inciativa, no entanto, teve repercussão negativa entre especialistas de conflitos no Oriente Médio.

Segundo o jornal Le Parisien, a ideia de Macron surpreendeu nos meios diplomáticos e seria mais uma jogada política do líder francês do que uma oferta militar. O diário lembra que a coalizão contra o grupo EI, formada por cerca de 60 países e liderada pelos Estados Unidos, inclui monarquias árabes, como Arábia Saudita, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Bahrein e Qatar, além de exércitos europeus, entre outros países. Entretanto, ninguém entende como a França poderia, por exemplo, bombardear o Qatar, um de seus mais próximos aliados na região, onde vive a cúpula política do Hamas.

Um dos especialistas entrevistado pelo Le Parisien declarou ter ficado "perplexo" com a proposição de Macron, que ainda por cima "não foi discutida com parceiros da região", observou. 

"Que líder árabe apoiaria uma ação armada contra o Hamas, quando as populações da Arábia Saudita ao Marrocos são solidárias com os palestinos?", questionou outro entrevistado ouvido pela reportagem, que preferiu não se identificar.

O general Dominique Trinquand, que chefiou a missão militar francesa na ONU, ponderou que a coalizão contra o grupo EI não se limita a bombardeios, e envolve compartilhamento de informações de inteligência entre aliados, ações de combate ao financiamento do terrorismo e de prevenção para evitar a associação de grupos armados, como aconteceu entre o grupo EI e o Boko Haram, na África.

Essa proposta foi elaborada no Palácio do Eliseu, principalmente pelo assessor político e militar Xavier Chatel, reporta Le Monde. "Ela pegou o Quai d'Orsay (equivalente ao Itamaraty] de surpresa", afirma o jornal. Tudo indica que o projeto "busca levar em conta questões internas e antiterroristas, em um momento em que Paris está testemunhando a poderosa ressonância do conflito em seu solo".

O jornal explica que o governo francês "tenta banir toda solidariedade com o Hamas, pedindo aos seus parceiros que tomem nota do fato de que o movimento islâmico nunca mais deve ser considerado como um ator político legítimo, na Europa ou no Oriente Médio".

No entanto, "essa associação com o mal absoluto personificado pelo grupo EI é ignorada na Palestina e atiça os ânimos no mundo árabe, em um momento em que os oficiais mais graduados de Israel estão comparando, sem reservas, os combatentes do Hamas à população de Gaza", destaca o veículo.

'Sintoma de fracasso'

"Coalizão estranha", escreve o Libération, acrescentando que este "é mais um sintoma do fracasso da política francesa no Oriente Médio". Duas horas depois da fala de Macron em Israel, o Palácio do Eliseu já tinha voltado atrás, explicando que o objetivo era "aproveitar a experiência da coalizão internacional contra o grupo EI e ver quais aspectos poderiam ser replicados contra o Hamas".

O diário progressista qualificou a proposta de Macron de "irrealista" e típica de anúncios que ele costuma tirar do chapéu "para aparecer". A alfinetada é explicada pelo fato de Macron visitar Israel dias depois de outros dirigentes, como o presidente americano, Joe Biden, o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o premiê britânico, Rishi Sunak. 

"Como tem sido lembrado nas últimas semanas, a diplomacia francesa sob o comando de François Mitterrand (1981-1995) e Jacques Chirac (1995-2007) se distinguiu por suas iniciativas ousadas para proteger os palestinos durante crises agudas", recorda o Libération. Nos últimos 15 anos, no entanto, a França se aproximou da posição israelense e "perdeu sua voz no Oriente Médio", conclui o veículo progressista.

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