Ataques no Rio: 'Brasil tem problema crônico no combate ao crime organizado', diz Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira, 24, que o Brasil "tem um problema crônico no combate ao crime organizado" ao comentar a série de ataques a ônibus que afetou a zona oeste do Rio nesta segunda-feira, 23. Ele disse ter conversado com o ministro da Justiça, Flávio Dino, e que vai conversar com o titular da Defesa, José Múcio, para usar a estrutura dessas pastas no combate ao crime organizado e à milícia no Estado.
"Esse governo não vai se esconder e dizer que é só problema dos Estados. Eu já conversei com o Flávio Dino e hoje vou conversar com o Múcio. Vamos usar a estrutura dos Ministérios da Justiça e da Defesa para ajudar a combater o crime organizado e a milícia no Rio. Nós queremos compartilhar as soluções dos problemas dos estados com o governo federal", informou o presidente.
Lula acrescentou ainda que é necessário reunir prefeitos e governadores junto ao governo federal para "pensar soluções conjuntas". "A liberação das armas, de forma atabalhoada, fez com que o crime organizado se apoderasse de mais munição e vimos isso nos últimos anos", afirmou.
Ao menos 35 coletivos foram incendiados na zona oeste do Rio de Janeiro, segundo o sindicato que reúne as empresas de ônibus da capital. Segundo a Polícia Civil, os ataques foram praticados por um grupo de milicianos em represália à morte de Matheus da Silva Rezende, que era conhecido com Faustão ou Teteu, durante confronto com policiais civis numa favela de Santa Cruz, bairro da zona oeste.
"Nós estamos com o povo do Rio de Janeiro. Vamos compartilhar as soluções com o governo local para que o Rio possa voltar aos jornais pelas suas belezas e o que tem de melhor", acrescentou o presidente.
Lula disse já ter conversado também com o governador do Rio, Cláudio Castro (PL). A intenção, reforçou o presidente, é que a Aeronáutica "possa ter intervenção maior nos aeroportos" e a Marinha, nos portos. "Vamos combater mais o crime organizado, o narcotráfico e o tráfico de armas", disse ele, ao comentar também que a "Polícia Federal vai agir com mais força".
O Rio de Janeiro conta deste o dia 16 de outubro com o reforço de 570 agentes federais para incrementar a segurança em áreas de risco e no patrulhamento de estradas e rodovias. Do total, 300 deles integram a Força Nacional (FN) e 270 são agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
"Vamos ampliar a nossa presença no Rio, com mais agentes, mais viaturas e mais trabalho de inteligência", disse na oportunidade o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino.
Toda a força do Rio (está) na rua, diz Castro
O governador Cláudio Castro declarou nesta terça-feira que as forças de segurança do Estado "continuam em estágio de máximo alerta", e afirmou que o efetivo policial está todo nas ruas da cidade.
"Minha orientação é para toda a força do Rio de Janeiro na rua. Viaturas, carros, blindados, helicópteros, drones, tanto da Polícia Civil quanto da Polícia Militar. A administração penitenciária também com nível máximo de cuidado e de alerta. Até estar totalmente estabilizado, assim vai ser a nossa postura. Uma postura muito na rua, para garantir que o cidadão tenha tranquilidade e o seu direito de ir e vir preservado", disse o governador, em entrevista no início da manhã.
Ele disse que metade das 12 pessoas detidas na segunda-feira por suspeita de participação nos ataques foram liberadas.
"Das 12 pessoas que foram detidas ontem (segunda), seis foram confirmadas a prisão - temos indícios de autoria e materialidade -, e outras seis, por falta de indícios, foram soltas. Mas as investigações e monitoramento dessas pessoas continuam". Ainda segundo o governador, outros dois suspeitos foram presos pela manhã.
Um dia após ataque no Rio de Janeiro, o BRT Transoeste, corredor de ônibus que atende a zona oeste da cidade, iniciou a manhã desta terça-feira, 24, com o serviço praticamente normalizado, conforme informou o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), direto do Centro de Operações Rio (COR-Rio), órgão da prefeitura que monitora a cidade por meio de câmeras.
Por volta das 7h40, o corredor já estava com os intervalos normalizados. "Estou acompanhando a situação dos transportes na cidade aqui do Centro de Operações Rio. O BRT Transoeste praticamente normalizado. Diretões começaram a circular e SPPO ainda em 50% da sua frota na zona oeste com impactos também na frota de Barra/Jacarepaguá", disse Paes. Posteriormente, ele citou que o porcentual das linhas de ônibus regulares, que estava em 50%, passou para 80% por volta das 7h30.
Ainda no fim da madrugada, a Supervia informou que excepcionalmente nesta terça-feira, a circulação de trens no ramal Santa Cruz teve início às 4 horas e não haverá partida de trens expressos e dos especiais de Campo Grande.
Castro voltou a afirmar que os alvos da polícia são os líderes de grupos criminosos que atuam no Rio de Janeiro, e descartou a possibilidade de realização de qualquer tipo de acordo com os criminosos. "Não há nenhuma espécie de acordo, nem com tráfico, nem com milícia, nem com ninguém", sustentou.
"Realmente nós estamos atrás, fazendo exatamente o que eu prometi fazer: ir atrás dos líderes. Ontem (segunda) tiramos de circulação um dos maiores líderes de milícia do Brasil, que era conhecido como senhor da guerra deles, que era conhecido por juntar tráfico e milícia e fazer as famosas narcomilícias. Infelizmente, a reação deles foi desproporcional, coisa que nunca foi vista antes."
Morte de miliciano desencadeou ataques
Matheus da Silva Rezende, de 24 anos, é sobrinho de Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, que desde 2021 é o líder do principal grupo miliciano que atua no Rio. Resende era o segundo na hierarquia do grupo, segundo a polícia.
Ele foi morto durante confronto com policiais civis da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), o grupo de elite da Polícia Civil fluminense, e do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), na favela Três Pontes, em Santa Cruz. Nessa mesma operação, uma criança de dez anos foi atingida de raspão na perna por uma bala perdida. Medicada, ela passa bem.
Depois da morte, os ônibus começaram a ser atacados e incendiados. Segundo o sindicato das empresas de ônibus, esse já é o maior ataque a ônibus da história do Rio. São 20 de linhas municipais, cinco do BRT e dez avulsos, de fretamento. Também foi colocado fogo em um trem.