Tarcísio promete linhas e extensões do metrô que não têm projeto em SP
Apesar de demorar dez anos, em média, para São Paulo construir uma linha de metrô, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) vem prometendo iniciar obras e até entregar em pouco tempo ferrovias na capital paulista, em Campinas, em Santos, em Guarulhos e no Grande ABC.
O tempo recorde, porém, é improvável porque a maioria das linhas, em fase de estudos, ainda não têm projeto.
O que aconteceu
"Vai precisar vir um cara de fora para fazer o metrô andar?", provocou o carioca Tarcísio ainda na campanha eleitoral. Ele foi eleito prometendo que sua plataforma de privatizações seria suficiente para acelerar obras rodoviárias, de saneamento e de linhas ferroviárias.
Já eleito, Tarcísio prometeu ao menos dez obras de trem e metrô. Em três delas o projeto está pronto. Em uma, o projeto ainda está sendo produzindo e em outra ele foi contratado. Cinco linhas ainda estão em fase de estudos, um período anterior ao projeto, à licitação, ao leilão e, finalmente, ao início das obras (detalhes abaixo).
"É bom o governo colocar todos os empreendimentos em pauta", diz o urbanista Victor Iacovini, cujo doutorado na USP analisou a formação do metrô paulista. "Mas, como estudioso, sou muito cético porque esses anúncios soam como se as linhas fossem sair logo."
Uma linha de metrô leva, em média, dez anos para ficar pronta em São Paulo. Duvido de promessas que falem em quatro, cinco anos.
Victor Iacovini, urbanista
O que promete Tarcísio?
Linha 17-ouro: Esperada para a Copa de 2014, os 8 km do monotrilho continuam em obra. Tarcísio, então, prometeu entregá-lo no ano que vem.
No mais tardar, no início de 2025 eu quero essa linha 17 operando.
Tarcísio de Freitas, em 2 de março
Procurado, o governo disse em nota que o prazo mudou. Agora, a obra —do Morumbi a Congonhas— está prevista para acabar em 2025 e a operação começar em 2026. Para isso, o governo rescindiu o contrato e multou o consórcio que tocava a obra e a entregou para a Agis Construção.
Linha 20-rosa, com extensão até o ABC: Serão 24 estações ligando a Lapa (zona oeste) a Santo André. Chefe da SPI (Secretaria de Parcerias em Investimentos), Rafael Benini previu o leilão da linha 20 até 2026 ao comentar os projetos de três linhas. "Pelo menos uma a gente faz neste mandato", afirmou em fevereiro à Revista Ferroviária. "Estamos dando prioridade à linha 20."
Procurado, o governo afirmou que "foram contratados estudos" para "avaliar a viabilidade" da linha.
Linha 4-amarela, extensão até Taboão da Serra: Desde 2010 cogita-se aumentar três quilômetros da linha, até Taboão (Grande SP). No mês passado, Tarcísio prometeu iniciar as obras no próximo ano.
"Estamos fazendo o projeto de engenharia, e em 2024 as obras terão início", afirmou.
A SPI, porém, autorizou apenas recentemente a formulação do projeto-executivo, que "deverá ser entregue" no ano que vem.
Linha 5-lilás, extensão até Jardim Ângela: O ex-governador João Doria prometeu que as obras até o bairro da zona sul começariam em 2021 e que a operação iniciaria até 2024.
Em setembro, Tarcísio prometeu o início das obras "no ano que vem". Só os projetos-executivos, porém, deverão ser entregues até o fim de 2024, diz a SPI.
Extensão até Guarulhos: A entrega da extensão da linha 2-verde virou promessa na campanha de Tarcísio. Eleito, ele passou a defender que o governo federal bancasse parte das estações e um estacionamento de trens —estimados em R$ 8 bilhões— por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o que aconteceu no lançamento do programa, em agosto.
Queremos levar o metrô para Guarulhos (...) É importante começar a tirar o metrô da cidade de São Paulo e levar para a Região Metropolitana.
Tarcísio de Freitas, em março
Hoje está em obras o trecho da Vila Prudente à Penha, previsto para 2026 —último ano da gestão. O trecho de Guarulhos está na fase 2, mas só foram contratados os "estudos para avaliar a viabilidade" da linha, diz a SPI.
A meta é entregar o primeiro trecho, até Vila Formosa, em 2026, com a conclusão até a Penha em 2027.
Secretaria de Parcerias em Investimentos
Linha 6-laranja, extensão até Brasilândia. A obra da linha saindo da estação São Joaquim (centro) deveria iniciar em 2010, mas começou em 2015 com promessa de entrega para 2020. A obra foi interrompida em 2016 por falta de verba e, em 2021, Doria prometeu a linha para 2025.
No ano passado, a obra voltou a parar. Em maio, Tarcísio prometeu adicionar mais seis estações e disse: "Em 2026 vamos ter parte dessa linha operando, transportando pessoas". A SPI diz que "foi autorizado estudo para ampliação de mais sete quilômetros".
Trens no interior
São Paulo já contou com quatro projetos de trens ligando Campinas à capital —o primeiro há 20 anos. Sob a alcunha de Intercidades, a obra é estudada desde 2013. Hoje o projeto prevê três serviços:
- Linha 7-rubi: Após revitalizar a linha da CPTM, o trem ligará a Barra Funda a Jundiaí sem paradas;
- Trem Intermetropolitano: Sairá de Jundiaí com paradas em Louveira, Vinhedo, Valinhos e Campinas;
- Trem Intercidades: O trem expresso levará uma hora entre a capital e Campinas.
Em agosto, Tarcísio disse que o trem Jundiaí-Campinas ficará pronto em quatro anos e o trem expresso em sete anos. Em setembro o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento) liberou R$ 6,4 bilhões para o eixo norte do Intercidades, avaliado em R$ 13,5 bilhões.
No mesmo dia, Tarcísio anunciou que o leilão do empreendimento passará de 28 de novembro para 29 de fevereiro do ano que vem.
Trens em Santos e em São José dos Campos: "Vamos iniciar o estudo do [trem de] São José dos Campos a São Paulo", disse o governador ao Flow Podcast. Em março, disse em evento do Lide (Grupo de Líderes Empresariais) que "vamos pensar em como chegar na Baixada Santista de trem".
As linhas também fazem parte do projeto que inclui o Intercidades. Mas, ao contrário dos outros trechos, faltam estudos.
O eixo leste (São José dos Campos) e o eixo sul (Santos) ainda passarão por qualificação no Programa de Parcerias e Investimentos.
SPI
Da promessa à operação
O processo de construção de uma linha férrea "é longo, cheio de etapas", explica Iacovini. Última linha a ser entregue, a 4-amarela levou 17 anos (2004-2021). Para uma linha ser aprovada é preciso:
- Pré-estudo de viabilidade econônomica;
- Estudo de projeto arquitetônico e urbanístico;
- Estudo de impacto ambiental e vizinhança;
- Projetos de sistema (comunicação, elétrico e hidráulico);
- Projeto dos trens (feitos sob encomenda);
- Algumas linhas precisam de estudo de integração com outros modais;
- Depois se faz a modelagem do negócio.
"Cada estudo leva cerca de um ano para ficar pronto, custa milhões e vários precisam de licitação própria", diz o especialista. "Depois eles passam por aprovação nos órgãos responsáveis."
Após os estudos, é feito o projeto e a licitação, um processo burocrático que dura ao menos um ano porque envolve diversos órgãos, audiência pública. Depois do leilão, constroem a linha.
Victor Iacovini
Metrô privatizado em 2025?
O governo espera que a privatização do metrô acelere a construção das novas linhas. Em março, Tarcísio disse em Guarulhos que já analisa "o melhor modelo", "se é concessão; se privatização vai ser o formato do metrô", disse.
A ideia é que esse estudo aconteça ao longo do ano que vem e qualquer coisa em termos de leilão deve ocorrer em 2025.
Tarcísio de Freitas
Concedidas em 2021, as linhas 8-diamante e 9-esmeralda da CPTM registraram aumento de 275% no número de falhas nos três primeiros meses de operação, e, ao final do primeiro ano, a média era de uma falha a cada dois dias. A expansão da privatização das linhas motivou uma greve de metroviários que no começo do mês parou a cidade.
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