Hamas liberta duas israelenses; EUA pedem cautela com invasão da Faixa de Gaza
Por Nidal al-Mughrabi e Matt Spetalnick
GAZA/WASHINGTON (Reuters) - O Hamas afirmou nesta segunda-feira que libertou duas mulheres israelenses que estavam entre os 200 reféns que o grupo tomou durante o seu ataque contra o sul de Israel no dia 7 de outubro, enquanto fontes dos Estados Unidos disseram ter aconselhado Israel a segurar um ataque por solo contra a Faixa de Gaza.
“Decidimos soltá-las por razões humanitárias e de más condições de saúde”, afirmou Abu Ubaida, porta-voz do braço armado do grupo militante palestino, no Telegram.
O gabinete do primeiro-ministro israelense emitiu um comunicado confirmando que as mulheres – cujos nomes são Nurit Cooper, de 79 anos, e Yocheved Lifshitz, de 85 anos – foram entregues a militares de Israel e que seriam levadas a uma instalação médica.
Ambas foram sequestradas no Kibutz Nir Oz, perto da Faixa de Gaza, junto com seus maridos, que ainda são mantidos como reféns pelo Hamas, de acordo com o comunicado. O grupo palestino também libertou uma norte-americana e sua filha na sexta-feira. Todas foram sequestradas durante o ataque de 7 de outubro, quando o Hamas matou 1.400 pessoas.
Em público, os EUA dizem que Israel tem o direito de se defender, mas duas fontes próximas ao assunto disseram que a Casa Branca, o Pentágono e o Departamento de Defesa intensificaram os apelos por precaução nas conversas com Israel.
Uma prioridade dos Estados Unidos é ganhar tempo para que as negociações para a libertação de reféns ocorram, especialmente após a inesperada soltura de Judith e Natalie Raanan na sexta-feira, afirmaram as fontes, que falaram antes de as duas reféns serem libertadas nesta segunda-feira.
Perguntado sobre a possibilidade de um cessar-fogo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou: “Deveríamos ter aqueles reféns libertados e, então, poderemos conversar”, afirmou.
Israel atacou, pelo ar, centenas de alvos na Faixa de Gaza nesta segunda-feira, e soldados israelenses entraram em confronto com militantes do Hamas durante ofensivas no enclave palestino, onde as mortes têm aumentado e os civis estão encurralados e enfrentando condições horrorosas de vida.
O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza informou que 436 pessoas morreram em bombardeios nas últimas 24 horas, a maioria no sul do território, que é estreito e densamente povoado.
Os militares israelenses afirmaram que atingiram mais de 320 alvos na Faixa de Gaza nas últimas 24 horas, incluindo um túnel que abrigava militantes do Hamas, dezenas de postos de comando e observação e posições de morteiros e lançadores de mísseis antitanques.
Os ataques aéreos israelenses foram uma resposta ao 7 de outubro, o dia mais sangrento de Israel desde a sua fundação, há 75 anos.
Com os 2,3 milhões de habitantes de Gaza ficando sem insumos básicos, líderes europeus aparentemente vão se alinhar à ONU e a países árabes para pedir uma “pausa humanitária” nas hostilidades, para que o auxílio externo possa chegar às pessoas.
Um enviado especial dos EUA está negociando com Israel, Egito e a ONU para criar um “mecanismo sustentado de entrega” para que a ajuda humanitária chegue a Gaza, depois que comboios começaram a entrar no enclave pelo Egito, informou nesta segunda-feira o Departamento de Estado norte-americano.
A ONU afirmou que os cidadãos locais também não possuem onde se abrigar dos bombardeios.
O conflito, além disso, começa a escalar para além da Faixa de Gaza. Aeronaves israelenses atingiram posições pertencentes ao Hezbollah no sul do Líbano. O grupo, como o Hamas, é aliado de longa data do Irã. O Exército de Israel também entrou em confronto com palestinos na Cisjordânia, e o Hamas atirou mais foguetes contra Israel.
Pelo menos 5.087 palestinos morreram em duas semanas de ataques aéreos, incluindo 2.055 crianças, informou o Ministério da Saúde.
A polícia israelense e a agência de inteligência Shin Bet mostraram imagens de seus interrogatórios com membros do Hamas capturados e que participaram do ataque de 7 de outubro. Neles, um homem algemado descreve as ordens que receberam sobre civis israelenses: matar os homens e trazer as mulheres, crianças e os idosos como reféns.
Outro militante, com um ferimento no rosto, disse que o prêmio por trazer reféns seria uma casa nova e 10 mil dólares.
COMBATES EM GAZA
Israel afirmou que as incursões de suas Forças Armadas durante a madrugada tinham parcialmente a intenção de juntar informações de inteligência, uma vez que o paradeiro dos reféns é desconhecido, e que as ações ajudaram a melhorar a preparação militar do país.
“Esses ataques são ataques que matam grupos de terroristas que estão se preparando para a nossa próxima etapa na guerra. Esses são ataques que vão fundo”, afirmou o porta-voz militar israelense Daniel Hagari.
O braço armado do Hamas, as Brigadas Izz el-Deen al-Qassam, disse que seus combatentes entraram em confronto com forças israelenses que infiltraram no sul da Faixa de Gaza, destruindo duas escavadoras e um tanque, e forçando os invasores a deixar o local.
As brigadas também afirmaram que estão lançando mísseis contra as cidades israelenses de Ashkelon e Mavki'im. Sirenes puderam ser ouvidas no lado de Israel da fronteira.
O escritório humanitário da ONU afirmou que cerca de 1,4 milhão de moradores da Faixa de Gaza – mais da metade do total – tiveram que deixar suas casas, muitos deles buscando refúgio nos já lotados abrigos de emergência do órgão.
Israel ordenou que moradores de Gaza deixem o norte do enclave. Contudo, muitos daqueles que fugiram aparentemente estão retornando ao norte devido ao aumento dos bombardeios no sul e à falta de lugar onde ficar.
“Eles nos disseram para deixar nossos lares e ir para Khan Younis porque era seguro.... Eles nos traíram e nos bombardearam”, afirmou Dima Al-Lamdani, de 18 anos, que perdeu seus pais, sete irmãos e quatro membros da família de seu tio em um ataque aéreo, depois de a família ter se deslocado para o sul do território.
Aviões israelenses também atingiram duas células do Hezbollah no Líbano, que planejavam lançar mísseis e foguetes contra Israel, de acordo com os militares israelenses. Israel também atingiu um complexo e um posto de observação do grupo.
Na Cisjordânia ocupada por Israel, dois palestinos morreram no campo de refugiados de Jalazone, próximo a Ramallah, disse o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina.
(Reportagem de Nidal al-Mughrabi em Gaza; Matt Spetalnick, Steve Holland, Rami Ayyub e Humeyra Pamuk em Washington; Dan Williams e Emily Rose em Jerusalém)