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Carros usados: 5 perguntas para não ser enganado na hora da compra

Fábio Mendes/Folhaporess
Imagem: Fábio Mendes/Folhaporess
do UOL

Colunista do UOL

24/06/2021 04h00

Está cada vez mais difícil comprar carros usados com qualidade. Nunca vi tantos modelos com passagem por locadoras como agora. Na teoria, isso não seria um problema, mas na prática é.

Sempre disse que veículos devem ser vistoriados individualmente, para evitarmos rótulos. Tenho certeza que, dentre as incontáveis opções, algumas sofreram menos que outras e podem ser bons negócios. Mas a impressão que tenho é de que estou procurando uma agulha no palheiro.

São carros "sem donos" com "vários proprietários diferentes", que não tiveram o mesmo zelo que teriam modelos particulares. Mesmo com poucos anos de uso ou quilometragem, a maioria acaba reprovada por mim.

Ontem aconteceu algo parecido, quando um dos membros da minha equipe foi avaliar um Chevrolet Onix 2018 com apenas 13 mil quilômetros. O anunciante é um desses grandes grupos que surgiram nos últimos anos e que intermedeiam a venda de carros usados. Prometem uma série de benefícios, tiram fotos bonitas em um estúdio próprio, dizem se preocupar com a qualidade do veículo, mas na real nem sabem vistoriar um usado como se deve.

Conheci essa empresa há alguns anos, pouco tempo depois de ela chegar em São Paulo. Sua atuação era tímida, mas achei o formato do negócio bem interessante e promissor. Eram carros de particulares, intermediados por eles, com a garantia de ser um negócio seguro para ambas as partes, comprador e vendedor. Serviço perfeito para quem não quer correr o risco de cair em um golpe.

Diferentemente de uma loja convencional, o carro continua com o proprietário, que só leva o veículo quando é preciso apresenta-lo a algum interessado. Em nenhuma etapa do processo o comprador tem contato direto com o vendedor. Nessa primeira experiência, fechei negócio em um bom Nissan Sentra para um cliente. Porém, isso nunca mais se repetiu nas negociações seguintes.

Todas as outras vezes que fui vistoriar algum carro intermediado por eles me deparei com veículos em péssimo estado de conservação. Ficou claro que eram pouco exigentes quanto à qualidade dos modelos e que apenas dei sorte no primeiro negócio.

Bastava para eles que o veículo fosse aprovado em uma vistoria cautelar, que informasse que a estrutura e a procedência eram boas. Para mim, isso não basta - tanto que perdi as contas dos carros que reprovei, mas que foram aprovados em uma vistoria cautelar.

Com o tempo foram surgindo outras empresas com as mesmas propostas e baixo padrão de qualidade dos carros oferecidos. Consigo lembrar dos detalhes das dezenas de carros deprimentes que perdi meu tempo vistoriando nessas empresas.

Voltando para o Onix avaliado ontem, um carro com apenas três anos de uso e média pouco acima de 4 mil quilômetros por ano, ele chamou atenção do meu cliente, que solicitou o serviço de vistoria. As fotos do anúncio, como eu já disse, feitas dentro de um estúdio, davam a impressão de ser um ótimo carro. Porém, não foi nada disso que o vistoriador me relatou depois de ver o carro.

Sem manual do proprietário e apenas um selinho de troca de óleo feita por eles mesmo, o alerta de possível adulteração de quilometragem acendeu na minha cabeça. As letras iniciais das placas indicam que o carro foi licenciado zero-quilômetro no Estado do Amazonas. Por qual motivo veio parar aqui em São Paulo?

Se foi de locadora mesmo eu não sei, mas tudo indica que fez parte da frota de uma empresa, já que o dono anterior foi um banco - indicando que a compra foi feita através de leasing. O dono atual, para minha surpresa, é outra dessas empresas de intermediação, certamente parceira da que estava com posse do carro.

Não parou por aí. O carro estava com muita terra escondida em partes de difícil acesso visual, sem borrachas nos pedais da embreagem e do freio, e um péssimo serviço de funilaria e pintura em uma das laterais, com excesso de massa plástica e escorrimento de verniz evidentes. As datas de fabricação dos pneus batiam com a do veículo, mas os mesmos estavam todos deformados, não sei por qual motivo.

Diante de todas essas observações, gostaria de saber o que o leitor acha da quilometragem apresentada. Real ou adulterada? Não quero afirmar nada...

Esse exemplo do Onix tem sido cada vez mais comum no dia a dia de um Caçador de Carros. Para minimizar o risco de fazer um mau negócio, seguem pontos que verifico nas vistorias.

1- Confirme as informações do anúncio

Anúncio de carro à venda em concessionária fechada - Marlene Bergamo/Folhapress - Marlene Bergamo/Folhapress
Imagem: Marlene Bergamo/Folhapress

Vendedores mentem, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas. É muito comum que as informações inseridas em um anúncio não sejam verdadeiras. "Único dono", "todas revisões em concessionária" e "pneus novos" são alguns exemplos que têm intenção de diferenciar o carro anunciando, valorizando-o entre os demais.

Confirme tudo com o anunciante antes de agendar a visita e faça o mesmo quando estiver vistoriando o carro. Para saber se o vendedor é mesmo o único dono, o nome dele deve constar no manual do proprietário, que também precisa ter o número de chassi preenchido.

Sobre revisões em concessionária, confirme os carimbos no manual e se as datas e quilometragens registradas batem com o que está no painel. Sobre pneus novos, verifique se não são remoldados ou riscados.

2- Verifique a procedência

Leilão Detran - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

São poucos os que deixam claro a real procedência de um carro. Pergunte se tem passagem por leilão, se foi de alguma locadora ou empresa, se sabe a quantidade de donos anteriores e, muito importante, pergunte as iniciais da placa para saber de qual Estado o veículo veio.

Uma pesquisa rápida no Google te informará as sequências de cada estado. Não tem nenhum problema ser de outro lugar, mas esse pode ser um indício de que o carro chegou junto com tantos outros, em lotes de veículos de repasse e com pouca qualidade. Para confirmar tudo, é preciso fazer uma pesquisa mais profunda em sites especializados. Isso tem custo e é preciso ter pelo menos a placa do carro.

3- Sobre sinistros

Sendo o anunciante o "único dono", é obrigação dele saber se o carro já sofreu algum acidente que tenha que ter passado por algum reparo. Mesmo assim, já me deparei com muitos donos querendo ocultar um passado não tão glorioso do seu veículo. No caso de não ser o único dono, não tem como exigir a veracidade dessa informação por parte do vendedor.

Na mesma pesquisa paga que checa a procedência, pode aparecer sinistros, como passagem por furto ou até serviços de funilaria intermediado por seguradora. O ideal é ir ainda mais fundo e avaliar a estrutura do carro. Caso não tenha conhecimento de como fazer isso, leve o veículo em uma empresa de vistoria cautelar.

4- Pergunte se é fumante

Homem fumante - iStock - iStock
Imagem: iStock

Quem não fuma não suporta cheiro de cigarro. Carros de fumantes têm esse problema, que não é tolerado por boa parte dos compradores.

Para não perder seu tempo indo vistoriar um carro assim, pergunte se o dono é fumante ou se o veículo tem cheiro de cigarro. A pergunta pode ser ofensiva, mas não é. Estou acostumado a perguntar isso e nunca fui destratado na resposta.

5- Sobre manutenção

Manutenção carro - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Procure se informar sobre o cronograma de manutenção do carro do seu interesse. Geralmente os fabricantes disponibilizam essas informações em seus sites. Com isso, pergunte se a troca de uma peça específica foi feita.

Por exemplo, você está interessado em um carro que tem 70 mil km e o fabricante recomenda troca da correia dentada com 60 mil km. Então é esperado que isso já tenha sido feito. Mais do que perguntar, verifique se tem comprovante dessa manutenção. Mesma coisa para troca de óleo da transmissão automática, que por ser um serviço caro, poucos fazem.

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