Comissão da Covid no Senado vira embate entre CFM e médicos
Em audiência da Comissão da Covid-19 no Senado, que debate os protocolos utilizados para o tratamento da doença no país, médicos e senadores aproveitaram a presença do vice-presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), Donizetti Dimer, para questionar a eficácia dos medicamentos presentes no chamado "kit covid".
As críticas dirigidas ao conselho diziam respeito à autorização dada pela CFM para o uso "fora da bula" de remédios como hidroxicloroquina ou ivermectina por médicos no tratamento da doença pandêmica.
Com uma visão contrária à recomendação, a presidente do IQC (Instituto Questão de Ciência), Natalia Pasternak, afirmou que "muitos médicos e associações" não estão usando a ciência para tratar os pacientes em meio à pandemia.
"Infelizmente, mesmo que bem intencionados, ainda há uma porção muito grande de médicos e associações que estão com a certeza de que estão fazendo o melhor pelos seus pacientes, mas não estão usando a ciência que conquistamos nos últimos 200 anos", lamentou.
Segundo a especialista, vários medicamentos presentes no chamado "kit covid" já tiveram suas eficácias desmentidas, se tornando perigoso profissionais da saúde receitar esses medicamentos em um "momento onde as pessoas estão desesperadas e com medo".
"Não é que não existem evidências ainda sobre esses componentes, é que já existem evidências que esses medicamentos não funcionam para o tratamento da covid-19", garantiu.
A senadora Zenaide Maia (Pros/RN) lamentou que a entidade "mantenha a mesma opinião sobre o kit, mesmo sabendo que vários estudos científicos comprovam a ineficária dos medicamentos".
"Medicina não é achismo. Se não está na bula, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não autorizou e a ciência não autorizou. Mas pelo que eu senti, o CFM vai manter a permissão quando, na verdade, deveria dizer que não existe eficácia comprovada", disse a parlamentar, que também é médica.
Em resposta, o vice-presidente Donizetti Dimer defendeu a autonomia do profissional de saúde em receitar os remédios. Ele afirmou que "cabe ao médico decidir o risco e o benefício" do medicamento.
Também na reunião, a senadora Kátia Abreu (PP/TO) comparou as posições do conselho a Pôncio Pilatos, governador romano que condenou Jesus Cristo à morte.
"Vocês (do CFM) lavaram as mãos. Poderiam ter dado uma grande contribuição ao país, mas não deram. Preferiram obedecer a burocracia. Enquanto isso, morrem quase 400 mil pessoas no Brasil", declarou.