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'Autonomia não é indicar remédio ineficaz', diz AMB após banir cloroquina

César Eduardo Fernandes criticou o uso de remédios não eficazes contra o novo coronavírus - Divulgação/AMB
César Eduardo Fernandes criticou o uso de remédios não eficazes contra o novo coronavírus Imagem: Divulgação/AMB
do UOL

Colaboração para o UOL, no Rio

25/03/2021 09h16Atualizada em 25/03/2021 13h50

O presidente da AMB (Associação Médica Brasileira), o ginecologista César Eduardo Fernandes, disse hoje que a autonomia do médico no atendimento a pacientes com o novo coronavírus não pode ser confundida com liberdade. A fala do médico acontece um dia depois de a entidade pedir a suspensão de uma série de remédios, como a cloroquina e ivermectina, no tratamento da covid-19.

"A autonomia do médico não pode ser confundida com liberdade. O médico tem que ter autonomia entre as opções (de tratamento) eficazes para optar por aquele que pode ser mais benéfico ao paciente. Autonomia não significa liberdade para o médico fazer aquilo que quer, inclusive para receitar medicações que são ineficazes", destacou o médico, em entrevista à GloboNews.

O ginecologista reforçou a necessidade da prescrição de tratamentos eficazes contra a doença. Para ele, esse assunto não deveria ainda estar em debate no país.

"As opiniões dos médicos, gestores de saúde, de cada um de nós, deve ser uma opinião responsável e clara. Não podemos ter dubiedade na nossa fala, porque confundimos a população e confundimos inclusive os nossos colegas", defendeu.

O presidente da ABM falou também da frustração dos pacientes nos consultórios ao não verem a indicação de um medicamento para tratar uma infecção pelo novo coronavírus. Ele deixou claro que caso surja algum remédio com comprovação eficácia contra a doença, a associação irá indicar seu uso.

"Não teremos dificuldade nenhuma se adiante aparecer um fármaco, e torço para que isso aconteça (...) Não tenho prazer nenhum em dizer que esses fármacos (cloroquina/hidroxicloroquina e ivermectina) não funcionam. Quando você atende um paciente que te pede orientação, porque foi diagnosticado com covid, os médicos ficam extremamente frustrados (por não terem remédio para receitar)", lamentou.

Apesar de não ter comprovada sua eficácia contra a covid-19, a cloroquina é um dos medicamentos defendidos pelo presidente Bolsonaro (sem partido) como tratamento da doença desde o início da pandemia.

Ataques

O médico afirmou ainda haver uma politização a partir das opiniões emitidas pela AMB. Ele enfatizou que a associação não tem corrente ideológica e criticou a polarização política existente no país.

"Nós da AMB não temos corrente política, partidária ou ideológica. Nosso partido é o partido da boa assistência médica, da boa assistência ao paciente e à população de um modo geral. É isso que nos move e que as nossas notas procuram dizer, sempre em cima da ciência. Entre a ciência e a política, quem tem que fazer concessões é a política", disse.

O ginecologista conta que é atacado até por outros médicos pela posição que defende. Ele disse que já foi chamado de "esquerdopata" por causa da postura adotada pela ABM.

"Ninguém ameaçou a minha integridade ou fez ataques a minha família, mas são ataques cruéis. Eu os rotularia de sanguinolentos, tão cruéis que são, mas isso a gente exerce uma resiliência. Tenho convicções muito solidas estabelecidas, que são embasadas e suportadas pela sociedade de especialistas que compõem a Associação Médica Brasileira, especialmente aqueles que estão mais vocacionados para o enfrentamento dessa guerra terrível com esse inimigo invisível que é a covid-19", esclareceu.

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