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15 milhões de brasileiros não fazem 3 refeições, diz porta-voz da campanha "Tem gente com fome"

25/03/2021 15h21

A campanha nacional de arrecadação de fundos para ações emergenciais de enfrentamento à fome, à miséria e à violência na pandemia "Tem gente com fome" foi lançada no dia 16 de março e pretende atingir 222.895 famílias em todas as regiões do Brasil, mapeadas por organizações como a Coalizão Negra por Direitos, a Redes da Maré e a Anistia Internacional. Em entrevista à RFI, o professor e articulador Douglas Belchior, porta-voz do projeto, explica que a iniciativa vai "muito além da distribuição de cestas básicas", dando apoio a territórios onde há lideranças organizadas em redes sociais.

[Para assistir a entrevista na íntegra, clique no vídeo na imagem acima]

Após décadas,o Brasil está no caminho de voltar a integrar o mapa mundial da fome. São mais de 39 milhões de pessoas vivendo na miséria,14 milhões em situação de extrema pobreza e cerca de 14 milhões de desempregados, segundo os dados de 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e do Ministério da Cidadania. Tudo isso, no meio de uma gigantesca pandemia que acaba de alcançar 300.000 vítimas fatais no país.

"Vivemos um momento muito triste da história do Brasil", diz Douglas Belchior, professor, articulador e porta-voz da campanha "Tem gente com fome". "A pandemia arrasa o Brasil e afeta acima de tudo a população negra, aquela que tem menos acesso à saúde e tratamento, a que morre mais de Covid. E no caso das vacinas, a população negra representa menos da metade dos brancos já vacinados", denuncia. 

Assista o clip feito por artistas e colaboradores da campanha "Tem gente com fome":

As doações, que podem ser feitas em ambiente seguro no site "Tem gente com fome" por transferência bancária, Pix, Paypal e até depósitos internacionais, serão revertidas em alimentos, produtos de higiene e de limpeza. "Por meio da ação permanente nos territórios onde as organizações da Coalizão Negra atuam, a ideia é também estimular a formação de mutirões de solidariedade, grupos de pessoas dispostas a atuar na entrega das cestas básicas, de EPIs e material de higiene, na organização e acompanhamento das famílias para locomoção de idosos para vacinação, mobilização para defesa e conscientização sobre lockdown".

"Temos milhões de famintos. Hoje no Brasil já são quase 15 milhões de pessoas que não conseguem fazer três refeições diárias. Já foi comprovado pelas pesquisas oficiais o aumento da fome", lembra Belchior. "Como o governo federal e os governos estaduais de recusam a oferecer um auxílio, um apoio governamental que dê conta de resolver ou de amparar os mais pobres, os movimentos sociais têm se colocado na obrigação de atuar em campanhas de apoio humanitário, de distribuição de alimentos", conta.

"O movimento negro brasileiro, através da Coalizão Negra por Direitos, que é uma aliança nacional, organizou desde o ano passado campanhas regionais de apoio humanitário para bairros de maioria negra", diz. "Esse ano, construímos uma ação coletiva nacional, que é essa campanha, que em uma semana já arrecadou R$ 3,5 milhões. É bastante dinheiro, mas é pouco para a meta que temos de atender 223 mil famílias em todo o país, por pelo menos três meses", conclui Douglas Belchior.

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