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Observatório mostra que Brasil está distante de meta de recuperação de florestas

18/03/2021 07h22

Uma nova plataforma online promete acompanhar, com imagens de satélite reunidas de diversos parceiros, o andamento da recuperação das florestas desmatadas nos biomas do Brasil: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal e Pampa. O Observatório da Restauração e Reflorestamento mostra o quanto o país está distante de cumprir as suas promessas sobre o tema no Acordo do Clima de Paris.

A iniciativa é de pesquisadores, representantes do agronegócio e organizações brasileiras e internacionais, reunidos na respeitada Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, além de governos. A ferramenta mapeou, até o momento, mais de 79 mil hectares de florestas restauradas no país. O número parece alto, mas ainda resta um longo caminho para o Brasil atingir os 12 milhões de hectares de florestas recuperadas até 2030, conforme previsto no acordo.

Os dados da ferramenta estão incompletos e subestimados, adverte Marcelo Matsumoto, pesquisador associado do World Resources Institute (WRI) no Brasil. "A gente olha na base de dados e vê que a Mata Atlântica é a que melhor tem alcance em termos de metas, porque o projeto de restauração ocorre há mais tempo no bioma e com maiores casos de sucesso", afirma Marcelo. "Sabemos também que na Amazônia tem uma área muito grande, de em torno de 100 mil hectares, que ainda não está espacializada. Estamos querendo trazer esses dados para a plataforma para que eles sejam o mais próximo da realidade possível."

Reflorestada até quando?

Os satélites registram ainda 9 milhões de hectares reflorestados e quase 11 milhões regenerados naturalmente. Marcelo explica que nas imagens de áreas de regeneração natural, nem sempre é possível identificar se houve alguma intervenção para reerguer a floresta. Além disso, não há garantias de que a recuperação será de longo prazo.

"Um estudo recente mostrou que tem um processo de substituição da vegetação secundária - ou seja, que foi cortada e voltou - em que ela não se perpetua no longo prazo. É um fenômeno que a gente não tem certeza, principalmente na região da Amazônia", explica. "Se você olhar o conjunto todo, na Amazônia, que representa a maior área em regeneração natural, é bem provável que esse ciclo esteja ocorrendo. As florestas mais velhas eventualmente não permanecem."

Estes dados, portanto, não podem ser contabilizados na meta brasileira - ou, pelo menos, integralmente. O pesquisador da WRI Brasil observa ainda que as florestas recuperadas jamais voltarão a oferecer a mesma riqueza em biodiversidade de antes de serem derrubadas.

"Tem toda uma lógica que, por trás, não está necessariamente bem representada nos dados. Embora a gente tenha um número maior de regeneração, não significa que todo o processo ecológico, da biodiversidade, está se mantendo naquela área", destaca. "Tem que tomar muito cuidado com esses números. A gente trouxe eles porque são informações importantes, principalmente para estabelecer políticas públicas para garantir que essas áreas permaneçam no futuro", diz Marcelo.

Dados dispersos

O observatório é também uma oportunidade para o país mostrar que não apenas destrói o seu patrimônio natural, ao contrário do que os dados sobre o desmatamento da Amazônia indicam. Mesmo assim, o governo federal, apontado por especialistas e ambientalistas como o maior responsável pelo aumento da devastação vista nos últimos anos, pouco contribuiu para ampliar a base de dados da plataforma. O Ibama participa da iniciativa, mas não o Serviço Florestal Brasileiro, ligado ao Ministério da Agricultura.

"Governos estaduais, no caso São Paulo e Espírito Santo, forneceram bases de dados, inclusive para mostrar que têm ações dos programas deles ocorrendo. Por mais que tenha esse aspecto de os governos quererem mostrar que estão bem na foto, há uma filtragem. Precisa ter algum instrumento que oficialize que aquela área está em processo de regeneração", aponta o pesquisador. "E um outro ponto importante do observatório é que ele dê visibilidade para quem está fazendo ações no chão."

Existem diversas iniciativas locais, em pequena escala, que acabam não sendo contabilizadas. A expectativa é de que a plataforma possa auxiliar em novos projetos de recuperação, que ampliem e conectem essas áreas remotas.

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