Sem rei Juan Carlos I, Espanha lembra 40 anos do frustrado golpe de 1981
Madri, 23 Fev 2021 (AFP) - A Espanha relembra, nesta terça-feira (23), o 40º aniversário do frustrado golpe de Estado de 23 de fevereiro de 1981, um evento que cimentou sua democracia, com a notória ausência de um de seus protagonistas, rei Juan Carlos I, exilado em Abu Dhabi.
Com um discurso transmitido pela televisão de madrugada, com o uniforme de comandante das Forças Armadas, o então jovem monarca chamou à ordem os militares sublevados e se confirmou como um baluarte da incipiente democracia espanhola.
"Sua firmeza e sua autoridade foram determinantes para a defesa e o triunfo da democracia", reconheceu seu filho e herdeiro, rei Felipe VI, durante um ato no Congresso dos Deputados, tomado pelos amotinados 40 anos atrás.
A cúpula do governo prestigiou a cerimônia. Nela estiveram o chefe de governo, o socialista Pedro Sánchez, as presidentes das Câmaras da Casa, lideranças da oposição e membros do Poder Judiciário.
Faltou, no entanto, um de seus grandes protagonistas: Juan Carlos I, o rei que aabdicou ao trono em 2014 e vive exilado, desde agosto, nos Emirados Árabes, após as crescentes suspeitas sobre a origem pouco transparente de sua fortuna.
O ex-chefe de Estado, que meses atrás pagou quase 680.000 euros (US$ 825.000) ao fisco para evitar uma processo por lavagem de dinheiro, é alvo de até três investigações judiciais e perdeu a simpatia dos espanhóis conquistada durante a transição.
Encontra-se, inclusive afastado de seu filho que, para proteger a Coroa de seus escândalos, renunciou à herança do pai e retirou-o da dotação orçamentária da Casa Real.
- Consagração de Juan Carlos -Embora quatro décadas tenham-se passado, continua viva na memória coletiva dos espanhóis a imagem do tenente-coronel da Guarda Civil Antonio Tejero, tomando o Congresso de assalto, com pistola em punho.
Neste momento, passados seis anos da morte do ditador Francisco Franco, a Espanha transitava rumo à democracia, curso que um grupo de militares queria deter.
Do palácio de la Zarzuela, o rei Juan Carlos, então com apenas 43 anos, ligou, um por um, para os capitães-generais que dirigem as diferentes regiões do país para que respeitassem a legalidade democrática.
Já de madrugada, o rei fez um pronunciamento na televisão em apoio à democracia, vestido de capitão-general das Forças Armadas.
"A Coroa, símbolo da permanência e unidade da pátria, não pode tolerar de forma alguma ações, ou atitudes, de pessoas que pretendam interromper pela força o processo democrático", declarou.
Tejero e seus homens aceitaram, enfim, entregar-se em 24 de fevereiro ao meio-dia, libertando os deputados e ministros mantidos presos por 18 horas.
Com esse discurso, "o rei Juan Carlos I assumiu sua responsabilidade e seu compromisso com a Constituição" aprovada em 1978, afirmou seu filho, o rei Felipe VI.
mg/dbh/mb/tt
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