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Psiquiatra francês trata medo de pegar Covid-19 com realidade virtual

23/02/2021 12h35

Pioneiro no uso da realidade virtual aplicada à psicoterapia, o psiquiatra francês Eric Malbos, do hospital francês Conception, em Marselha, no sul da França, acaba de lançar o livro "Psicoterapia e Realidade Virtual", em coautoria com o psicanalista Rodolphe Oppenheimer. O método também ajuda pacientes que desenvolveram o medo patológico de contrair a Covid-19 a superar seus medos.

O livro é um guia acessível aos profissionais e ao público em geral e descreve o uso da técnica, aplicada há 18 anos. O método tem se mostrado eficaz para tratar a ansiedade, os transtornos obsessivos-compulsivos e as fobias. O programa de computador usado no tratamento foi desenvolvido pelo próprio especialista.

Com a epidemia, explicou o psiquiatra francês à RFI Brasil, houve um aumento do número de pacientes que transformaram o medo de contrair a Covid-19 em fobia. Encostar na maçaneta de uma porta, por exemplo, é um desafio para os doentes. Para tratar essa síndrome, o pesquisador, que também é designer de ambientes virtuais, criou um programa para expor as pessoas, gradativamente, a situações de risco de contaminação. O único equipamento necessário é um óculos de realidade virtual.

"Vamos expor virtualmente os pacientes, de maneira lenta e progressiva, a situações contaminantes: eles vão entrar em hospitais, se aproximar de pessoas que vomitam ou que tossem ou entrar em locais sujos, que representam um risco de contaminação pelo vírus", explica o psiquiatra francês.

De acordo com ele, alguns deles já tinham fobias e o quadro foi agravado pela epidemia. Em outros casos, as pessoas desenvolveram o temor de ficarem doentes com a epidemia. O tratamento, no total, inclui de 11 a 12 sessões. "Primeiramente fazemos cerca de cinco sessões de psicoterapia em grupo e em seguida seis ou sete de realidade virtual", detalha o psiquiatra francês.

A epidemia também piorou alguns quadros de fobia. A Covid-19 obrigou a população a adotar certos rituais, como usar máscaras, passar álcool em  gel nas mãos várias vezes por dia e adotar o distanciamento social. Essas medidas de proteção reforçaram as manias dos pacientes com transtornos obsessivos compulsivos, conta Malbos. "Alguns limpam o telefone celular com água sanitária, lavam a mão dezenas de vezes, usam luvas, limpam a maçaneta, lavam o chão duas vezes por dia, tomam banho durante uma hora e meia, todos os dias", diz.

Cerca de 80% dos pacientes têm entre 25 e 55 anos, diz o psiquiatra francês. "O pico dos transtornos ansiosos é entre 30 e 44 anos. Há poucas pessoas idosas e não vemos muito adolescentes ou de jovens adultos com esses problemas", afirma. A terapia é descrita como uma "liberação", relata o psiquiatra. Os rituais representam duas ou três horas por dia perdidas, lembra. "Os pacientes relatam ter menos ansiedade, mais vontade sair, de se aproximar das pessoas, passam menos tempo nos rituais e têm mais independência", descreve.

Os chamados pensamentos catastróficos, de que o pior sempre pode acontecer, típico da ansiedade, também são atenuados. "Essas pessoas são ansiosas porque têm pensamentos irracionais, do tipo: se eu encosto nesse saco de lixo, com certeza vou pegar a Covid-19. Não é um pensamento racional. Não é o que vai acontecer. Então nós os ajudamos a mudar sua maneira de pensar. "

Tratamento à distância

A vantagem da terapia com realidade virtual, em tempos de pandemia, é  que ela pode ser realizada à distância. Até agora, parte das sessões são feitas no hospital, mas o objetivo, diz Eric Malbos, é que os pacientes sejam cada vez mais autônomos, mesmo sendo supervisionados online por um terapeuta.

Na França, diz o especialista, o sistema público de saúde mental é parcialmente saturado, o que pode gerar problemas no acesso ao tratamento das doenças mentais. "A ideia é automatizar os procedimentos, para que o paciente possa ter acesso ao tratamento sozinho, em casa, de maneira virtual, mesmo que o terapeuta não esteja disponível", diz.

O custo cada vez mais acessíveis dos óculos virtuais, que não precisam de cabos ou computadores, também deve facilitar a vida dos pacientes, que podem solicitar a terapia mesmo estando em outros países. Um filão que deve crescer ainda mais em tempos de pandemia.

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