No livro-texto de Powell, emprego toma lugar de inflação e oferta de dinheiro perde relevância
Por Howard Schneider
WASHINGTON (Reuters) - Em uma audiência no Congresso dos Estados Unidos dominada por conversas sobre a pandemia e o que pode ser necessário para curar a economia de seus efeitos, o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, deu nesta terça-feira uma mensagem sutil para os senadores norte-americanos avaliando suas opções.
Jogue fora os livros-texto da faculdade, porque o mundo mudou.
A taxa de desemprego? Esqueça. O Fed só se preocupa com o número de pessoas que trabalham e como aumentá-lo, e não com uma estatística milenar que, com toda a sua familiaridade, ignora um grupo-chave --ou seja, aqueles que pararam de procurar trabalho durante a pandemia e precisam ser trazidos de volta.
Inflação? Não é um problema tão cedo. Questionado pelo senador democrata Mark Warner sobre a necessidade de fazer "um investimento considerável" na infraestrutura dos Estados Unidos, Powell deixou de lado preocupações clássicas de fortes empréstimos do governo elevarem os preços e respondeu: "isso não é um problema para este momento, pelo que posso ver".
A oferta de dinheiro? Não mais relevante, Powell, de 68 anos, disse ao senador republicano John Kennedy, 69, sobre medidas outrora importantes de dinheiro e liquidez que foram foco central do Fed no passado.
"Quando você e eu estudamos economia, um milhão de anos atrás, o M2 e os agregados monetários pareciam ter uma relação com o crescimento econômico", disse Powell, referindo-se a uma medida principal do dinheiro em poder do público. "No momento... O M2... não tem implicações importantes. É algo que temos que desaprender, acho."
Tem havido muito desaprendizado nestes dias no Fed e na academia econômica, em tudo desde relações econômicas básicas até os riscos --ou não-- de montanhas de dívidas governamentais. Mesmo antes da pandemia, o banco central estava reavaliando uma de suas ideias centrais --a de que, quando a taxa de desemprego estivesse baixa, a inflação estaria alta, e vice-versa.
A ideia levou banqueiros centrais do passado a se preocupar sempre que a taxa de desemprego caía abaixo de um certo ponto e a começar a ansiar por aumentos das taxas que desacelerariam a economia e evitariam a inflação que se aproximava. A mesma ideia também empurrou pessoas para fora do mercado de trabalho.
Esse conceito foi jogado ao mar a partir de agosto: o que quer que impulsione a inflação, concluiu o Fed --e há muita discordância sobre o que é--, uma baixa taxa de desemprego não é mais considerada parte disso.
A própria taxa de desemprego pode até ter ficado ultrapassada. Ela mede o número de pessoas trabalhando dividido pelo número dos que trabalham ou procuram trabalho. Assim, não conta pessoas fora do mercado de trabalho --aposentadas, por exemplo--, mas também, e de forma mais preocupante, mulheres que abandonaram a carreira para cuidar da família durante a pandemia.
Quando o Fed considera sua meta de pleno emprego hoje em dia, Powell disse: "não nos referimos apenas à taxa de desemprego, mas à taxa de emprego", medida em relação à população como um todo e aspirando a "altos níveis de participação".
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