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Além da covid: as máscaras que os moradores de Londres já usaram no passado

Bethan Bell - Da BBC News

23/02/2021 14h26

Usar máscara de proteção tem sido classificado como 'novo normal' da pandemia. Para os moradores da capital britânica, o acessório de proteção pode ser normal, mas não é nada novo. Ao longo da história, os londrinos já tiveram que se esconder atrás de máscaras para se proteger da poluição, da guerra e de outras pandemias.

Antes limitada a poucos grupos, o uso de máscaras em público agora é comum o suficiente para ser apelidado de "novo normal".

Pode ser normal, mas não é novo.

Da Peste Negra à poluição, do tráfego de automóveis à ameaça de ataques de gás, as coberturas faciais têm sido usadas pelos habitantes de Londres nos últimos 500 anos.

Embora as primeiras máscaras fossem usadas como disfarce, colocar uma proteção no rosto remonta pelo menos ao século 6 a.C. Imagens de pessoas usando panos sobre a boca foram encontradas nas portas de tumbas persas.

De acordo com Marco Polo, os servos na China do século 13 cobriam o rosto com lenços de tecido, pois o imperador não queria que o hálito afetasse o cheiro e o sabor de sua comida.

Poluição

A Revolução Industrial do século 18 ajudou a criar uma infame poluição atmosférica em Londres, conhecida como "smog", que aumentava à medida que mais e mais fábricas expeliam fumaça e as famílias mantinham seus fogões a carvão acesos.

Foram muitos os invernos com grossas mantas de fumaça amarelo-acinzentada cobrindo a capital da Inglaterra.

O pior episódio ocorreu em 1952, quando entre 5 e 9 de dezembro, pelo menos 4.000 pessoas morreram em virtude da poluição, e estima-se que mais 8.000 tenham morrido nos meses seguintes.

O que é 'smog'?

A chamada smog é uma combinação de fumaça e névoa. Ocorre quando o tempo frio prende o ar estagnado sob uma camada de ar quente.

As baixas temperaturas também levavam as pessoas a queimar mais carvão, criando fumaça.

Quando não há vento suficiente para soprar a fumaça, ela se combina com partículas de fuligem de alcatrão, dando à poluição a sua cor amarelo-escura.

A smog pode agravar problemas respiratórios e cardiovasculares e causar irritação nos olhos.

Outras 1.000 pessoas morreram vítimas da poluição em dezembro de 1957, e outro episódio em 1962 resultou em 750 mortes.

A fumaça era tão densa que os trens não podiam circular, e houve até relatos de gados que morreram sufocados enquanto estavam nos campos.

Na década de 1930, as máscaras "antipoluição" tornaram-se vestimentas obrigatórias na cidade.

O Clean Air Acts (legislação para diminuir a poluição), de 1956 e 1968, proibiu a emissão de fumaça escura de chaminés, estabeleceu limites para as emissões de areia e poeira das fornalhas e forneceu uma estrutura para o controle da altura e posição das chaminés.

A poluição do ar, embora não esteja mais em níveis altos, continua sendo um problema em Londres.

Em dezembro, a Justiça londrina concluiu que a poluição "contribuiu materialmente" para a morte de Ella Adoo-Kissi-Debrah, de 9 anos, que morava perto da South Circular Road, uma estrada no bairro de Lewisham. Ela morreu em 2013, após um ataque de asma.

Praga

Foi a Peste Negra ? uma praga que varreu a Europa no século 14, matando pelo menos 25 milhões de pessoas entre 1347 e 1351 ? que pressagiou o advento da máscara de uso médico.

Os teóricos acreditavam que a doença se espalhava pelo ar, envenenado e criando um desequilíbrio nos fluidos corporais de uma pessoa. Os médicos tentaram impedir que aquele ar contaminado, ou o chamado "miasma", alcançasse as pessoas: a solução foi cobrir o rosto e o nariz.

O garoto-propaganda da peste, aquela vestimenta sinistra que mistura máscara com o bico de um corvo, não apareceu até os últimos estertores do surto, em meados do século 16.

Perfumes e especiarias ainda eram usados como "remédio" ?e o "bico" surgiu como um recipiente para encher de ervas e aromáticos com o objetivo de neutralizar o chamado miasma.

Pesados ??robes de couro, grossas coberturas de vidro para os olhos, luvas e chapéus faziam parte das roupas de proteção usadas pelos médicos que tratavam de pacientes durante a Grande Peste de 1665.

Tráfego

Na Londres vitoriana, senhoras bem-educadas ? especialistas em cobrir a pele e sempre ansiosas por vestir qualquer adorno na cor preta ? começaram a prender véus em seus chapéus.

Embora usado durante o luto, o papel do véu não era exclusivamente fúnebre. Também ajudava a proteger o rosto da mulher do sol, da chuva e de poluentes, bem como da sujeira e da poeira transportadas pelo ar.

De acordo com a Transport for London (órgão que administra o transporte em Londres) e a universidade Kings College, a maior causa da poluição do ar na cidade atualmente é o tráfego de automóveis. As emissões, incluindo óxidos de nitrogênio e minúsculas partículas de borracha e metal, são lançadas no ar de maneira ininterrupta.

Véus frágeis, como os usados ??pelas mulheres motoristas no início do século 20, não conseguem filtrar esses elementos tóxicos.

Ver ciclistas usando máscaras antipoluição enquanto circulavam pela cidade era comum muito antes da pandemia de coronavírus. Motoristas com máscaras, nem tanto.

Gás

A ameaça de uma segunda guerra mundial, 20 anos após a primeira ter utilizado o cloro e o gás mostarda, fez com que o governo britânico distribuísse máscaras de proteção tanto para as pessoas comuns quanto para os militares.

Em 1938, 35 milhões de respiradores haviam sido distribuídos. Naquela época, eles passaram a ser comuns em vários segmentos do cotidiano londrino, incluindo entre dançarinas de cabaré e policiais ciclistas, que os usavam como parte de seu equipamento de proteção individual.

Até os animais tinham suas próprias máscaras: camelos e cavalos receberam cobertura facial.

Gripe espanhola

Um surto de gripe no final da Primeira Guerra Mundial tornou-se uma pandemia global devastadora. Ela foi apelidada de gripe espanhola porque os primeiros casos foram notificados na Espanha. Cerca de 50 milhões de pessoas morreram em decorrência da doença.

Acredita-se que a disseminação do vírus tenha sido agravada pela chegada dos soldados que haviam retornado das trincheiras no norte da França.

Tropas amontoadas em vagões de trem e caminhões faziam que a infecção altamente contagiosa passasse de um homem para outro.

Em seguida, espalhou-se das estações ferroviárias para o centro das cidades, depois para os subúrbios e para o campo.

Empresas, incluindo a London General Omnibus Co, tentaram impedir a disseminação do vírus borrifando solução anti-gripe em trens e ônibus e fazendo seus funcionários usarem coberturas faciais.

O jornal The Nursing Times, em 1918, incluiu conselhos para conter a doença: descreveram como as freiras da enfermaria St Marylebone, em Londres, haviam erguido divisórias desinfetadas entre as camas da enfermaria e obrigado médicos, empregados ou auxiliares de enfermagem que entrassem no local a usar máscara e macacão.

As pessoas comuns eram instadas a "usar uma máscara para salvar suas vidas" ? muita gente usou gaze ou adicionou gotas de desinfetante em engenhocas colocadas embaixo do nariz.

Fama

Outro tipo de máscara surgiu nos últimos tempos ? uma que atende à necessidade de proteger o rosto do olhar fulgurante de fãs ávidos (e presumivelmente, inimigos).

Elas são perfeitas para celebridades que querem chamar a atenção para si mesmas, mantendo a negação plausível de "Não quero ser reconhecido, é por isso que estou usando uma máscara".

Ainda não se sabe como as celebridades estão lidando com o fato de pessoas normais ? e não mais só as famosas ? encobrindo seus rostos normais e não famosos, agora que esconder a face se tornou uma obrigação sanitária.

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