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Ataques de Bolsonaro à China prejudicam vacinação contra a Covid-19 no Brasil

26/01/2021 04h46

O jornal Les Echos desta terça-feira (26) traz uma matéria sobre as consequências dos ataques do governo brasileiro à China. As críticas frequentes do presidente Jair Bolsonaro contra Pequim estão prejudicando a campanha brasileira de vacinação contra a Covid-19, avalia o diário. 

"O Brasil paga caro por sua animosidade em relação à China", diz uma manchete do jornal Les Echos. Segundo o correspondente do diário em São Paulo, Thierry Ogier, Pequim está deixando bem claro seu desacordo sobre a "propaganda antiChina de Jair Bolsonaro". 

O diário explica que, após uma longa negociação com a Índia, o Brasil vai finalmente receber 2 milhões de doses da vacina Covishield, produzida pelo laboratório indiano Serum e o britânico Astrazeneca, que estavam bloqueadas há vários dias. O Brasil também dispõe de 10 milhões de doses da Coronavac, da empresa chinesa Sinovac, mas a China está hesitante em enviar ao país mais doses do imunizante. 

O motivo: as frequentes críticas de Bolsonaro contra a vacina chinesa, que afirma ter baixa qualidade. Les Echos lembra que, na última sexta-feira (22), o presidente brasileiro declarou que nada prova que esses imunizantes têm eficácia contra a Covid-19. As afirmações de Bolsonaro contrariam o parecer da própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil (Anvisa), que atestou, em 17 de janeiro que a CoronaVac tem 50,39% de eficácia e a Covishield, 70, 42%. 

A matéria salienta que o governo chinês também não digeriu até hoje as acusações do filho do presidente brasileiro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que responsabilizou o governo chinês pela expansão da pandemia no ano passado. Na época, a embaixada da China no Brasil reagiu, afirmando que, em viagem que havia feito recentemente aos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro, "próximo da extrema direita trumpista", havia contraído um "vírus mental". 

Atitude de Bolsonaro é "chocante"

Entrevistado pelo Les Echos, Mathias Alencastro, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), afirma que a atitude de Bolsonaro dentro deste conflito explícito com o governo chinês é "chocante". Segundo a Sociedade Brasileira de Imunologia, há um sério risco de que a campanha de vacinação no Brasil seja interrompida. "Estamos muito preocupados, a ponto de nos perguntar como continuaremos a imunização, quando não temos nem vacinas disponíveis nem consenso político sobre a questão", salienta Alencastro.

"Mas isso não é tudo", reitera Les Echos. Erros estratégicos foram cometidos pelo governo brasileiro, aponta Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas. Em julho de 2020, o governo chinês convocou os países latino-americanos para discutir e ofereceu uma linha de crédito de cerca de US$ 1 bilhão. O Brasil não enviou nem mesmo um representante a essa reunião, conclui o jornal Les Echos desta terça-feira. 

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