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Covax, uma boa ideia da OMS que colide com o nacionalismo em termos de vacinas

22/01/2021 09h44

Genebra, 22 Jan 2021 (AFP) - O mecanismo Covax da OMS para fornecer vacinas anticovid a países desfavorecidos vai contra o nacionalismo, mas pode ser fortalecido pela decisão dos Estados Unidos de aderir ao programa.

Os países ricos lançaram suas campanhas de vacinação no final de 2020, mas dezenas de nações em desenvolvimento que recorreram ao dispositivo da Organização Mundial da Saúde não terão acesso às primeiras doses antes de fevereiro, na ausência de vacinas disponíveis.

O Covax garante a vacinação de 20% da população mais vulnerável (profissionais da saúde e doentes) em todos os países participantes.

E também, o que é mais interessante, o mecanismo Covax AMC financia vacinas para 20% da população dos 92 países pobres que fazem parte do mecanismo.

- Solidariedade mundial"Velocidade e disponibilidade em larga escala de vacinas são uma necessidade para acabar com a pandemia", declarou no início do mês a candidata nigeriana à chefia da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, no site Project Syndicate.

"Este esforço extraordinário é possível graças a um impulso sem precedentes na solidariedade global e apoio multilateral ao Covax", acrescentou.

Este dispositivo central para acesso global à vacinação contra a covid-19 foi lançado em junho pela OMS e pela Aliança para a Vacinação Gavi, que Okonjo-Iweala liderou anteriormente.

É inspirado por mecanismos que facilitaram o acesso universal e equitativo às vacinas contra o pneumococo e o vírus ebola.

Ao garantir a compra de um determinado volume de vacinas antes de sua homologação e oferecendo garantias de mercado, o mecanismo Covax busca estimular os laboratórios farmacêuticos a investirem em suas capacidades de produção, para garantir que a fabricação seja acelerada antes da aprovação das vacinas e não mais tarde.

- Quais vacinas?O Unicef, que gerencia a logística de vacinação da ONU, é o principal braço da estratégia do Covax no terreno, preparando-se para transportar até 850 toneladas de vacinas por mês.

A OMS já assinou acordos com vários laboratórios: Novavax, Sanofi-GSK, Johnson & Johnson, que ainda não foram autorizados pelas autoridades nacionais, e com AstraZeneca.

Os contratos cobrem cerca de 2 bilhões de doses. Além disso, um montante de 1 bilhão de doses suplementares é proposto à OMS como prioridade até o final de 2021, no âmbito do mecanismo Covax, do qual participam 190 países, incluindo 92 com recursos baixos e médios.

Por enquanto, a entidade validou apenas uma vacina, a da dupla BioNTech/Pfizer, autorizada por vários países, e espera tomar uma decisão no final de fevereiro com a da Moderna, que também recebeu certificação de diversos órgãos reguladores da saúde.

A OMS está em negociações com a Pfizer e a Moderna para obter suas doses e espera garantir os primeiros lotes em fevereiro.

- "Prudência"No entanto, o fornecimento das vacinas depende de vários fatores, como aprovações regulatórias e preparação dos países.

O sucesso desse projeto colossal também dependerá dos recursos recebidos.

Em 2020, o mecanismo Covax atingiu sua meta urgente de arrecadação de fundos de US$ 2 bilhões. Mas pelo menos US$ 4,6 bilhões adicionais serão necessários este ano para adquirir as doses, US$ 800 milhões para pesquisa e US$ 1,4 bilhão para distribuição de vacinas.

A OMS espera distribuir 145 milhões de doses em todo o mundo no primeiro trimestre.

Mas suas previsões são feitas com "prudência", alertou na terça-feira Bruce Aylward, que dirige o programa em que o Covax está inscrito.

O dispositivo "está pronto" para fornecer as doses, mas "isso só pode ser feito com doses garantidas da vacina à medida que avançamos", disse ele em uma reunião em Genebra.

O retorno dos Estados Unidos à OMS, com Joe Biden na Casa Branca, dará um novo impulso financeiro ao programa Covax, até então ignorado por Donald Trump.

Mas o nacionalismo na questão das vacinas é denunciado muitas vezes pela OMS, porque teme que os países ricos monopolizem todas as doses.

Ao ponto de o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pedir no início de janeiro aos países ricos que acabassem com os "acordos bilaterais" com as empresas farmacêuticas, para dar prioridade ao Covax.

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