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Ceagesp, empresa federal comandada por ex-chefe da Rota, dá desconto a PMs

do UOL

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Chapecó (SC)

13/01/2021 20h13

Policiais militares passaram a ter desconto a partir desta quarta-feira (13) em compras de alimentos na empresa pública federal Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), que vende principalmente frutas, verduras, legumes e peixes.

O local é chefiado pelo coronel Ricardo Mello Araujo, que já foi comandante da Rota (unidade de elite da Polícia Militar de SP). Ele foi indicado ao cargo pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Na semana passada, o presidente havia anunciado o benefício, confirmado agora pela direção da unidade. "É uma forma de prestigiar a classe dos policiais militares", declarou Bolsonaro.

Percentual de desconto varia

Apesar do anúncio, há ainda divergências em relação ao percentual de abatimento nas compras dos PMs. Bolsonaro e a própria companhia afirmaram que o desconto é a partir de 20%, mas o sindicato dos permissionários afirma que o índice é "variável" por banca.

O desconto ocorrerá somente em varejões e em determinadas bancas, segundo a Ceagesp. Entretanto, o diretor-presidente do Sincaesp (Sindicato dos Permissionários em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo), Cláudio Simões Furquim Leite Júnior, observou que o abatimento também será aplicado no atacado.

Desconto não é obrigatório

Para obter o benefício, os PMs devem estar fardados ou apresentarem identidade funcional. A Ceagesp informou que 33 das 53 barracas do varejão de quarta-feira vão conceder o desconto, porém não se sabe ao certo quantas bancas vão aderir aos finais de semana.

Em nota, o coronel Ricardo Mello Araujo, presidente da Ceagesp, disse que o desconto "não é uma imposição para ninguém e jamais seria" e que ocorrerá em barracas de "comerciantes que decidiram oferecer (o abatimento)". "Trata-se de um projeto-piloto na Ceagesp, e nossos votos são para que, futuramente, outras categorias tão importantes quanto esta, também sejam beneficiadas", afirmou o oficial.

Segundo o coronel, a iniciativa pretende valorizar os PMs. "O desconto nas compras é uma forma de agradecer pela ajuda que o entreposto de São Paulo tem recebido. Uma maneira de ajudar quem muito tem nos ajudado com a segurança do local."

20% de desconto é muito?

Leite Júnior, do sindicato dos permissionários, disse que não há um acordo com a direção da companhia e que "desconhece" o índice de 20% anunciado pela Ceagesp. "Nosso segmento trabalha com rentabilidade extremamente reprimida. Existe uma boa vontade de parte das empresas de atender à população, tanto atacado quanto varejo. Mas esse desconto aos PMs é variável, conforme a banca."

O presidente da Apesp (Associação dos Permissionários do Entreposto de São Paulo), Nivaldo Comin, também afirmou que não há definição sobre percentual de desconto. "É uma boa ideia, mas no momento não há nada certo. Este percentual é muito alto para nós, nesse momento em que estamos em grandes dificuldades, todo mundo tentando sobreviver. Tivemos uma redução média de 70% no faturamento devido à crise que vem se arrastando desde o ano passado. É uma ideia, apenas."

"Medida populista", diz economista

Para o professor de economia da UFPR (Universidade Federal do Paraná), José Guilherme Vieira, a concessão de benefícios à categoria pode ser encarada como mais uma forma de Bolsonaro agradar a base eleitoral.

"A gente precisa lembrar da origem do capitão do Exército, que tem sua base de apoio nos militares. Isso me preocupa, pois parece que vem com um conjunto de outras coisas que estão sendo feitas para a PM. Existem propostas de emendas constitucionais para tirar poder dos governadores sobre a PM. Bolsonaro volta aos velhos tempos de fazer lobby para uma categoria. Isso é uma medida populista", afirma o pesquisador.

Ele disse que os PMs ficam em vantagem em relação em outras categorias. Além disso, há um gasto. "O desconto para a PM é um subsídio, existe custo, não há almoço grátis. Alguém vai pagar, sempre que há gratuidade, o custo é pago pelos demais", declara.

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