Venezuela: Maduro deve reconquistar Parlamento em eleições no domingo
Mais de cinco milhões de venezuelanos vão às urnas neste domingo (6) para escolher os novos representantes do Parlamento. Mesmo com o aumento dos casos da covid-19, o presidente Nicolás Maduro flexibilizou a quarentena em dezembro para realizar a eleição e tentar eleger a maioria dos deputados.
O Parlamento é o único dos três poderes que ainda é comandado pelos opositores ao governo.
Entre os mais de 14 mil candidatos, serão eleitos 277 deputados, que tomarão posse em janeiro de 2021. O pleito, considerado uma fraude pela oposição, terá a participação de observadores internacionais da Rússia.
Os candidatos também não convencem os eleitores: políticos aliados ao governo, com propostas rasas e uma oposição sem credibilidade. Para chegar aos locais de votação, o povo terá que enfrentar a covid-19, a falta de gasolina, os altos preços das passagens e a precariedade do transporte público.
Segundo o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), entre os candidatos há nomes conhecidos do chavismo, como o de Diosdado Cabello e o da primeira-dama Cília Flores. A novidade é a candidatura de Nicolás Maduro Guerra, o filho de Maduro.
Na campanha, ele usa o nome Nicolás Ernesto, para manter a distância do pai, cujo índice de rejeição popular supera 80% de acordo com uma pesquisa divulgada recentemente.
Já Nicolás Maduro, apesar de não ser candidato, participa quase diariamente de atos de campanha. Para combater o que chama de "mentiras e ataques", ele participou na noite desta quinta-feira de um debate com um jornalista de canais favoráveis ao governo.
O presidente venezuelano afirmou "ter fé que a responsabilidade direta desta nova Assembleia ajudará na reconstrução da economia nacional. A Venezuela precisa recuperar sua renda e riqueza", declarou.
Para garantir melhorias na qualidade de vida da população, Maduro, que está no poder desde 2013, pede à população que não deixe de ir às urnas. "Se você quer a recuperação do país, dos salários é preciso votar", declarou.
O pleito tem outros objetivos: nas palavras ddo presidente venezuelano, as eleições servirão para "tirar os ratos da Assembleia Nacional", que é a maneira como ele se refere à atual maioria opositora no parlamento venezuelano.
Acusações de fraude
A oposição e parte da comunidade internacional consideram a votação como uma "fraude eleitoral" pelas condições e garantias oferecidas pelo Conselho Nacional Eleitoral e pelos "ajustes" implementados pelo Tribunal Supremo de Justiça em vários partidos opositores.
Além disso, o Parlamento passará de 167 para 277 deputados, um aumento radical para um país em crise. Com estes ajustes, a configuração do parlamento eleito, que tomará posse em janeiro de 2021, será de maioria chavista.
Comício com Covid
O aumento dos casos da Covid-19 no país não foi empecilho para que o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) realizasse nos últimos dias comícios em diversas cidades do país, inclusive na capital, Caracas.
Uma das determinações do CNE seria a avaliação das medidas propostas pelos partidos para autorizar as reuniões públicas. Para evitar a proliferação do coronavírus durante a campanha, todos os participantes deveriam usar máscara e manter o distanciamento social. Não foi o que aconteceu. Inclusive candidatos desobedeceram a regra, mas sem sanções.
Promessas de campanha
Na corrida eleitoral não podem faltar as promessas. O pastor evangélico e candidato parlamentar, Javier Bertucci, por exemplo, prometeu criar uma lei para que a população possa ganhar o salário em dólares "ou o equivalente em bolívares." Atualmente na Venezuela, a maior parte das transações é feita na moeda americana.
Já o ex-ministro de Comunicação e agora candidato, Jorge Rodríguez, garantiu que já preparou 12 leis. Elas foram propostas pela população através de "milhares" de mensagens enviadas, declarou. O candidato do PSUV disse que a meta dessas leis é "defender a família venezuelana".
Rodríguez também pede a mobilização de milhões de eleitores pars "interromper as sanções e o bloqueio" imposto pelos Estados Unidos e pelos países da União Europeia.
Os poucos candidatos da oposição que concorrem ao pleito defendem a reconciliação com os Estados Unidos para flexibilizar as sanções e fixar os salários em dólares. Atualmente o salário mínimo venezuelano, de 800 mil bolívares, é suficiente para comprar um pacote de macarrão.
Situação de Guaidó é desfavorável
A situação de Juan Guaidó não é nada favorável. Sem poder se reeleger, o opositor perderá em cinco de janeiro o cargo de presidente do Parlamento, o que impede seu reconhecimento internacional como presidente interino da Venezuela.
Guaidó também corre o risco de ser preso após a eleição. Para o chavismo, a aliança de Guaidó com o então governo de Donald Trump e o incentivo a sanções contra o governo e a empresas estatais são traições. Guiadó garante que não fugirá do país como fez Leopoldo López, seu mentor político. "Assumo o risco de ficar na Venezuela", disse.
Segundo ele, o objetivo de Maduro é ganhar legitimidade, mas "destruir a alternativa democrática na Venezuela". Um dos últimos atos do opositor, ainda aproveitando o privilegiado cargo, foi convocar para os próximos dias uma consulta popular. Sem respaldo das autoridades eleitorais, a consulta opositora acontecerá entre os dias sete e 12 de dezembro.
Guiadó garante que continuará na luta e explicou que "um dos pilares para alcançar a mudança na Venezuela é exercer a maioria e para isso é a consulta popular". Ele insiste em "manter a pressão internacional" e recuperar "a pressão popular", mas ele tem pela frente a brusca queda de sua popularidade e as fraturas internas na oposição.
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