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Mohsen Fakhrizadeh: 4 possíveis respostas do Irã ao assassinato do seu principal cientista nuclear

Forte presença de militares em funeral de Fakhrizadeh mostra que ele tinha lugar de destaque na Defesa do país Imagem: Reuters

Frank Gardner

Repórter de segurança e defesa da BBC

02/12/2020 08h07

Depois do assassinato de Mohsen Fakhrizadeh na sexta-feira (27), o mundo acompanha com atenção os próximos passos do Irã, cujo programa nuclear era liderado pelo cientista.

Fakhrizadeh foi atacado misteriosamente em uma estrada nos arredores da capital, Teerã, e na segunda-feira (30) recebeu um funeral de Estado com honras militares completas.

Nenhum grupo ou país reivindicou a autoria do ataque, mas líderes do Irã culparam Israel e juram vingança.

Então, quais são as possíveis reações do Irã ao assassinato de Fakhrizadeh?

Opção 1: acelerar o programa nuclear

Na verdade, o Irã já deu uma resposta inicial: 72 horas depois do ataque, seu Parlamento aprovou uma "aceleração" do programa nuclear civil.

Isto deve aumentar os níveis de enriquecimento de urânio, violando o que determinava o acordo nuclear Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês) ? abandonado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 2018.

Fakhrizadeh tinha um lugar de destaque na Defesa do país, como mostra a forte presença de militares em seu funeral.

Intensificar o programa nuclear é uma forma de mostrar ao mundo que as atividades nucleares do Irã podem sobreviver a este assassinato.

Embora qualquer aumento no enriquecimento levante suspeitas de que o Irã possa estar trabalhando para construir uma bomba nuclear, esta medida é, até certo ponto, reversível.

Opção 2: usar 'emissários'

O Irã financia, treina e arma várias milícias no Oriente Médio, como no Líbano, Iraque, Síria e Iêmen.

Quando drones e mísseis atingiram um complexo de processamento de petróleo na Arábia Saudita em setembro de 2019, o Irã afirmou que os disparos eram autoria de rebeldes houtis do Iêmen.

Entretanto, agências de inteligência ocidentais concluíram que se tratava de ataque iraniano, lançado como um aviso à Arábia Saudita de sua vulnerabilidade econômica.

O Irã agora tem uma série de alternativas: pode instruir o Hezbollah no Líbano ou o Hamas em Gaza a disparar foguetes contra Israel; pode fazer com que milícias xiitas no Iraque ataquem postos militares dos EUA —cada vez mais diminutos— ali; ou pode incentivar os houtis do Iêmen a atacarem a Arábia Saudita.

Mas todas essas respostas podem provocar ainda uma tréplica.

Opção 3: responder na mesma moeda

A carta mais arriscada para o Irã seria buscar o assassinato de alguma figura israelense importante, com posição análoga à de Mohsen Fakhrizadeh.

O Irã já mostrou que é capaz de realizar ataques muito além das fronteiras do Oriente Médio.

Após uma série de assassinatos misteriosos de quatro cientistas nucleares iranianos entre 2010 e 2012, amplamente atribuídos à agência de inteligência israelense Mossad, o Hezbollah, aliado do Irã, foi acusado de um ataque suicida a um ônibus cheio de turistas israelenses na Bulgária em 2012.

Anos antes, o Hezbollah e o Irã foram acusados como autores de ataques mortais a pontos de interesse israelenses na Argentina.

A Força Quds do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã tem equipes especialmente treinadas para operações secretas, incluindo assassinatos.

Mas a falha escancarada no cordão de proteção a Fakhrizadeh, cuja rota e hora exata de partida se mostrou conhecida pelos assassinos, terá sido um lembrete incômodo para o Irã das fragilidades em sua própria segurança.

O Irã também sabe que, se atingir Israel diretamente, é provável que sofra um ataque muito prejudicial em resposta.

Israel não é mais um Estado isolado e cercado por inimigos árabes. Hoje, o país está em uma cooperação cada vez mais estreita com os Emirados Árabes Unidos e Bahrein, bem como aquecendo, embora de forma velada, os laços com a Arábia Saudita.

Portanto, estrategistas militares do Irã estarão pensando cuidadosamente como dar uma resposta que recarregue o orgulho nacional, mas sem que desperte um conflito de grande escala ou um ataque aéreo devastador em sua infraestrutura militar.

Opção 4: não fazer nada

Por mais improvável que pareça, simplesmente não reagir à morte de Fakhrizadeh também está na mesa, pelo menos por enquanto.

Embora o embaixador do Irã em Londres tenha dito que os resultados da eleição presidencial dos Estados Unidos não façam diferença para seu governo, fato é que a chegada de Joe Biden à Casa Branca aumenta a probabilidade de uma reaproximação com Teerã.

No Irã, haverá vozes moderadas, especialmente no Ministério das Relações Exteriores e no empresariado, pedindo moderação, ou pelo menos uma reação tardia ao assassinato, de modo a dar a eventuais negociações futuras com a Casa Branca alguma chance de sucesso.

Biden já afirmou que quer levar os EUA de volta ao acordo nuclear que Trump abandonou. Para o Irã, isso pode significar a suspensão de sanções e o influxo de bilhões de dólares.

"A principal restrição", diz Emile Hokayem, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, "é que se o Irã atacar, corre o risco de ser incapaz de fazer um acordo com o próximo governo Biden".

O Irã também terá eleições em junho, na qual políticos linha dura esperam ter um bom desempenho. Apesar da perspectiva de uma retórica barulhenta, haverá alguma cautela quanto a passos bruscos que possam ser mal vistos e barrados nas urnas.

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