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A interminável crise do Schalke 04

Gerd Wenzel

01/12/2020 07h19

A interminável crise do Schalke 04 - O tradicional clube alemão amarga grave crise: não ganha há 25 jogos e deve fechar o ano com prejuízo de até 50 milhões de euros. A espiral descendente parece irreversível.Todo ano, antes do início de uma nova temporada da Bundesliga, a revista kicker publica uma edição especial com análises, comentários e dados estatísticos sobre todos os clubes que disputam as três principais divisões do futebol alemão. O destaque fique para a primeira liga com informações detalhadas das 18 agremiações que fazem parte da elite do esporte mais popular do planeta.

Nessa edição especial há uma página com a assim chamada tabela eterna da Bundesliga. Nela são computados todos os times que já disputaram pelo menos uma temporada e sua respectiva pontuação. Ocioso dizer que o Bayern de Munique está em primeiro lugar, com 3.769 pontos, perseguido à distância pelo Borussia Dortmund, com 2.875.

São 56 clubes que aparecem na tabela, sendo o último colocado o Tasmania Berlin, que detém um recorde negativo sem precedentes na história do campeonato. Disputou apenas uma temporada - a de 1965/1966 – e acumulou 31 partidas consecutivas sem uma vitória sequer. Foram ao todo três empates e 28 derrotas.

Pois bem. O tradicionalíssimo Schalke 04 está à pique de igualar esse recorde. A rigor, a equipe completou no último fim de semana 25 confrontos sem vencer um único jogo. A última vitória dos "azuis reais” foi festejada em 17 de janeiro do ano em curso, contra o Borussia M'Gladbach, por quem acabou sendo derrotado sábado último (28/11) por 4 x 1.

É quase um ano sem sair sorridente de campo. No futebol representa uma eternidade. A interminável crise do Schalke 04 tem pelo menos duas facetas principais.

Lanterna no campeonato

A primeira é uma crise esportiva. Na atual campanha o time segura a lanterna com três empates e seis derrotas, são apenas três pontos em nove partidas e já está no modo "luta contra o rebaixamento”. A última vez que o clube amargou um rebaixamento para a segundona foi em 1988 e por lá ficou até 1991 quando finalmente conseguiu voltar.

Fato é que o Schalke está numa espiral descendente aparentemente irreversível. O elenco é superestimado. Não há liderança em campo. O técnico David Wagner foi demitido, e seu sucessor, Manuel Baum, assumiu com a missão de por ordem na casa sem resultado visível, por enquanto.

Para piorar ainda mais um pouco a situação, dois jogadores importantes no esquema tático do novo treinador – Nabil Bentaleb e Amine Harit – foram suspensos por indisciplina, sem contar que o atacante Vedad Ibisevic terá seu contrato rescindido em dezembro por causa do seu conflito com o técnico assistente, o ex-jogador brasileiro Naldo. Vale lembrar que Ibisevic havia sido contratado em setembro para reforçar o setor ofensivo.

Os números não mentem. O setor defensivo parece um grande queijo suíço – muito buraco e pouca compactação. Já são 28 gols sofridos em apenas nove jogos. O ataque também não ajuda. Até agora conseguiu marcar apenas seis gols. Os "azuis reais” acumulam três pontinhos na tabela e estão em último lugar.

Prejuízo de até 50 milhões de euros no ano

Não bastasse o desastroso empenho esportivo, o clube também não vai bem das pernas pelo lado financeiro. Mesmo antes de surgir a covid-19, dívidas acumuladas durante os últimos anos estavam vencendo, precisando ser pagas. O estado da Renânia do Norte-Vestfália entrou como fiador junto aos bancos para garantir um empréstimo de mais de 30 milhões de euros visando garantir o pagamento de dívidas de curto prazo e pagamento de despesas inadiáveis.

O ano fiscal de 2020 deve fechar com um prejuízo de 40 a 50 milhões de euros. Se antes o clube podia contar com o aporte de vultosas somas por parte do ex-presidente bilionário Clemens Tönnies, que caiu em desgraça por declarações racistas e exploração de funcionários em seu grupo empresarial, agora não tem mais ninguém a quem recorrer. Tönnies não exerce mais nenhum cargo executivo no Schalke 04 e se dedica à reestruturação de suas empresas.

Em entrevista ao Sport1 o atual CEO, Jochen Schneider, sentencia: "A atual difícil situação financeira não tem a ver apenas com a pandemia. Durante muitos anos, altas despesas sempre foram justificadas com eventuais altos retornos. Só que, com exceção do vice-campeonato em 2018, o esperado sucesso no campo esportivo acabou não se concretizando e impactou de imediato sobre nosso faturamento. Trata-se agora de evitar o rebaixamento a todo custo”.

O rebaixamento é o fantasma que ronda o clube de Gelsenkirchen e seria uma catástrofe do ponto de vista financeiro. Nos próximos dez meses vencem dívidas no valor de 86 milhões de euros, que representam aproximadamente 50% do total de receitas para o ano fiscal.

A diretoria do clube lançou o lema Miteinander! (juntos uns com os outros) para vencer a crise e evitar o rebaixamento. Ao mesmo tempo fala em mudanças e reestruturação sem entrar em detalhes. Mais parecem slogans de marketing do que um plano substancial de ações efetivas.

Pelo andar do trem "azul real" esse tal do Miteinander! corre sério risco de não acabar bem, se os problemas apontados não forem resolvidos, e pode desembocar no seu ponto final chamado segunda divisão. Espero estar enganado.
Autor: Gerd Wenzel

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