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Indignação na França por polêmico desmantelamento de acampamento de migrantes

24/11/2020 09h35

Paris, 24 Nov 2020 (AFP) - A polícia francesa enfrentava nesta terça-feira (24) acusações de uso excessivo da força após a utilização de gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral para dispersar um acampamento informal de imigrantes no centro de Paris.

Centenas de migrantes e ativistas que montaram barracas no centro da capital da França para pedir mais refúgios de emergência foram dispersados na segunda-feira à noite pela polícia.

Após o desmantelamento do acampamento na Praça da República, entre 200 e 300 pessoas, sobretudo ativistas e poucos migrantes, seguiram para o centro da cidade, cercados por um imponente dispositivo das forças de segurança.

Após alguns minutos, as forças de segurança lançaram gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral para dispersar o grupo.

"Estamos aqui para afirmar que não vamos sair. Não queremos viver como animais, viemos apenas pedir asilo", declarou à AFP Murtaza, um afegão de 20 anos.

"São muito violentos", afirmou Shahbuddin, um afegão de 34 anos, que chorou depois de ser desalojado. "Queremos apenas um teto", completou.

Um jornalista, que se identificou como repórter, também foi imobilizado e agredido quando filmava a cena.

Depois da operação policial, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, escreveu no Twitter que "algumas imagens da dispersão do acampamento ilícito de migrantes [...] são chocantes" e afirmou que solicitou um "relatório" ao chefe de polícia.

"Tomarei decisões quando receber o relatório", disse.

As ministras da Cidadania, Marlène Schiappa, e da Habitação, Emmanuelle Wargon, pediram uma atenção imediata aos migrantes.

Na semana passada, um vídeo de migrantes obrigados a vagar pelas ruas de um subúrbio de Paris durante a madrugada e seguidos pela polícia para evitar que montassem as suas barracas já provocou uma onda de indignação de associações que condenaram uma ação "desumana".

Em um vídeo publicado nas redes sociais é possível observar migrantes, com mochilas, barracas e cobertores, caminhando pelas ruas. Atrás deles, um policial grita "Andem!".

"O Estado está apresentando um espetáculo lamentável", afirmou à AFP Ian Brossat, secretário da prefeitura de Paris para a recepção de refugiados.

"Há uma resposta policial para uma situação social. Só vamos sair desta situação se encontrarmos soluções de alojamento para estas pessoas", completou.

"Eles viram a violência policial na presença de autoridades eleitas, jornalistas, câmeras, em Paris. Imagine o que vivem os exilados isolados nas proximidades de Paris. Isso é o que vemos todas as noites", disse Kerill Theurillat, diretor da associação Utopia56, que criou o acampamento na Praça da República.

Em 17 de novembro as autoridades desmantelaram um grande acampamento nas proximidades da capital, onde viviam 2.400 migrantes. Alguns foram levados para ginásios e abrigos de emergência.

Muitos, no entanto, retornaram para as ruas.

Desde 2015 foram realizadas 65 operações de desmantelamento de acampamentos informais de migrantes na capital e seus arredores.

Embora nos últimos cinco anos o programa nacional de acolhimento de migrantes tenha duplicado as vagas, alcançando 110.000, a solução é insuficiente, pois o número de refugiados aumentado muito mais rápido.

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