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Líderes do G20 encerram cúpula sem dar garantias de vacinação em massa contra Covid-19

22/11/2020 16h03

No ano que o mundo enfrenta a maior crise sanitária do século, faltou ousadia à declaração final da cúpula dos líderes das 20 maiores economias do mundo. Os países do G20 reconheceram os desafios da economia global para o futuro próximo, afirmaram que o controle da propagação do novo coronavírus é fundamental para a retomada do crescimento, mas não esclarecem o que fazer daqui para frente para garantir a vacinação em massa da população, sobretudo nos países mais pobres. Diferentemente das nações desenvolvidas, eles ainda não têm reservadas suas doses dos antídotos que estão em fase final de estudos.

Vivian Oswald, correspondent da RFI em Londres

"A recuperação é desigual, altamente incerta e sujeita a elevados riscos de queda, incluindo aqueles decorrentes de novos surtos de vírus em algumas economias, com alguns países reintroduzindo medidas restritivas de saúde. Ressaltamos a necessidade urgente de controlar a propagação do vírus, o que é fundamental para apoiar a recuperação econômica global", diz o documento final do encontro organizado pela Arábia Saudita e encerrado neste domingo (22).

Não por acaso, a Covid-19 acabou sequestrando em boa medida a agenda da reunião, que ocorreu em formato virtual. "Mobilizamos recursos para atender às necessidades de financiamento imediatas na saúde global a fim de apoiar a pesquisa, o desenvolvimento, a fabricação e a distribuição de diagnósticos, vacinas e tratamentos seguros e eficazes contra a Covid-19", afirma o documento na única menção que faz a vacinas. Mais adiante, os líderes do G20 reconhecem "o papel da imunização extensiva como um bem público global", mas não mostram os caminhos de como pretendem concretizá-la.

À medida em que a pandemia avança no planeta, com mais de 57 milhões de casos e 1,3 milhão de mortos, os presidentes e chefes de governo optaram pelo consenso no combate ao vírus. No entanto, em sua declaração, o G20 não menciona a quantidade de US$ 28 bilhões, incluindo US$ 4,2 bilhões de emergência até o fim do ano, exigidos pelas organizações internacionais para combater a pandemia.

Combate às mudanças climáticas sem novos avanços

A mudança do clima, que havia sido apontada como um dos temas no topo da agenda da cúpula, tampouco teve referências esclarecedoras. Talvez até pela agressividade dos Estados Unidos em relação ao assunto. Pouco antes da última reunião deste domingo, em vídeo gravado, o presidente americano, Donald Trump, atacou como pôde o Acordo de Paris, que chamou de "injusto e desequilibrado".

"O entendimento não foi desenhado para salvar o meio ambiente, mas para matar a economia americana", afirmou Trump, que retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris oficialmente há algumas semanas. O republicano afirmou que se recusa a "entregar milhões de empregos americanos e mandar bilhões de dólares aos países que mais poluem no mundo". Já o presidente eleito, Joe Biden, já avisou que o país volta para o acordo do clima a partir do primeiro dia de seu governo, que tem início em 20 de janeiro de 2021.

No extremo oposto de Trump, o presidente da China, Xi Jinping, também em mensagem gravada previamente, cobrou a ação conjunta global e o respeito ao Acordo de Paris. Xi lembrou a nova meta ousada de tornar a China um país neutro em emissões de carbono até 2060. Gravaram mensagens sobre o tema os líderes da Itália, que sediará a cúpula do G20 no ano que vem, Japão, Austrália e Índia.

Por sinal, a referência ao entendimento sobre mudança do clima precisou ser construída de modo que a opinião americana pudesse ser filtrada. "Os signatários do Acordo de Paris que confirmaram em Osaka sua determinação em implementá-lo reafirmam, mais uma vez, seu compromisso com sua plena implementação, refletindo responsabilidades comuns mas diferenciadas e respectivas capacidades, à luz das diferentes circunstâncias nacionais", afirma o texto. "Esses signatários lembram o compromisso assumido pelos países desenvolvidos com a meta de mobilizar conjuntamente US$ 100 bilhões por ano até 2020 para atender às necessidades dos países em desenvolvimento.

Dívida de países pobres e comércio internacional

Os países do G20 também prorrogaram por mais seis meses a moratória das dívidas dos países mais pobres. Havia uma expectativa de que o prazo para pagamento seria estendido até o final de 2021. Deixou-se, contudo, a possibilidade de reavaliar essa decisão. "Até 13 de novembro de 2020, 46 países se beneficiaram da DSSI, totalizando cerca de US$ 5,7 bilhões de diferimento do serviço da dívida em 2020", ressalta o texto.

Sobre comércio, embora tenham declarado apoio ao sistema multilateral de comércio, que garantem ser "agora mais importante do que nunca", e defendido as reformas necessárias na Organização Mundial de Comércio (OMC), os líderes não detalharam um programa de ação, nem um horizonte para mudanças.

Sobre a atuação da Organização Mundial da Saúde (OMS), torpeada pela administração Trump, que retirou os Estados Unidos da entidade, a declaração é vaga. Em uma espécie de morde e sopra, destaca a importância do sistema e das agências das Nações Unidas, sobretudo a OMS, mas cobra uma avaliação da sua resposta à crise sanitária, lembrando a necessidade de fortalecer sua eficácia geral, na coordenação e apoio à resposta global à pandemia e aos esforços centrais dos estados membros.

Pela primeira vez, uma cúpula do G20 foi realizada virtualmente. A presidência do grupo, a cargo da Arábia Saudita, precisou mudar toda a organização do evento em função da pandemia do novo coronavírus.

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