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Diretor do BC mora em Boston, mas faz "bate e volta" para reuniões do Copom

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Fábio Kanczuk, em sabatina no Senado - Geraldo Magela/Agência Senado
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Fábio Kanczuk, em sabatina no Senado Imagem: Geraldo Magela/Agência Senado
do UOL

Do UOL, em Brasília

20/11/2020 12h31

O diretor de política econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, tem despachado desde março de Boston (EUA), onde passou a morar com a família por conta da pandemia do coronavírus. A ausência de Kanczuk tem incomodado alguns membros da instituição que, nos bastidores, alertam que seria importante ter contato mais direto com o executivo.

É de responsabilidade da Diretoria de Política Econômica a realização de pesquisas e a elaboração do sistema de metas de inflação, um dos maiores receios atuais da equipe do ministro Paulo Guedes (Economia).

Kanczuk também faz parte do Comitê de Política Monetária (Copom), que decide os rumos da taxa de juros do país.

Procurado para comentar o fato de o diretor estar fora do país por tanto tempo, o BC afirmou que segue com mais de 90% do seu quadro em trabalho remoto e ainda não há previsão de retorno ao presencial.

"Apenas as reuniões do Copom foram mantidas presencialmente e todos seus membros têm comparecido normalmente, depois de se submeterem a teste de detecção de Covid-19".

"Ponte aérea"

Segundo a autoridade monetária, o diretor se ausentou apenas da reunião do Copom que foi realizada nos dias 16 e 17 de junho, "em virtude de problema de saúde de um membro de sua família". "O diretor Fabio Kanczuk esteve presente em todas as outras reuniões em 2020", disse o BC.

O BC disse ainda que "os custos de deslocamento são arcados pelo diretor Fabio Kanczuk". De acordo com a ficha de remuneração, disponível no Portal da Transparência, em setembro, pelo cargo de diretor, Kanczuk recebeu o salário bruto de R$ 10.396,59 e mais R$ 4.000 em verbas indenizatórias.

Se a "ponte aérea" entre Boston e Brasília parece não pesar no bolso do diretor, é no mínimo arriscado aos seus pares essa exposição, já que aeronaves são tidas como de alto risco para a transmissão da Covid.

O "bate e volta" do diretor também toma tempo de seu trabalho, já que uma viagem sem escala entre as duas cidades leva cerca de dez horas, sem contar as escalas e conexões que são bastante comuns.

Apesar de o BC afirmar que os custos das viagens de Boston para o Brasil são de responsabilidade do diretor, o portal da Transparência registra alguns voos entre São Paulo e Brasília, pagos com dinheiro público, às vésperas da reunião que ele veio participar no Brasil.

No dia 26 de outubro, o diretor registra uma viagem entre a capital paulista e Brasília paga pelo BC no valor de R$ 643,47. Nos dois dias seguintes, aconteceu a 234ª reunião do Copom.

Em 14 de setembro também há uma passagem do trecho no valor de R$ R$ 399,47. A 233ª reunião do Copom aconteceu nos dias 15 e 16 de setembro.

Outros diretores do BC, no entanto, também costumam usar verbas públicas para deslocamentos internos com frequência.

Alto grau de segurança

O BC foi questionado ainda sobre o sistema de segurança das reuniões remotas tendo em vista que assuntos sigilosos são debatidos. De acordo com a instituição, a Diretoria Colegiada "realiza reuniões virtuais com a participação remota de alguns de seus membros, seja em outras cidades, seja de suas residências em Brasília, utilizando para isso aplicativos oficiais da instituição, com alto grau de segurança e criptografia das comunicações".

"Assim como no restante do banco, a participação remota não tem acarretado qualquer prejuízo ao andamento dos trabalhos e não há data estabelecida para o retorno das reuniões exclusivamente presenciais", diz o banco.

O BC salientou ainda que o "trabalho remoto não acarretou qualquer interrupção nas entregas previstas, incluindo processos novos e relevantes, como o arranjo de pagamentos instantâneos (Pix)".

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