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Ao recusar vitória de Biden, Trump mantém base coesa e mira eleições de 2024

13/11/2020 07h13

Apesar de já terem passado 10 dias desde a eleição presidencial e Joe Biden ter sido declarado o 46º presidente americano, Donald Trump não aceita a derrota e continua contestando os resultados. 

Ligia Hougland, correspondente da RFI em Washington

Até agora, o candidato democrata obteve 290 colégios eleitorais. Segundo o sistema americano, para ser eleito um candidato precisa de pelo menos 270  e Trump só conseguiu 217. O ex-presidente, entretanto, continua tentando reverter os resultados em diversos estados, alegando fraude eleitoral envolvendo centenas de milhares de votos.

Enquanto cerca de 77 milhões de eleitores que votaram no candidato democrata estão indignados com o comportamento do presidente republicano, os outros 72 milhões que votaram pela reeleição de Trump acham que ele ainda não deve admitir a derrota. Os apoiadores de Trump acreditam que a vitória de Biden ainda não tem nada de oficial, já que nenhum estado certificou sua eleição.

Em Washington, a divisão não é vista de forma tão simples, pois envolve um cálculo político mais complexo. Os membros republicanos do Congresso americano dizem que apoiam todos os esforços do presidente para contestar a eleição. No entanto, não é segredo que Trump não seja visto como um verdadeiro republicano por muitos membros do partido, que em 2016 receberam sua candidatura a contragosto.

Além disso, para o líder do senado Mitch McConnell, pode ser mais vantajoso ter um democrata na Casa Branca. Como líder da oposição, o senador pode exercer mais livremente seu poder. Com Trump no comando, McConnell fica limitado a ser apenas um viabilizador das políticas do presidente.

Comportamento infantil

Os democratas estão unidos e pedem um fim imediato ao que consideram uma disputa baseada no comportamento infantil do presidente e alegações sem provas. Um aspecto que tem preocupado democratas e republicanos é que a Casa Branca está se recusando a compartilhar briefings de segurança nacional com Biden. Muitos especialistas dizem que isso pode colocar a segurança do país em risco durante o período de transição.

O senador republicano James Lankford inclusive disse, nessa quinta (12), que se até esta sexta (13) Biden ainda não estivesse recebendo briefings, ele intercederia pessoalmente. A campanha republicana garante que está reunindo centenas de depoimentos de testemunhas de fraude.

De acordo com os depoimentos, os observadores republicanos teriam sido impedidos de acompanhar a contagem de votos. Os depoimentos também citam a existência de cédulas inválidas - enviadas no nome de eleitores já falecidos, sem endereço ou assinatura verificada, e recebidas depois do prazo legal.

Além disso, os republicanos apontam erros na contagem de votos causados por um problema no software Dominion Voting Systems, usado por diversos dos estados que têm seus resultados contestados por Trump. A grande maioria das autoridades eleitorais dizem que as alegações de fraude não têm fundamento.

Nesta semana, o jornal New York Times publicou uma manchete afirmando que autoridades eleitorais de todo o país não haviam encontrado fraude alguma. O título revoltou os eleitores de Trump: o resultado das eleições continuará o mesmo, mas não há dúvida de que há casos de fraude.

A imprensa conservadora tem inclusive divulgado nomes de eleitores já falecidos e que, mesmo assim, contam como tendo votado na eleição presidencial deste ano. Casos de fraude e irregularidades existem em qualquer processo eleitoral.  Mas alegações de que o partido democrata tenha desenvolvido um esquema tão amplo de fraude, em diversos estados para garantir a vitória do seu candidato, exigem provas sólidas para que sejam de fato levadas a sério tanto pelo público quanto pela justiça.

Mesmo assim, nessa quinta (12) à noite, Trump tuitou que o software Dominion Voting Systems fez com que dezenas de milhares de votos fossem roubados dele e atribuídos a Biden.

Trump pode vencer no Arizona

Trump tem poucas chances de conseguir reverter o resultado da eleição e acabar com mais colégios eleitorais que Biden. Mas, por enquanto, isso parece mais provável do que o presidente americano admitir que perdeu para o candidato democrata.  Nesta sexta-feira (13), a vitória de Biden foi confirmada no Arizona, dez dias depois das eleições. Apenas a Carolina do Norte e a Geórgia não divulgaram o resultado.

Nessa quinta (12), Trump ganhou um caso na justiça estadual da Pensilvânia, que determinou que os votos de eleitores que não tinham apresentado identificação até 9 de novembro fossem considerados inválidos. Com esses três estados, Trump atingiria os 270 colégios eleitorais necessários para garantir sua vitória. Esse cenário é extremamente improvável.

Para haver o envolvimento da Suprema Corte, é preciso que um tribunal aceite julgar um processo da campanha de Trump. Até o momento, a maior parte dos processos foi arquivada pelos juízes. Nesse caso, é preciso que a sentença seja desfavorável a Trump para que seus advogados, então, apelem para a Suprema Corte, que pode ou não decidir julgar o caso. Tudo isso teria de acontecer até 14 de dezembro, que é quando acontecerá a votação por parte dos colégios eleitorais.

Ainda mais improvável é o presidente americano admitir derrota. Além disso não ser do seu feitio, para Trump pode ser mais vantajoso dizer que foi vítima de fraude para manter sua base coesa e tentar um retorno nas eleições de 2024. Também tem sido cogitada a possibilidade de Trump lançar um canal de notícias.

Recentemente, o presidente tem atacado abertamente o canal Fox News, que antes era um dos seus maiores aliados. Isso tem feito o canal a cabo perder telespectadores. Trump pode estar se posicionando para captar esse público conservador. Isso não somente pode ser vantajoso para seu canal, como também dar um poderoso impulso a uma possível campanha para as eleições de 2024.

Apesar dos boatos, ninguém na capital americana tem medo que Trump se recuse a deixar a presidência, caso sua derrota seja mesmo final. Afinal, ele é um vendedor acima de tudo e já deve estar de olho na sua próxima grande oportunidade. Mesmo emburrado, Trump deve passar a chave da Casa Branca para Biden em 20 de janeiro de 2021

Chefe de gabinete

Para a surpresa de alguns, Biden escolheu como seu chefe da Casa Civil, Ronald Klain, que, em 2014, ajudou o governo de Barack Obama a lidar com o surto de ebola. Em 2014, Klain comentou pelo Twitter que não era à toa que, segundo uma pesquisa, 68% dos americanos achavam que as eleições eram manipuladas, pois, segundo o consultor democrata, isso era, de fato, a realidade. Além disso, em 2019, Klain disse que o vírus ebola não ter causado mortes em massa nos EUA não passava de sorte, pois o governo de Obama não tinha feito nada certo.

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