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O que dizem as alegações contra a família Biden que Trump tentou transformar em 'surpresa de outubro'

30/10/2020 19h50

Atrás nas pesquisas, presidente dos EUA, Donald Trump, vem mencionando repetidamente supostos e-mails do filho de Joe Biden, seu adversário na corrida à Casa Branca, num esforço para mudar rumo das eleições.

Atrás nas pesquisas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aproveitou-se de e-mails divulgados recentemente, supostamente do filho de seu adversário na corrida à Casa Branca, o candidato democrata Joe Biden, para tentar mudar a dinâmica das eleições presidenciais em sua reta final, no que a imprensa americana descreveu como "surpresa de outubro".

As alegações contra o democrata foram o pano de fundo do pedido de demissão do jornalista Glenn Greenwald, cofundador do site The Intercept. Ele se demitiu do site na quinta-feira (29/10). Greenwald alegou que foi censurado por causa de um artigo que escreveu sobre o assunto. O Intercept, por sua vez, criticou o jornalista e diz que ele estaria fazendo um papel de "vítima".

Greenwald ficou mundialmente famoso ao publicar, em junho de 2013 no jornal britânico The Guardian, uma reportagem mostrando a existência de programas secretos de vigilância global dos Estados Unidos, efetuados pela Agência de Segurança Nacional (NSA). Para isso, contou com a ajuda de Edward Snowden, que havia sido funcionário da CIA, a agência de inteligência americana, e da NSA. Snowden coassina a reportagem, que ganhou o Prêmio Pulitzer, o mais importante do jornalismo.

No Brasil, Greenwald, que vive no Rio de Janeiro e é casado com o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), publicou reportagens no The Intercept Brasil, que ficaram conhecidas como "Vaza Jato", o vazamento de conversas entre integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato, entre os quais o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro e o promotor Deltan Dallagnol.

Alegações de tráfico de influência são comuns em Washington e os filhos de Trump também já foram acusados de conflitos de interesse em negócios lucrativos no exterior. Eles também negam quaisquer irregularidades.

'Surpresa de outubro'

Não se trata de uma estratégia nova. O esforço da campanha do candidato republicano para arquitetar uma revelação surpresa nas semanas finais da campanha para "virar" a eleição é uma tática política frequentemente usada.

O termo "surpresa de outubro" foi cunhado em 1980 e referia-se a esforços secretos do então presidente Jimmy Carter (1977-1981) para negociar a libertação de reféns americanos no Irã antes da eleição. Por fim, as negociações fracassaram e Ronald Reagan venceu.

Trump vem acusando repetidamente Biden de irregularidades em relação à Ucrânia e à China enquanto era vice-presidente, o que ele nega.

A questão ressurgiu após um artigo do New York Post sobre um suposto e-mail no qual um consultor de uma empresa de energia ucraniana, a Burisma, aparentemente agradeceu ao filho de Biden, Hunter, por convidá-lo para conhecer seu pai.

Questionado sobre as acusações, Biden disse a um repórter se tratar de uma "campanha de difamação". Nenhuma atividade criminosa foi comprovada e nenhuma evidência surgiu de que Biden fez algo para beneficiar seu filho intencionalmente.

As eleições estão marcadas para a próxima terça-feira, 3 de novembro.

O que diz o artigo do New York Post?

Um artigo publicado pelo jornal New York Post tem como foco um e-mail de abril de 2015, no qual um conselheiro da empresa Burisma, Vadym Pozharskyi, aparentemente agradeceu a Hunter Biden por convidá-lo para encontrar seu pai em Washington.

Hunter, o segundo filho de Joe Biden, era diretor do conselho de administração da Burisma - uma empresa privada de energia de propriedade da Ucrânia, enquanto seu pai era o encarregado do governo Obama nas relações entre os EUA e a Ucrânia. Hunter era um dos vários estrangeiros no conselho da empresa.

O artigo do New York Post não forneceu evidências de que a reunião tenha ocorrido. A campanha eleitoral de Biden disse que não havia registro de tal reunião na "programação oficial" do ex-vice-presidente da época.

Mas em um comunicado ao site americano Politico, a campanha também reconheceu que Biden poderia ter tido uma "interação informal" com o conselheiro do Burisma que não apareceu em sua programação oficial, embora afirmasse que qualquer encontro teria sido "superficial".

"As investigações da imprensa, durante o impeachment e até mesmo de dois comitês do Senado liderados por republicanos, cujo trabalho foi considerado 'não legítimo' e político por um colega republicano, chegaram à mesma conclusão: que Joe Biden executou a política oficial dos EUA em relação Ucrânia e não se envolveu em nenhuma transgressão", disse Andrew Bates, porta-voz de Biden.

A campanha também denunciou a história do New York Post como "desinformação russa", embora não tenha afirmado que os e-mails eram falsos.

O artigo do New York Post foi compartilhado pelo presidente Trump e seus aliados. Dois de seus ex-conselheiros, Steve Bannon e Rudy Giuliani, estiveram envolvidos no fornecimento da história e do disco rígido contendo os supostos e-mails para o jornal.

Giuliani diz que as mensagens foram encontradas em um laptop que Hunter deixou em uma oficina do Estado americano de Delaware em abril de 2019.

Críticos dizem, no entanto, que Giuliani viajou em dezembro de 2019 para a capital da Ucrânia, Kiev, onde conheceu o parlamentar ucraniano Andriy Derkach, a quem o Tesouro dos EUA designou como um agente do Kremlin de longa data. Giuliani reconheceu que tentou obter informações sobre os Bidens na Ucrânia.

Mas o diretor de Inteligência Nacional dos EUA, John Ratcliffe, disse em uma entrevista recente ao canal de TV Fox Business que os supostos e-mails não estavam relacionados a um esforço de desinformação russa.

Outros meios de comunicação dos EUA afirmam não ter conseguido verificar a autenticidade dos emails. Hunter não confirmou nem negou que deixou um laptop na oficina.

Hunter ingressou na Burisma em 2014 e permaneceu no conselho da empresa até abril de 2019, quando decidiu sair.

Do que os Bidens são acusados na China?

O New York Post citou um suposto e-mail de Hunter Biden em agosto de 2017, indicando que ele estava recebendo uma taxa anual de US$ 10 milhões (R$ 60 milhões) de um bilionário chinês por "apresentações", embora não esteja claro quem estava envolvido nas alegadas "apresentações".

Outro suposto e-mail, cuja veracidade a Fox News disse ter confirmado, se refere a um acordo realizado por Hunter envolvendo a maior empresa privada de energia da China. Diz-se que inclui uma menção enigmática de "10 mantido por H para o grandalhão".

A Fox Newscitou fontes não identificadas alegando que "o grandalhão" no suposto e-mail era uma referência a Joe Biden. Essa mensagem é de maio de 2017. Ambos os e-mails datam de quando o ex-vice-presidente dos Estados Unidos já não estava mais no cargo.

Um ex-parceiro comercial de Hunter se apresentou para dizer que pode confirmar as alegações.

Tony Bobulinski disse à Fox News que, ao contrário das declarações de Joe Biden de que ele não tinha nada a ver com os negócios de seu filho, Hunter "frequentemente fazia referência a pedir-lhe sua aprovação ou conselho sobre vários negócios potenciais" na China. No entanto, não está claro se tal alegado envolvimento ocorreu enquanto Biden pai ocupava a vice-presidência.

Bobulinski foi convidado por Trump para ser seu convidado no debate presidencial final na cidade de Nashville, no Estado americano do Tennessee.

O que se sabe sobre os negócios de Hunter na China?

Em 2013, Hunter voou a bordo do Força Aérea Dois (nome dado ao avião oficial do vice-presidente dos EUA) com seu pai, então no cargo, em uma visita oficial à capital da China, Pequim, onde conheceu o banqueiro de investimentos Jonathan Li.

Hunter disse à revista americana New Yorker que se encontrou com Li para "uma xícara de café", mas 12 dias depois da viagem um fundo de private equity, BHR Partners, foi aprovado pelas autoridades chinesas. Li era o presidente-executivo e Hunter um membro do conselho. Ele teria uma participação de 10% na empresa.

O BHR é apoiado por alguns dos maiores bancos estaduais da China e por governos locais, segundo a imprensa americana.

O advogado de Hunter Biden disse que ingressou no conselho em uma posição não remunerada "com base em seu interesse em buscar maneiras de trazer capital chinês para os mercados internacionais".

Seu advogado também disse que seu cliente não adquiriu sua participação financeira na BHR até 2017, depois que seu pai deixou o cargo de vice-presidente dos EUA.

Hunter renunciou ao conselho da BHR em abril de 2020, mas ainda detinha sua participação de 10% na BHR em julho deste ano, de acordo com o relatório da empresa.

Do que os Bidens são acusados na Ucrânia?

O presidente Trump e seus aliados acusaram Joe Biden de transgressão porque ele pressionou, enquanto vice-presidente, o governo ucraniano a demitir seu principal promotor, que investigava a empresa para a qual Hunter trabalhava.

Em 2016, Joe Biden pediu a demissão do promotor ucraniano Viktor Shokin, que mantinha a Burisma e outras empresas sob investigação.

No entanto, outros líderes ocidentais e importantes órgãos que dão apoio financeiro à Ucrânia também queriam que o promotor fosse demitido por acreditarem que ele não era ativo o suficiente no combate à corrupção.

O que mais disse a campanha de Biden?

Pouco antes do último debate presidencial, o lado democrata divulgou um comunicado negando irregularidades.

"Joe Biden nunca pensou em se envolver em negócios com esta família, nem em qualquer outro negócio no exterior", disse o comunicado.

"Ele nunca teve ações em nenhum desses acordos de negócios, nem qualquer membro da família ou qualquer outra pessoa teve ações em seu nome."

"O que é verdade é que Tony Bobulinski admitiu oficialmente para Breitbart (site de notícias americano de extrema direita) que está zangado por *não* ser capaz de fazer negócios com Hunter e James Biden [irmão de Joe Biden]."

O que isso tem a ver com o pedido de impeachment de Trump?

Em 2019, surgiram detalhes de um telefonema que o presidente Trump fez ao presidente da Ucrânia, no qual ele instou o líder ucraniano a investigar os Bidens.

Isso levou a acusações pelos democratas de que Trump estava tentando pressionar ilegalmente a Ucrânia para ajudar a prejudicar seu rival na eleição, resultando em um pedido de impeachment da Câmara dos Representantes.

Trump negou ter feito algo errado e mais tarde foi absolvido pelo Senado dos Estados Unidos, controlado pelos republicanos.

Algo foi provado contra os Bidens?

Embora nenhuma atividade criminosa tenha sido comprovada, foram levantadas questões sobre potenciais conflitos de interesse.

Um alto funcionário do Departamento de Estado levantou essas preocupações já em 2015.

Os congressistas republicanos dos EUA iniciaram uma investigação e descobriram que o trabalho de Hunter para a empresa ucraniana era "problemático" ? mas não havia evidências de que a política externa dos EUA foi influenciada por ele.

Nenhuma acusação criminal tampouco foi provada contra a Burisma. A empresa emitiu um comunicado em 2017 dizendo que "todos os processos judiciais e acusações criminais pendentes" contra ela foram encerrados.

No ano passado, Yuriy Lutsenko, o promotor na Ucrânia que sucedeu Viktor Shokin, disse à BBC que não havia razão para investigar os Bidens sob a lei ucraniana.

Não há nada de ilegal em fazer parte do conselho de uma empresa enquanto os membros da família servem no governo, embora Hunter Biden agora diga que servir no conselho da Burisma pode ter sido uma "má escolha".

Os advogados de Hunter Biden disseram em um comunicado em outubro de 2019 que ele havia realizado "essas atividades de negócios de forma independente. Ele não acreditava ser apropriado discuti-las com seu pai, nem ele".

Hunter disse à New Yorker que na única ocasião em que mencionou Burisma: "Papai disse: 'Espero que você saiba o que está fazendo.'"

Em meio a todo o escrutínio, o candidato democrata à Casa Branca disse no ano passado que, se for eleito presidente, ninguém em sua família terá um emprego ou relação comercial com empresas ou governo estrangeiro.


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