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Mapa da Desigualdade: 47% das internações em SP são evitáveis com atenção básica

No caso de doenças respiratórias, um residente em Marsilac tem 43 vezes mais chance de não sobreviver do que o da Barra Funda e de Pinheiros - Bruno Torquato/UOL
No caso de doenças respiratórias, um residente em Marsilac tem 43 vezes mais chance de não sobreviver do que o da Barra Funda e de Pinheiros Imagem: Bruno Torquato/UOL

29/10/2020 11h07

Um morador do Jaçanã, na zona norte de São Paulo, tem 17,1 vezes mais chance de ser internado por uma doença que poderia ser controlada com atenção básica e prevenção do que alguém de Moema, bairro nobre da zona sul. Na média municipal, 47,1% dos leitos na cidade são ocupados com Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP), segundo dados de 2019 compilados pelo Mapa da Desigualdade 2020, divulgado nesta quinta-feira, 29, pela Rede Nossa São Paulo.

Esse indicador geralmente é utilizado para avaliar os serviços de saúde e a capacidade de resolução da atenção primária, que, quando não é suficiente, pode acabar por gerar uma demanda excessiva de média e alta complexidade. No exemplo Jaçanã, por exemplo, ele representa 77,7% do total de internações do distrito, enquanto é de 4,5% em Moema. Dentre as ICSAP, estão: doenças evitáveis por imunização; anemia; infecções de ouvido, nariz e garganta; deficiências nutricionais; asma; bronquite; hipertensão; diabete mellitus; infecção no rim e no trato urinário; e infecção de pele e tecido subcutâneo.

O Mapa da Desigualdade reúne indicadores dos 96 distritos paulistanos sobre população, meio ambiente, mobilidade, direitos humanos, habitação, saúde, educação, cultura, esporte, trabalho e renda. Os dados são extraídos de bases de dados públicas e compilados.

Entre os indicadores positivos, os distritos que aparecem mais frequentemente são predominantemente os de áreas de população de maior renda na cidade, como Alto de Pinheiros, Pinheiros, Butantã, Jardim Paulista e Perdizes, na zona oeste, Consolação e República, no centro expandido, e Santo Amaro, Itaim Bibi e Moema, na zona sul.

Por outro lado, os piores índices estão principalmente na periferia: Marsilac, Jardim Ângela e Capão Redondo, na zona sul; Brasilândia e Vila Medeiros, na zona norte; Cidade Tiradentes e São Miguel, na zona leste; e Brás, Sé e Bom Retiro, no centro expandido.

Na cidade de São Paulo, a média de idade ao morrer é de 68 anos, com o melhor índice registrado no Jardim Paulista (81,5 anos) e o pior no Jardim Ângela (58,3). Já a mortalidade infantil é 16 vezes maior em São Miguel (20,3 casos a cada mil crianças nascidas vivas) do que em Marsilac (média inferior a um), enquanto a mortalidade materna é mais de 9,3 vezes maior na Liberdade (182,1 casos a 100 mil nascidos vivos) do que em 18 distritos paulistanos (média inferior a um caso), a maioria localizados na zona oeste e centro expandido.

Outro dado de saúde é o de tempo médio para consultas na Atenção Básica, que é 28 dias na cidade, mas tem variação significativa entre os distritos. Enquanto no Cambuci, no centro expandido, a média de 5 dias, na Água Rasa, zona norte, é de 43 dias. Além disso, a gravidez na adolescência é 24 vezes mais comum em São Rafael (15,3% das mães dos nascidos vivos tinham até 19 anos), na zona leste, do que no Jardim Paulista (0,6%).

Em relação a mortalidade entre residentes de 40 a 59 anos por determinadas doenças, a diferença também é expressiva entre os distritos. Em relação a doenças no aparelho circulatório, por exemplo, um morador de São Miguel (206,4 óbitos a cada 100 mil habitantes da faixa etária), na zona leste, tem 14 vezes mais chance de morrer por essa causa do que um do Jardim Paulista (inferior a um), na zona oeste.

No caso de doenças respiratórias, um residente em Marsilac (149,8 óbitos a cada 100 mil habitantes entre 40 e 59 anos) tem 43 vezes mais chance de não sobreviver do que o da Barra Funda e de Pinheiros (média inferior a um), na zona oeste. No caso de neoplasias do aparelho digestivo, a mortalidade é 12 vezes maior em Marsilac (99,9 óbitos a cada 100 mil habitantes entre 40 e 59 anos) do que na Barra Funda e na Sé (inferior a um). Um dos possíveis fatores para o distrito de Marsilac se destacar é ser pouco populoso (8.398 moradores), enquanto a média paulistana é de 123 mil pessoas por distrito.

Transporte e mobilidade

O levantamento também traz dados sobre transporte e mobilidade. Moradores de 29 distritos da cidade não têm uma estação de trem, metrô ou monotrilho a até um quilômetro de casa. Na cidade, a média é de 18,1%. O distrito melhor assistido nesse aspecto é o da República, com 88%.

Já o tempo médio do trajeto de casa para o trabalho por transporte público é de 56,2 minutos na cidade. Ele é quatro vezes mais alto em Marsilac (124,7), no extremo sul, do que no Brás (31,3), no centro expandido.

Já o acesso à infraestrutura cicloviária em até 300 metros da residência é de 100% no Pari, no centro expandido, enquanto é nulo em nove distritos da periferia. A média municipal é 41%.

No caso de meio ambiente, um dos dados mostra que apenas 0,3% dos resíduos domésticos têm coleta seletiva na subprefeitura de Itaim Paulista, abrangência 42 vezes menor do que a da Vila Mariana (10,6%). A média municipal é de 2,1%.

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