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Alta de suicídios entre jovens e mulheres preocupa autoridades no Japão

29/10/2020 07h51

Mortes de diversas personalidades japonesas, principalmente jovens e mulheres, indicam o agravamento de impactos psicológicos da pandemia de Covid-19 no país asiático. O mês de setembro foi o terceiro consecutivo com aumento no número de ocorrências, uma alta de 8,6% em relação ao ano anterior.

Juliana Sayuri, correspondente da RFI no Japão

A guitarrista japonesa Maisa Tsuno, de 29 anos, foi encontrada inconsciente em casa e levada para um um hospital, onde foi declarada morta no domingo (18), em Tóquio. A causa da morte não foi divulgada oficialmente, mas a polícia investiga suspeita de suicídio.

A morte de Tsuno, integrante da famosa banda de rock Akai Ko-en, se soma a outros casos de supostos suicídios de personalidades japonesas nos últimos tempos. Em setembro foram registradas as mortes das atrizes Yuko Takeuchi, de 40 anos, Sei Ashina, de 36, e do ator Takashi Fujiki, de 80. Em julho, faleceu o ator Haruma Miura, de 30 anos. Em maio, a atleta Hana Kimura, de 22, estrela do reality show Terrace House.

"O suicídio de celebridades e a cobertura da mídia pode ter um impacto enorme. Em certos casos, podem provocar outras ocorrências", declarou o porta-voz do governo, Katsunobu Kato.

"Devemos trabalhar juntos para construir uma sociedade em que possamos nos apoiar calorosamente e cuidar uns dos outros, para que as pessoas não se sintam isoladas. Quero pedir a todos para ajudar a construir uma sociedade livre de suicídio", acrescentou.

Linhas diretas

Autoridades japonesas lançaram alerta para prevenir novos casos de suicídio, incentivando as pessoas que estão enfrentando crises a buscar ajuda na central de atendimento do Ministério da Saúde, o Yorisoi Hotline, disponível no número 0120-279-338 (ligação gratuita e protegida por sigilo) ou no messenger da página no Facebook. O atendimento é oferecido em 11 idiomas, incluindo espanhol e português.

Desde o início da pandemia, aumentou a procura por linhas diretas de prevenção ao suicídio, segundo o jornal japonês The Mainichi. A Lifelink, organização sem fins lucrativos sediada em Tóquio, por exemplo, recebeu 6 consultas em fevereiro, 23 em março e156 em abril.

"Ao oferecer consultas, tentamos evitar a mesma situação de 1998, quando o Japão viu mais de 30.000 pessoas se matarem devido à crise econômica", declarou na época Yasuyuki Shimizu, diretor do Japan Suicide Countermeasures Promotion Center.

Preocupações com contágio, crise econômica e problemas familiares foram as mais citadas nos atendimentos, segundo o órgão. Entre maio e agosto, cerca das 20% das chamadas vieram de jovens estudantes.

Suicídio é um fenômeno antigo no arquipélago, um dos poucos países a divulgar dados oficiais de ocorrências anualmente. Uma das principais causas de morte prematura no país, os casos de suicídios estavam diminuindo nos últimos anos, mas voltaram a subir.

Impacto da pandemia

Setembro foi o terceiro mês consecutivo de alta de óbitos deste tipo: foram 1.805 casos, um aumento de 8,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Entre mulheres, uma alta repentina de 27,5%.

Em agosto, o índice tinha subido 16% ante o mesmo período do ano anterior, totalizando 1.854 mortes. Entre mulheres, o número passou para 651, um aumento de 40%; entre mulheres jovens de 20 a 30 anos, 74%. Entre estudantes, do primário ao colegial, foram 59 (um aumento de mais de 50%).

Não há uma causa única para suicídio, dizem especialistas. Atualmente, autoridades internacionais vêm indicando que o isolamento, a insegurança financeira e o luto podem agravar transtornos mentais no mundo todo, com crescentes relatos de angústia, depressão e estresse na pandemia de covid-19.

É importante, destacam especialistas, informar que há onde buscar ajuda. "Manter contato e compartilhar nossos sentimentos com amigos e familiares é mais importante do que nunca", disse Shimizu à NHK, a agência pública do Japão. 

Até fins de outubro, o país registrou 1.726 mortes por covid-19 e 13 mil suicídios.

 

 

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