Adeus ao Tegel
Desde 3 de outubro é possível adquirir ingressos para visitar o terraço do Tegel e acompanhar as últimas decolagens e aterrissagens. A visitação vai até 8 de novembro, quando, exatamente às 15h, o último voo partirá do aeroporto em direção a Paris. A vontade de dizer adeus é grande. No momento, os ingressos para visitação estão esgotados.
Depois de anos de espera e atrasos, o Tegel finalmente será fechado, e o aeroporto Berlim-Brandemburgo (BER), inaugurado. Previsto para entrar em operação em 2011, o aeroporto, que era um dos maiores projetos de infraestrutura da Alemanha, teve que passar por diversas reformas antes mesmo de abrir as portas devido a erros no projeto ou ideias que não foram testadas, mas mesmo assim foram aplicadas e acabaram se revelando não tão brilhantes assim.
No início de 2012, praticamente pronto, veio o primeiro grande desastre: um complexo e moderno sistema de proteção contra incêndios não funcionou nos testes. Desde então, novos problemas surgiram. Estruturas inteiras precisaram ser refeitas, e houve várias trocas nos diretores do projeto. Cada novo anúncio de data de inauguração era visto com ceticismo.
No ano passado veio o anúncio definitivo, e, quase como um milagre, o novo aeroporto vai realmente abrir na data anunciada – após uma obra que custou mais de 6,5 bilhões de euros, ou seja, quase quatro vez mais do que o previsto.
Por ironia do destino, a inauguração ocorre num ano desastroso para o setor da aviação. A covid-19 deixou no chão aeronaves no mundo inteiro após o fechamento de fronteiras. Tegel, que recebeu 24 milhões de passageiros em 2019, ficou praticamente às moscas por meses, e até hoje o volume de passageiros é bem menor do que o registrado nos últimos anos. A pandemia também fez com que a festa de despedida do local fosse cancelada.
O fechamento do Tegel, inaugurado no início da década de 1970, trará paz aos moradores da região, que precisam conviver com o barulho constante de aviões.
Apesar de haver alguma resistência ao fechamento, a medida me parece acertada. Quem já voou por ali, sabe o desastre que era na alta temporada. O aeroporto vivia lotado. A última vez que viajei de lá foi um horror. Nos balcões das companhias, havia filas enormes, que ocupavam os corredores apertados do local. Na segurança, o mesmo cenário se repetia. Muita paciência era exigida. No desembarque, as malas demoravam muito tempo para chegar. Havia relatos de perdas de bagagem devido à desorganização e falta de espaço.
A grande vantagem do Tegel era sua localização, sem dúvida alguma. No meio da cidade, o acesso era rápido de ônibus, e também era possível chegar lá a qualquer hora do dia ou da noite com o transporte público. Já o BER, em Schönefeld, fica bem mais longe. Mas apesar da distância, tudo indica que o novo aeroporto trará mais conforto aos passageiros.
O antigo Tegel será transformado num campus universitário e deverá ainda abrigar indústrias e um novo bairro habitacional, onde devem construídas 5 mil moradias.
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Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Autor: Clarissa Neher
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