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Vice implica governador do Amazonas em depoimento sobre desvios de verba

Governador Wilson Lima (PSC) e seu vice, Carlos Alberto Souza de Almeida Filho (PTB) - Sandro Pereira/Código19
Governador Wilson Lima (PSC) e seu vice, Carlos Alberto Souza de Almeida Filho (PTB) Imagem: Sandro Pereira/Código19
do UOL

Rosiene Carvalho

Colaboração para o UOL, em Manaus

19/10/2020 19h56

O vice-governador do Amazonas Carlos Almeida Filho (PTB), em depoimento à PF (Polícia Federal), confirmou que o governador do estado do Amazonas Wilson Lima (PSC) tinha conhecimento sobre a atuação do ex-militar e empresário Gutemberg Alencar na Secretaria de Saúde (Susam) durante a pandemia. Alencar é apontado pela investigação como o operador, que atuou sob o comando do governador, na compra superfaturada de 28 respiradores inservíveis para covid-19.

De acordo com a PGR (Procuradoria-Geral da República), Carlos Almeida e o governador do Amazonas, Wilson Lima, tinham conhecimento e autorizaram desvios de dinheiro público na saúde durante a pandemia do novo coronavírus. Na primeira fase, Wilson Lima teve sua casa e gabinete revistados pela PF. O vice foi alvo na segunda fase. Ambos negam envolvimento com o esquema.

No depoimento, o vice-governador do Amazonas afirmou que foi o próprio governador quem o informou a respeito da participação de Alencar na administração pública no período em que o "estado não tinha leitos, medicamentos e não estava preparado para enfrentar a pandemia".

Almeida afirmou à PF que várias pessoas surgiram oferecendo ajuda e disse que, para ele, era preciso fazer "filtro". O vice de Wilson Lima disse também que o empresário tinha histórico de "má fama" no estado.

"Que em março deste ano o governador o colocou em contato com Gutemberg; que manifestou ao governador suas resistências e desagrado em tratar com ele (...) Quando do início da pandemia, Wilson Lima o contatou afirmando que Alencar queria ajudar o governo durante a pandemia (...) Que sempre quis manter distância de Alencar", informa trechos do depoimento do vice-governador que está em segredo de justiça e o UOL teve acesso.

Almeida disse que "mal manteve" contato com Alencar e revelou que o empresário foi um dos coordenadores da campanha dos dois em 2018. Disse que, na ocasião, também não tinha muito contato com ele, classificando-o como "truculento" e "arrogante".

O depoimento do vice-governador confirma o que foi dito em dois outros depoimentos: do ex-secretário de Saúde do Amazonas, Rodrigo Tobias, e da ex-gerente de compras da pasta, Alcineide Figueiredo. Ambos confirmaram a fraude e o superfaturamento, informando à PF que Alencar, sem nomeação na administração pública, passou a apontar onde o Estado do Amazonas iria comprar respiradores por determinação do governador Wilson Lima. Tobias e Alcineide negam que tenham se beneficiado no esquema.

Alencar cumpriu dez dias de prisão temporária na segunda fase da Operação Sangria, da Polícia Federal.

Além de fortalecer as narrativas da investigação contrárias ao governador Wilson Lima, Carlos Almeida disse que antes e depois dos fatos "teve conversas sérias com o governador". "Tomando a decisão de se afastar da Casa Civil no dia 4 de maio e, ainda, desde março havia percebido uma incompatibilidade de gestão administrativa com o governador", informa outro trecho do depoimento.

Sobre a "grande influência" e ascendência em relação à cúpula da Secretaria de Saúde apontada pela PF, Carlos Almeida confirmou que foi ele quem indicou Rodrigo Tobias pasta e que tinha ligação com outros dois secretários executivos anteriormente ao início do governo. Negou, no entanto, que tivesse conhecimento ou que tenha autorizado a irregularidade. Carlos Almeida disse que, como então chefe da Casa Civil, deu recomendações gerais sobre o processo.

Carlos Almeida afirmou à PF viver de sua renda familiar, constituída pelo seu salário, da sua esposa e de eventuais ajudas da sogra de 71 anos que mora na casa dele, num condomínio de Ponta Negra, bairro que concentra moradores de maior poder aquisitivo em Manaus.

Os documentos aos quais o UOL teve acesso mostram que, para cumprir o mandado de busca e apreensão na casa do vice-governador, a PF teve que forçar o portão da casa porque os moradores não atenderam "às inúmeras tentativas" de serem atendidos sem a medida.

Ainda segundo estes documentos, a PF descreve apreensão de telefones, pendrives computadores e notas fiscais no quarto do casal, como de um cinto da marca Gucci no valor de R$ 4.736 e uma pochete feminina da marca Louis Vuitton no valor de R$ 8.050, comprovante de depósito para HStern no valor de R$ 9.982.

O Governo do Amazonas emitiu nota informando que Carlos Almeida cuidava de demandas diversas de governo, inclusive da saúde, enquanto foi chefe da Casa Civil.

A nota afirma também que o vice-governador deverá prestar os devidos esclarecimentos no âmbito da investigação pelo período da gestão dele. Almeida foi secretário estadual de Saúde entre janeiro e março de 2019 e chefe da Casa Civil entre abril do mesmo ano e 18 de maio de 2020.

De acordo com a Secom (Secretaria de Estado de Comunicação), o salário bruto do vice-governador Carlos Almeida é R$ 32.200 e líquido de 20.616,01.

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