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Bolívia vai às urnas em primeira eleição sem Evo Morales em duas décadas

18/10/2020 10h38

Os 7,3 milhões de bolivianos convocados para comparecerem às urnas começaram a votar neste domingo (18), para eleger um presidente e vice. A votação acontece quase um ano depois da renúncia do líder indígena Evo Morales, em meio a uma convulsão social decorrente de denúncias de fraude eleitoral.

O pleito, no qual disputam os favoritos de Luis Arce - do partido Movimento ao Socialismo (MAS), de Morales - e o centrista e ex-presidente Carlos Mesa (2003-2005), começou oficialmente às 8h locais (9h em Brasília) e vai durar nove horas.

A votação será mais longa do que a de 2019, devido às medidas sanitárias adotadas para prevenir a propagação da covid-19. Os bolivianos também vão renovar as cadeiras do Congresso nacional.

Esta é a primeira eleição em 18 anos sem que Morales esteja entre os candidatos. Exilado em Buenos Aires, onde se refugiou há um ano, ele vai acompanhar o "dia histórico" sem votar, nem terá agenda pública, conforme informou sua assessoria de imprensa.

Morales "não poderá exercer seu direito de voto, devido à desqualificação, por motivos políticos, que o impediram de se registrar em Buenos Aires", afirma o comunicado. "O povo boliviano viverá um dia histórico, pois irá às urnas na esperança de um futuro melhor, com alegria e em paz", acrescenta o ex-presidente, citado na nota. Evo renunciou à Presidência em novembro de 2019, após protestos contra sua polêmica reeleição, em uma votação posteriormente anulada.

País com maior população indígena na América Latina

As pesquisas indicam que deve haver segundo turno em novembro entre Arce e Mesa. A campanha foi marcada pela polarização na figura de Morales, pela deterioração econômica e pela pandemia do coronavírus.

A Bolívia é o país da América Latina com maior proporção de população indígena e um dos mais pobres, apesar de suas grandes reservas de gás natural e lítio. O Censo de 2012 apontou que 41% dos 11,5 milhões de bolivianos eram indígenas. Em 22 de janeiro de 2006, Evo Morales, nascido na pobreza, pastor de lhamas e depois líder sindical cocaleiro, tornou-se o primeiro presidente indígena do país.

A Constituição de 2009 buscou reparar séculos de injustiças, dando maior destaque aos indígenas: reconhecimento de 36 idiomas oficiais (Quechua, Aymara, Guarani, entre outras), reconhecimento da justiça indígena com seus processos e costumes próprios, no mesmo nível da justiça comum, e educação multicultural.

Instabilidade política

Reeleito em 2009 e 2014, Morales foi autorizado a se candidatar à reeleição indefinidamente em 2017 por uma decisão polêmica do tribunal constitucional, uma medida que havia sido rejeitada em 2016 por plebiscito. Desde sua independência, em 1825, a Bolívia já foi palco de 200 golpes ou tentativas, chegando a três em menos de 48 horas, segundo historiadores.

Até 1982, a nação vivia imersa em grande instabilidade política - que retornou em 2019, quando a oposição denunciou as fraudes na nova reeleição de Morales. Ele foi sucedido pela política de direita Jeanine Áñez, que convocou novas eleições.

Pobre, apesar de abundância de recursos

O crescimento do PIB boliviano é um dos mais importantes da região nos anos Evo Morales, especialmente graças à nacionalização dos hidrocarbonetos em 2006. As receitas aumentaram de US$ 673 milhões, em 2005, para US$ 2,28 bilhões, 2018.

O controle estatal se estendeu às telecomunicações, fundos de pensão, usinas hidrelétricas, aeroportos e mineração. O governo investiu os lucros em programas sociais e infraestrutura pública.

O país tem a segunda reserva de gás mais importante da América Latina, atrás apenas da Venezuela. Tem, ainda, as primeiras reservas de lítio do mundo e importantes depósitos de metal (ferro, cobre, estanho).

La Paz multiplicou os acordos de investimentos com o exterior, especialmente com a China, para a exploração de gás natural e principalmente de lítio, do qual espera se tornar o quarto maior produtor mundial.

Ainda assim, a Bolívia é um dos países mais pobres da América Latina, mas o nível de pobreza caiu de 45% da população, em 2010, para 34,6%, em 2018, conforme o Banco Mundial.

Com informações da AFP

 

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