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Mortes de negros, Supremo e insultos dominam 1º debate entre Biden e Trump

do UOL

Beatriz Montesanti e Carolina Marins

Colaboração para o UOL, em São Paulo, e do UOL, em São Paulo

30/09/2020 00h39Atualizada em 30/09/2020 10h02

O primeiro debate entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden foi marcado pela troca de insultos. O evento foi retransmitido pelo UOL em parceria com a CNN Brasil.

O moderador Chris Wallace chegou a dar uma "bronca" nos candidatos após uma série de interrupções —principalmente por parte de Trump, que discutiu com o próprio Wallace. "Não é comigo que você está debatendo. Posso fazer minha pergunta?", respondeu o apresentador da Fox News.

Biden falou a maior parte do tempo virado para a câmera, se dirigindo a seu adversário para desferir insultos. O democrata chegou a chamar Trump de "palhaço", "cachorrinho do [presidente russo] Putin" e "pior presidente dos Estados Unidos".

O debate ocorreu em Cleveland, Ohio. Durante uma hora e meia, discutiram da nomeação de um novo juiz para a Suprema Corte à morte de negros pela polícia norte-americana —o que levou a manifestações, algumas com violência, por todo o país. A condução de Donald Trump durante a pandemia do coronavírus e a situação econômica dos Estados Unidos também foram temas.

Levantamento feito pela CNN americana mostrou que Trump teve a palavra na maior parte do tempo: foram 39 minutos e 6 segundos de fala, ante 37 minutos e 56 segundos de seu adversário. A emissora classificou este como "o pior debate já visto".

Devido à pandemia, apenas 70 pessoas compareceram ao local e os candidatos não trocaram apertos de mãos. O próximo debate será entre os candidatos à vice-presidência, Mike Pence e Kamala Harris, em 7 de outubro.

A Suprema Corte e Obamacare

A discussão ficou acalorada já no primeiro tópico, sobre a Suprema Corte. O presidente Donald Trump disse ter direito a indicar a juíza Amy Coney Barrett para suceder Ruth Bader Ginsburg, morta no dia 18 de setembro. Já Biden criticou o posicionamento de Barrett em relação ao Obamacare, programa de saúde criado pelo ex-presidente Barack Obama e que facilita o acesso da população ao sistema de saúde. Trump então o acusou de ser socialista.

Ginsburg era um ícone progressista e a sua sucessão tem causado embate entre os dois candidatos antes mesmo desta noite. Trump foi a favor de uma indicação rápida da sucessora e o fez —mas o Senado ainda precisa ratificar a decisão.

Democratas, por outro lado, argumentam que a indicação deveria ser feita pelo próximo presidente, como já ocorreu durante o mandato de Barack Obama, e foi desejo manifesto da juíza antes de morrer. A sucessão de RBG acirra o debate porque o próximo nome pode transformar os conservadores em maioria na Corte máxima do país.

"Temos o direito de escolher porque vencemos a eleição", disse Trump. "Não tenho oposição nenhuma à juíza, parece uma pessoa muito boa, mas, antes de chegar à bancada, já escreveu que pensa que o Obamacare não é constitucional, e agora está indo para a Suprema Corte. Se isso acontecer, o que vai acontecer?", rebateu Biden.

Vacina e mortes pela covid-19

O segundo tópico foi a pandemia do coronavírus. Joe Biden acusou Trump de saber da gravidade da doença antes dos EUA se tornarem o epicentro. Um livro escrito pelo jornalista Bob Woodward revelou que Trump conhecia a seriedade da doença, mas escolheu ignorá-la. Os Estados Unidos chegaram hoje à marca de 205.812 mortes. O país apresenta o maior número de casos e mortes no mundo e no início da pandemia o presidente minimizou seus efeitos.

Novamente Trump acusou Biden de ser socialista e de estar aliado a Bernie Sanders, democrata que concorreu nas primárias do partido, no objetivo de "socializar a medicina".

Também voltou a acusar a China pela pandemia e disse ter boa avaliação de governadores e da população —o que não é comprovado pelas pesquisas de opinião.

A estratégia de Biden foi recuperar falas anteriores de seu opositor minimizando a pandemia, além de chamar a atenção para sua pressa em ter uma vacina antes da eleição, ignorando o tempo exigido pelas instituições que testam a substância. "Você disse que até a Páscoa isso teria desaparecido, como um milagre, talvez você podia injetar água sanitária em seu braço."

Polêmica sobre os impostos

Biden citou reportagem do The New York Times, que acusa o republicano de não ter pago o Imposto de Renda por 10 anos. Em resposta, Biden e sua vice, Kamala Harris, divulgaram hoje suas declarações no Twitter.

Questionado pelo moderador quanto de fato pagou em impostos, Trump respondeu ter sido "milhões de dólares". Também disse que Obama lhe concedeu o privilégio de prestar menos contas ao governo.

"Deixa eu te falar uma coisa: ninguém quer pagar impostos. Qualquer pessoa privada, a menos que seja tola, usa a própria lei para pagar o mínimo de impostos possíveis, então nós usamos, por exemplo, créditos de impostos, fiscais, depreciação. O governo Obama me ofereceu esse privilégio."

Joe Biden contra-argumentou que irá eliminar os cortes de impostos, para investir em pessoas que de fato precisam.

Trump ataca filho de Biden

Trump acusou o filho de Biden, Hunter Biden, de ter sido expulso das Forças Armadas por uso de cocaína. Biden rebateu: "Nada disso é verdade, isso simplesmente não é verdade. Meu filho, como muitas pessoas que você conhece, teve um problema com drogas. Ele já trabalhou essa questão e tenho muito orgulho dele".

Em uma entrevista à revista The New Yorker em julho de 2019, Hunter admitiu o uso de drogas e álcool antes de sua saída da Marinha dos EUA.

Hunter é motivo de atrito entre os dois desde o ano passado e levou a um processo de impeachment contra Trump por supostamente pressionar o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a investigar Joe Biden e Hunter.

Hunter Biden era conselheiro em uma empresa ucraniana em 2016, quando seu pai ainda era vice-presidente. Na época, Biden teria pedido a demissão de um procurador acusado de corrupção. O procurador investigava a empresa na qual Hunter trabalhava. Trump acusa Biden de interferência e conflito de interesse no caso.

Violência, lei e ordem

Sobre as manifestações antirracistas que têm ocorrido nos EUA, o presidente se colocou como o protetor da "lei e da ordem" e acusou os manifestantes de serem extremistas e causarem mais violência. Ele tem acusado Biden de trazer ainda mais caos aos EUA ao apoiar os manifestantes. Já Biden acusa Trump de incitar ódio, mas ficou desconcertado com a pergunta do moderador sobre o motivo de ele não ter pedido paz aos manifestantes.

Durante o debate, Trump perguntou diretamente ao seu adversário se ele era a favor da lei e da ordem. "Sou a favor da lei e da ordem, porém com justiça", respondeu o democrata. Biden então chamou Trump abertamente de racista, se lembrando de quando o presidente se referiu a supremacistas brancos como "pessoas de bem".

Biden cita o Brasil ao falar de clima

Perguntado sobre o impacto humano para as mudanças climáticas, como com a emissão de gases que provocam o efeito estufa, Trump disse que o verdadeiro problema está na má administração das florestas nos Estados Unidos - palco de incêndios devastadores nos últimos anos. Durante sua gestão na Casa Branca nos últimos quatro anos, Trump anulou regulamentações ambientais feitas durante o governo Obama.

"Temos que ter uma gestão de nossas florestas, elas estão cheias de árvores, mas você deixa ali um cigarro aceso e queima tudo. Creio que temos que fazer tudo para termos água limpa, ar limpo, vamos plantar um bilhão de árvores novas, esse é nosso projeto".

Biden respondeu citando o Brasil e a Amazônia. Ele afirmou que entre as medidas de seu plano para o clima está pressionar o país a combater o desflorestamento na Amazônia, além de fazer investimentos em energia renovável.

Eleições justas e legítimas

Trump levanta desde já uma suspeição ao resultado das eleições. Em decorrência da covid-19, eleitores estudam adotar massivamente o voto pelos Correios, o que é comum no país e já utilizado por Trump no passado. Mas o presidente tem dito que esse voto é sujeito a fraudes. "Pelo menos 1% dessas cédulas foram invalidadas. Isso é horrível para nosso país, não vai terminar bem."

Já Biden defende a opção: "Cinco estados tiveram votação pelo correio na última década ou mais, incluindo dois estados republicanos. [...] O que ele tem é medo de perder nesses estados."

O debate terminou com Biden fazendo um apelo para eleitores votarem. Já Trump disse que irá pedir que a Suprema Corte fiscalize as urnas.

Errata: este conteúdo foi atualizado
O nome da juíza indicada para a Suprema Corte é Amy Coney Barret

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