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Só 0,1% lucra mais de R$ 100 por dia com day-trade de ações

do UOL

15/09/2020 18h20

O número de brasileiros fazendo "day-trade" só cresce. Mas um novo estudo da FGV mostra que dos "98.378 indivíduos que começaram a fazer day-trade em ações no Brasil entre 2013 e 2016, e operaram até 2018, [...] apenas 127 indivíduos foram capazes de apresentar lucro bruto diário médio acima de R$ 100 por mais de 300 pregões".

Isso significa que apenas 0,1% dos day-traders conseguiram experimentar lucro nessas circunstâncias. A imensa maioria saiu no prejuízo ou simplesmente desistiu dessa estratégia.

Eu sou César Esperandio, economista do Econoweek, a tradução da economia. Na coluna de hoje, e no vídeo acima, vou traduzir o que é day-trade, porque todo mundo fala disso e as razões que eu acho day-trade uma furada mesmo contando com mais de dez anos de experiência no mercado financeiro e em bancos de investimento.

O que é day-trade?

Segundo o próprio estudo da FGV: day-trading é a atividade de comprar e vender o mesmo ativo financeiro, no mesmo dia e na mesma quantidade. O day-trader lucra quando seu preço médio de venda é maior do que seu preço médio de compra, descontando-se os custos de operação.

Em outras palavras, fazer day-trading é uma maneira de tentar lucrar dentro de um mesmo dia com a compra a venda de ativos financeiros (que podem incluir ações, minicontratos de dólar, minicontratos de índice, entre outros).

No caso do estudo da FGV, a análise foi feita apenas com operações de day-trade para a compra e venda de ações. Na verdade, no período analisado, o número de day-traders que tentavam lucrar com outros produtos de investimentos, além de apenas ações, é muito maior.

Por que o day-trade cresceu tanto?

O número de pessoas se arriscando em investimentos de day-trade mais que dobrou em 2020, sendo que já vinha em crescimento nos últimos anos.

Mas por que será que o day-trade cresceu tanto?

Eu levanto algumas hipóteses que explicam esse movimento:

  • A queda da Selic fez os investimentos em renda fixa perderem atratividade, fazendo o investidor olhar com mais atenção para a renda variável;
  • A tecnologia e o barateamento das taxas cobradas para todos os tipos de investimentos fez o assunto estar mais presente na "mesa do bar", além de permitir que o pequeno investidor tivesse o acesso facilitado ao longo dos últimos anos;
  • Historicamente, boa parte das corretoras, por mais que não assumam, incentivaram esse tipo de operação. Afinal, quanto mais ordens de compra e venda seus clientes fizessem, maior eram as receitas com as taxas de corretagens pagas. Com a tendência de redução ou zeragem desse tipo de cobrança na compra e venda de ativos, pode ser que essa cultura perca força;
  • Mais recentemente, a pandemia fez crescer a necessidade de geração de renda extra, bem como permitiu maior tempo em casa para uma parte das pessoas, o que possibilitou experimentar o day-trade;
  • Não fosse o bastante, influenciadores fajutos vendem a ilusão de que bastariam alguns minutos de dedicação em alguma operação de day-trade para ganhar milhares de reais e em seguida continuar na curtição de uma vida de luxo e fartura, com baladas, bebidas e viagens.

Todo mundo perde no day-trade?

Nem todo mundo perde no day-trade. Segundo o estudo da FGV, 127 dos mais de 98 mil indivíduos que fizeram day-trade em ações tiveram lucro médio de mais de R$ 100 por dia em mais de 300 pregões da Bolsa de Valores.

Dentre eles, há a seguinte distribuição para seus lucros brutos diários médios:

  • Lucro de R$ 103 para o indivíduo de menor lucro, com desvio-padrão de R$ 747 reais. Isso quer dizer que apesar de essa pessoa ter tido um lucro médio de R$ 103 por dia, houve dias de prejuízos de até R$ 644 e dias de lucro de até R$ 850;
  • Lucro de R$ 370 para o indivíduo mediano, com desvio-padrão de R$ 2.286;
  • Lucro de R$ 4.032 para o indivíduo com o maior lucro, com desvio-padrão R$ 33.888. Para ele, houve dias de prejuízo de até R$ 29.856 e dias de lucro de R$ 37.920.

A conclusão do estudo é que "mesmo considerando apenas os 127 indivíduos 'ganhadores', vemos uma média de ganho baixa frente ao risco".

Por que eu não faço day-trade?

Embora respeite quem faça, eu não sou entusiasta desse tipo de estratégia por alguns motivos:

  • Assim como ninguém se torna camisa 10 do Barcelona da noite para o dia, se tornar um day-trader consistente leva tempo e exige dedicação. Pouca gente vai chegar lá, mas muitos acham que é possível ter grandes lucros com apenas um curso e poucos dias de preparação;
  • Nos investimentos de médio e longo prazos, falando apenas de ações, você se torna sócio de uma empresa. Nessa lógica, ao escolher a ação de uma empresa que valha a pena, além da tendência de valorização da sua ação, que pode ser vendida com lucro mais para frente, você também recebe as distribuições periódicas de lucros aos sócios, chamadas de dividendos;
  • O day-trade demanda dedicação integral, como qualquer profissão, ao contrário do que influenciadores fajutos ao vender seus cursos querem que você acredite. Você pode até acertar em alguns dias, mas vai perder dinheiro na maioria deles se tentar fazer day-trade apenas nos intervalos que encontra entre o trabalho e o descanso, além de passar por muito mais estresse ao tentar acompanhar enorme volume de informações sobre o mercado financeiro apenas nas horas vagas;
  • Por fim, o principal motivo que vejo é que, assim como nem todo mundo nasceu para ser engenheiro ou médico, também pouca gente nasceu para ser day-trader. Na minha opinião, é muito melhor você se dedicar à profissão que gera sua principal fonte de renda, a qual você conta com mais experiência e maior potencial de crescimento, e reservar parte do seu salário para investir em estratégias de longo prazo, potencializando o crescimento do seu patrimônio com muito menos "dor de cabeça" e sem a preocupação do sobe e desce diário da Bolsa.

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