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Pandemia dificulta busca por peruanas desaparecidas

12/08/2020 09h43

Lima, 12 Ago 2020 (AFP) - Há um ano, Karin Alvarado López, de 39 anos, saiu para comprar balas para uma festa infantil e desapareceu misteriosamente. Sua família afirma que a pandemia paralisou os esforços das autoridades peruanas para encontrá-la.

"Ela saiu de casa em 27 de agosto de 2019 e desde essa data a família não sabe nada sobre seu paradeiro", disse à AFP o irmão de Karin, Edward Alvarado, que empreendeu várias iniciativas com seus pais para encontrá-la.

O desaparecimento de mulheres é um problema endêmico no Peru. A Ouvidoria Pública afirma que cinco casos por dia foram registrados em média no ano passado, mas o número subiu para oito durante o confinamento nacional obrigatório em razão do coronavírus, de 16 de março a 30 de junho.

"Estou devastado, frustrado com a situação e com as instituições (do Estado), que não nos dão nenhum tipo de apoio", diz Edward, de 37 anos, que mora no nordeste de Lima.

Famílias afetadas e ONGs feministas dizem que a polícia e a Justiça não se importam muito em investigar desaparecimentos. Presumem que essas mulheres saíram voluntariamente, sem considerar que o Peru tem altos números de feminicídio e que existem redes de tráfico de pessoas e prostituição forçada.

- O caso Solsiret -Em fevereiro, três semanas antes da crise sanitária no Peru, teve grande repercussão o caso de Solsiret Rodríguez, de 23 anos, uma estudante universitária e ativista contra a violência de gênero que desapareceu quatro anos antes e cujo corpo mutilado foi encontrado em uma casa em Lima.

"O desaparecimento é um feminicídio, senhor, ou tráfico de pessoas, não é que a pessoa saiu por conta própria, não mais, hoje é uma nova forma de tirar a vida de uma mulher", disse à AFP a mãe da estudante, Rosario Aybar.

Em 2019 ocorreram 166 feminicídios no Peru e um 10% dos casos foram classificados inicialmente como desaparecimento, de acordo com a Ouvidoria.

A mãe de Solsiret reclama que as autoridades não se esforçaram para esclarecer o destino de sua filha até que um novo promotor assumiu o caso.

As investigações deste promotor permitiram que o corpo mutilado da universitária fosse encontrado na casa de seus cunhados, com quem vivia na época em que desapareceu.

O casal suspeito foi detido, mas a pandemia paralisou o processo judicial, afirma Aybar, de 60 anos.

A mesma reclamação tem o pai de Karin, Marcelino Alvarado.

"Estamos perto de completar um ano e até agora não temos resultados", diz este homem de 64 anos.

Este mês também marca outro aniversário do desaparecimento de Solsiret, aumentando o sofrimento na casa de seus pais.

Os pais de Solsiret lamentam que os supostos assassinos não sejam desconhecidos: são a cunhada da estudante e seu marido.

"Em 23 de agosto de 2016, seus agressores disseram que ela tinha saído, que tinha desaparecido. A partir dessa data, nós, os pais, procuramos por ela por três anos e meio, depois em (fevereiro) de 2020 a encontramos, mas sem vida", conta Aybar com pesar.

Os parentes de Karin fizeram passeatas, desenharam cartazes e folhetos, criaram páginas nas redes sociais, entraram em grupos de parentes de desaparecidos, mas até agora não tiveram sorte.

A Ouvidoria informou que 915 mulheres peruanas, 70% menores, foram declaradas desaparecidas durante os três meses e meio de quarentena nacional devido à pandemia.

"Precisamos saber o que aconteceu com elas", afirma o promotor público Walter Gutiérrez.

"Há resistência da polícia em aceitar esses casos. Exigimos que o cadastro nacional de desaparecidos seja concluído", disse à AFP Eliana Revollar, responsável pela pasta de Direitos da Mulher da Defensoria Pública.

Revollar reconhece que algumas mulheres apareceram posteriormente, mas devido à falta de um registro nacional, não se sabe quantas ainda estão desaparecidas.

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