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Confrontos entre manifestantes e polícia marcam eleição presidencial em Belarus

09/08/2020 20h53

Minsk, Bielorrússia, 9 Ago 2020 (AFP) - Manifestantes opositores e a polícia se enfrentaram neste domingo (9) à noite em Belarus, após eleições presidenciais tensas entre o atual mandatário Alexandre Lukashenko, apontado pelas pesquisas de boca de urna como vencedor, e a inesperada rival que reivindica ter o apoio da maioria.

Pouco após o anúncio do resultado de uma pesquisa de boca de urna oficial, que dava como vencedor o atual presidente, com cerca de 80% dos votos, simpatizantes da oposição se reuniram na capital, Minsk, apesar das advertências das autoridades, que mobilizaram um grande dispositivo para conter qualquer distúrbio.

As imprensas russa e bielorrussa registraram o uso de bombas sonoras e canhões de água pela polícia, além de confrontos com manifestantes e prisões.

Um jornalista da AFP ouviu a explosão de bombas próximo ao monumento Stella, na capital, e pôde ver as forças de ordem indo em direção aos manifestantes. O local era inacessível devido a um importante dispositivo de segurança.

Vídeos filmados por cidadãos e publicados nas redes sociais mostravam grupos de manifestantes que tentavam se reunir, mas que eram dispersados pela polícia.

Mais tarde, a polícia garantiu "ter o controle da situação", segundo informou a agência de imprensa estatal Belta, citando o Ministério do Interior.

"Ninguém vai permitir a perda de controle", prometeu o presidente Lukashenko depois de depositar sua cédula na urna, afirmando que "não havia razão" para o país "mergulhar no caos".

- "Vencer o medo" -A campanha eleitoral ficou marcada pela mobilização sem precedentes a favor de Svetlana Tijanovskaya, uma professora de inglês de 37 anos novata na política. A candidata conseguiu atrair multidões durante seus comícios, em um país onde a oposição historicamente não consegue se firmar.

Neste domingo à noite, Tijanovskaya afirmou ter apoio "da maioria dos cidadãos", apesar das pesquisas de boca de urna cravarem que a candidata recebeu apenas 6,8% dos votos, contra 79,7% para Lukashenko.

O dia da eleição foi tenso, com enormes filas nos colégios eleitorais.

Muitos eleitores foram às urnas usando um bracelete branco, um símbolo de reconhecimento a pedido de Tijanovskaya.

"Considero que vencemos, porque conseguimos superar nosso medo", declarou Tijanovskaya, que nos últimos dias denunciou "fraudes eleitorais" orquestradas pelo governo, que não convidou observadores internacionais pela primeira vez desde 2001.

Os resultados deverão ser divulgados oficialmente na noite deste domingo ou na manhã desta segunda-feira. Segundo dados oficiais, a participação foi de 84,5% da população apta a votar.

- "Cruel" -Nos últimos dias, o governo aumentou os esforços para impedir o surgimento de Tikhanovskaya, prendendo no sábado a sua líder de campanha, Maria Moroz.

Desde o final de julho o governo bielorrusso denuncia um suposto complô de opositores e mercenários russos para destruir o país.

Neste contexto, muitos temiam uma forte repressão em caso de protestos relevantes dos cidadãos.

"Conhecendo a natureza cruel de Lukashenko, qualquer pessoa que se importe com Belarus ficará preocupado pelo povo bielorrusso nos próximos dias", declarou à AFP Nigel Gould-Davies, analista do International Institute for Strategic Studies e ex-embaixador britânico em Minsk.

Antes do surgimento surpresa de Tikhanovskaya, Lukashenko, de 65 anos, eliminou seus principais concorrentes: dois deles estão presos, um terceiro está no exílio.

Três outros candidatos estavam concorrendo, mas nenhum conseguiu mobilizar o eleitorado.

A votação deste domingo gerou um ambiente de desconfiança nunca antes visto, que chegou até Moscou, para quem Lukashenko é visto ao mesmo tempo como um aliado próximo e alguém imprevisível.

Segundo Lukashenko, o Kremlin pretende transformar Belarus em um país subordinado.

No final de julho, as autoridades bielorrussas prenderam 33 russos, supostamente mercenários do grupo militar privado Wagner, conhecido por ser próximo ao poder russo, acusados de preparar um "massacre" em Minsk.

Moscou rejeitou as acusações, que considerou como parte de um "espetáculo" eleitoral.

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