Papa Francisco denuncia "inferno" vivido por migrantes na Líbia
O papa Francisco denunciou "o inferno" que se vive nos campos de detenção de migrantes na Líbia, durante uma missa celebrada no Vaticano nesta quarta-feira (8), para recordar sua visita há sete anos à ilha italiana de Lampedusa.
Com informações de Éric Sénanque, correspondente da RFI no Vaticano, e da AFP
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Ele fez um apelo para que o mundo não fique indiferente à tragédia dos migrantes no mar Mediterrâneo. Na cerimônia, Francisco lembrou que o destino dessas pessoas continua sombrio, principalmente os que partem do litoral da Líbia.
"Eu penso na Libia, nos campos de detenção, nos abusos e violências que sofrem os migrantes, nas viagens sem segurança, esperando salvamento e sendo repelidos", declarou o papa.
"A guerra é ruim, sabemos, mas vocês não imaginam o inferno que se vive lá, nesses campos de detenção" da Líbia, afirmou, lembrando-se dos relatos dos migrantes durante sua visita a Lampedusa, ponto de chegada à Europa para muitos migrantes que deixam o norte da África.
Convite a um exame de consciência
Durante a missa, celebrada na capela Santa Marta e com um número limitado de participantes, devido à pandemia de coronavírus, o papa convidou autoridades e católicos a "fazerem um exame de consciência" e denunciou a "versão destilada" que chega ao mundo do sofrimento vivenciado pelos migrantes.
"Lembro-me daquele dia (...) Alguns me contaram suas próprias histórias, o quanto sofreram para chegar ali. E havia intérpretes. Alguém me contava coisas terríveis em seu idioma, e o intérprete parecia traduzir bem; mas o primeiro falou muito, e a tradução foi breve", contou Francisco.
Ele conta que no mesmo dia, mais tarde, ele encontrou uma filha de etíopes. "Ela entendia o idioma e assistiu ao encontro pela televisão. E ela me disse isso: 'Desculpe, o que o tradutor lhe disse não é nem um quarto da tortura, do sofrimento que eles experimentaram'", acrescentou.
Versão "destilada" dos fatos
"Eles me deram a versão 'destilada'. Isso está acontecendo hoje com a Líbia: nos dão uma versão 'minimizada'", lamentou.
Em 8 de julho de 2013, Francisco fez sua primeira viagem fora do Vaticano à pequena ilha de Lampedusa, no sul da Itália, onde denunciou a "globalização da indiferença" diante do drama da imigração.
Francisco fez ainda referência a um dos eixos fortes de seu pontificado, de que somente a fraternidade pode construir um futuro com serenidade.