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RJ: agentes penitenciários esperam mais de um mês por teste de coronavírus

RJ: agentes penitenciários esperam mais de um mês por teste de coronavírus - UESLEI MARCELINO
RJ: agentes penitenciários esperam mais de um mês por teste de coronavírus Imagem: UESLEI MARCELINO
do UOL

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

14/05/2020 13h08Atualizada em 14/05/2020 17h08

Agentes da Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) têm reclamado da ausência e demora na disponibilidade de teste rápidos de covid-19 para a categoria que atua nos presídios do Rio de Janeiro.

O Sindicato dos Servidores do Sistema Penal do Rio argumenta que "se hoje um servidor que trabalha na linha de frente na custódia, segurança e vigilância de unidade prisional, com cerca de 50 mil presos, se sentir mal, ele só vai conseguir agendar o exame para o dia 16 de junho" - ou seja, mais de um mês após apresentar os primeiros sintomas.

O presidente do sindicato, Gutembergue Oliveira, afirma ainda que profissionais com sintomas têm enfrentado dificuldade de conseguir "validar" seus atestados médicos na perícia médica da Secretaria de Estado de Saúde.

"Se o médico particular dá sete dias de afastamento, esse servidor remete o atestado para perícia e a perícia vai e dá quatro dias. Se o médico dá 14, a perícia dá 7. Eles sempre diminuem. Uma pessoa infectada no sistema carcerário do Rio significa um efeito catastrófico. Enquanto eles [profissionais da Seap] vão trabalhando, alguns infectados vão potencializando a contaminação."

Para garantir a segurança sanitária do sistema, Gutembergue sugeriu um sistema de rodízio de servidores, mas a proposta não foi aceita. Nem servidores que integram o grupo de risco conseguiram ser afastados.

"A Seap diz que temos pelo menos 113 idosos na ativa. Desses, verifiquei que apenas 50 aceitariam o afastamento. Metade não queria sair por causa do sistema de horas extras, não queriam abrir mão desse dinheiro - em torno de R$ 555 para 12h. Mesmo assim a secretaria negou. Alegaram que a ausência deles ia fazer o sistema colapsar."

De acordo com o sindicato, seria possível realizar um remanejamento de profissionais, como já foi realizado em outras situações, para garantir os afastamentos sem prejudicar a operação das unidades prisionais.

Uma agente penitenciária, que terá o nome preservado, critica a falta de protocolos adotados para proteger os profissionais e alega que chegou a trabalhar infectada, já que não havia apresentado os sintomas característicos da covid-19.

"Desde o primeiro caso confirmado, não foi feito nenhum protocolo de isolamento e busca de testagem para saber quem estava contaminado ou sem condições de trabalhar. Essa ação deveria ser imediata. Os profissionais estão trabalhando doentes. Algumas unidades até fazem a medição de temperatura, mas no meu setor, não. Não há um protocolo. Eu mesma testei positivo para covid-19. Estava assintomática, fiz o teste devido ao primeiro caso confirmado no setor e deu positivo. Trabalhei dois plantões infectada", disse a servidora que trabalha no Serviço de Escolta.

A agente também revelou que durante a suspensão dos serviços, em março, os servidores trabalharam de forma aglomerada no setor.

"No início, quando decretaram a quarentena e teve suspensão de alguns serviços, muitos servidores ficaram ociosos e passaram a compor outros plantões, o que aglomerou um monte de gente no mesmo setor."

O sindicato da categoria ressalta que foi necessária uma ação judicial para que as EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) chegassem aos inspetores penitenciários responsáveis pela revista no sistema.

Dois agentes mortos confirmados

De acordo com o sindicato, pelo menos 100 servidores estão afastados, sendo que oito estão internados - dois deles em estado grave. Até o momento, dois servidores do sistema penal do Rio tiveram a morte confirmada em decorrência de covid-19.

Um deles é o inspetor penitenciário Peterson Costa, de 41 anos, que morreu na última terça-feira (12). Peterson era lotado no Sanatório Penal e trabalhava na Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) há 10 anos.

O outro agente, Wagner Moura, 41, morreu em março e trabalhava na Penitenciária Gabriel Castilho, no Complexo de Bangu, na zona oeste. De acordo com informações do sindicato, Wagener trabalhou normalmente no dia 2 de março. Na semana seguinte, teve febre alta e não compareceu ao trabalho nos dias 6 e 7. No dia 8, chegou a se apresentar para o expediente, mas foi dispensado. Um dia depois, o agente deu entrada no hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, onde foi imediatamente entubado. O teste para covid-19 deu positivo e o servidor faleceu no dia 14 de março.

"Apesar da Seap informar que está prestando auxílio necessários aos familiares do servidor, o sepultamento contou com vaquinha de colegas de trabalho", disse o sindicato.

A população carcerária no Rio é de quase 53 mil pessoas. Os presídios contam com 5.122 servidores na ativa.

Outro lado

Procurada para esclarecer as denúncias dos servidores, a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) não respondeu todas as perguntas e disse que "os testes rápidos de Covid-19, disponibilizados pela Secretaria de Estado de Saúde, estão sendo realizados desde o último dia 4 de maio nos ambulatórios da sede da Seap, na Central, e no Complexo e Gericinó, em Bangu, por meio de agendamento telefônico".

lém disso a pasta informou que "em um primeiro momento, estão sendo testados servidores, com prioridade para aqueles que lidam diretamente com os internos nas unidades prisionais".

A Seap afirmou ainda que os testes são aplicados seguindo os seguintes critérios orientados pela SES: pessoas que estejam apresentando no 8° dia sintomas respiratórios ou que já estejam assintomáticas por 72h.

"Após a realização do teste rápido para a covid-19, o funcionário terá à disposição o médico da Saúde Ocupacional da Seap para receber as devidas orientações."

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