Coronavírus: Grupos usam notícias falsas para apoiar postura de Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro causou aglomeração nas ruas do DF, neste domingo (29) Imagem: reprodução/Twitter
Do UOL, em São Paulo
31/03/2020 14h46
Resumo da notícia
A cada ação do presidente contra isolamento para conter a pandemia de covid-19, milícias digitais compartilham fake news científicas sobre coronavírus
Grupos de WhatsApp e rede sociais monitorados pela reportagem do UOL produzem e compartilham conteúdo de acordo com falas e posições do presidente
Além de informações falsas sobre a covid-19 e novo coronavírus, grupos disseminam teorias conspiratórias e negacionistas sobre crise sanitária global
A seguinte frase pipocou no grupo de WhatsApp na manhã desta segunda (erros ortográficos mantidos pela reportagem):
"Tudo o que precisamos fazer, para vencer o vírus corona, precisamos ingerir mais alimentos alcalinos que estão acima do nível de pH do vírus." A fonte, afirma a notícia falsa, é uma revista de virologia (sem nome), página 19.
É prática constante entre grupos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro mensagens deste tipo. A reportagem do UOL vem monitorando estes grupos desde fevereiro, e mais uma vez fica clara a relação entre o discurso do chefe da nação e a disseminação de conteúdo que, para apoiá-lo, se baseia em afirmações distorcidas ou falsas.
Antes prosseguir, é importante frisar que não há remédio nem vacina descoberta ainda para frear o novo coronavírus. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Ministério da Saúde, não existe nenhuma substância — incluindo alimentos e bebidas — comprovadamente eficaz contra a covid-19.
Abaixo, segue uma lista de alimentos (limão, abacate e alho, por exemplo) que teriam o pH milagroso, capaz de matar o vírus. "Não guarde essas informações apenas para si mesmo. Passe para todos", estimula ainda a notícia falsa que atenta contra a saúde pública.
Mensagens em grupos de WhatsApp bolsonaristas trazem informações falsas sobre a covid-19 e novo coronavírus
Imagem: Reprodução Plano chinês, ou complô de governadores
Teorias conspiratórias também prosperam no ambiente virtual.
Ganharam bastante espaço nas redes bolsonaristas aquelas sobre o "vírus chinês" criado para o país oriental desestabilizar o mandatário brasileiro e assim conseguir "comprar o Brasil todo a preço de banana". Revela-se ainda que os governadores brasileiros querem quebrar a economia para ganhar as eleições de 2022 contra o presidente.
Captura de tela de suposto grupo esquerdista no WhatsApp coloca a culpa da disseminação do novo coronavírus pelo país no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT
Nos grupos de apoio ao presidente, no entanto, não falta conteúdo cientificamente falso ou deliberadamente manipulado a partir do que afirma o presidente para municiar a milícia digital no combate de versões.
Twitter apagou postagem de presidente com imagem de aglomeração durante passeio pelo DF no domingo (30): contra orientações de saúde pública
Imagem: Reprodução/TwitterRede de apoio conta com políticos
Como em todos os outros lugares, só se fala da pandemia. Nos grupos monitorados pela reportagem, porém, ao contrário da imprensa em geral e da opinião de médicos, cientistas, OMS (Organização Mundial de Saúde), os principais líderes mundiais e até o Twitter — que excluiu duas postagens do presidente por ir "contra informações de saúde pública" — só Bolsonaro está certo.
Sempre que o presidente faz alguma declaração sobre a pandemia, horas depois aparecem nos grupos monitorados pela reportagem notícias falsas, memes e mensagens de apoio.
Flávio Bolsonaro posta foto fake para defender "cura" de coronavírus com hidroxicloroquina
Imagem: Reprodução
A ação é potencializada no Twitter, Facebook e YouTube por bolsonaristas famosos nas redes como a deputada federal Bia Kicis (PSL-SP).
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) gera desinformação nas redes ao levantar dúvidas sobre as recomendações do diretor-geral da OMS (Organização Mundial de Saúde).
este é o @DrTedros - Diretor da OMS (o homem mandou o mundo se cumprimentar com os cotobelos), dando um efusivo abraço em plena "quarentena" no hemisfério norte.
Agora finge que quem postou isso foi o @jairbolsonaro. Pronto! A confusão já estaria armada.
Algumas fake news travestidas de notícias científicas são compartilhadas diversas vezes nos mesmos grupos sob medida de acordo com as falas do presidente.
"Esse corona vírus é mais fraco que a influenza, o medo é o que faz as pessoas ficarem doentes", diz a mensagem ecoando argumentos do presidente.
Mensagem com informações falsas sobre o novo coronavírus circula em grupos de WhatsApp bolsonaristas
Imagem: Reprodução
Outra mensagem com informações falsas, compartilhada dezenas de vezes após o presidente anunciar que mandaria o Exército fabricar hidroxicloroquina contra a doença, diz que o CEO da farmacêutica Novartis teria declarado que o remédio matava o novo coronavírus. Há testes em andamento, mas a eficácia da substância ainda não foi comprovada, e médicos repetidamente alertam para o público não recorrer à automedicação.
Economia acima de tudo
Outros argumentos ecoados nas redes sociais bolsonaristas é de que a economia não pode parar, a despeito da pandemia de coronavírus e do que acontece nos principais países do mundo.
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