O maravilhoso mundo da Bundesliga passa longe do torcedor comum
A comercialização desse produto anda a todo vapor. Os direitos televisivos foram negociados até 2021 pela soma anual de 1,15 bilhão de euros, quase o dobro do contrato anterior. Do ponto de vista econômico, a Bundesliga é só alegria. Recordes de faturamento são batidos a cada temporada.
Entretanto, passada a euforia dos últimos anos, começam a aparecer as primeiras rachaduras no até então sólido edifício da Liga Alemã de Futebol. O carro-chefe da boa imagem do futebol alemão – a presença massiva de público nos estádios – aparece pela terceira temporada consecutiva em tendência decrescente.
Na temporada 2016/2017, de um total de 306 jogos, as arenas ficaram completamente lotadas em 143 (46,7%). Já em 2018/2019 apenas 102 (33,3%) partidas contaram com a casa cheia. Nota-se também um decréscimo na média de público. A atual temporada tem uma média de 40.500 espectadores por jogo. É o menor público por partida dos últimos dez anos.
O técnico Steffen Baumgart, do recém-promovido Paderborn, não tem papas na língua quando fala sobre a queda de público nos estádios: "Estamos construindo uma bolha sem contato com a realidade do torcedor comum. Começa pelo preço do ingresso, que custa em média 50 euros. Uma família com quatro pessoas, somando ingressos, salsichas, cervejas e refrigerantes, vai gastar no mínimo 250 euros. Para um simples mortal, vai ficar inviável frequentar o estádio."
A única forma de se pagar menos é adquirir um ingresso válido para as 17 partidas do campeonato que o time vai jogar em casa. Sai em torno de 30% a 40% mais barato, mas é pago à vista. No Signal Iduna Park, casa do Borussia Dortmund, o assento numerado mais barato para toda temporada custa 405 euros.
Praticamente não há uma rodada em que não haja protestos das torcidas organizadas contra os cartolas da Bundesliga – e isso em todas as divisões. Há muitas queixas dos torcedores. Eles alegam que dias e horários dos jogos são estabelecidos de acordo com a conveniência da TV e que não é levada em conta a rotina do trabalhador frequentador dos estádios. Reclamam também dos altos preços dos ingressos, além da falta de diálogo com a classe dirigente do futebol alemão.
Tudo isso leva a um alheamento entre torcedores e cartolas. Há um estranhamento por parte do cidadão comum em relação ao atual futebol profissional altamente mercantilizado, no qual alguns poucos grandes clubes não sabem mais o que fazer com tanto dinheiro, e a maioria dos pequenos luta pela mera sobrevivência, sem recursos para pagar o técnico dos times de base ou comprar novos uniformes.
Em sua entrevista ao t-online.de, o técnico Steffen Baumgart também deixou claro que é preciso fazer uma revisão nos critérios de fixação dos valores das cotas referentes aos direitos televisivos: "Um clube pequeno como o Paderborn, que acabou de subir à primeira divisão, ao se deparar com a parte que lhe cabe no rateio desses valores, imediatamente percebe que não terá condições de competir no mercado em busca de reforços." É verdade. O Paderborn recebeu 26 milhões de euros, enquanto o Bayern foi agraciado com 68 milhões.
A desigualdade econômica na distribuição das cotas de TV contribui para que os clubes fortes continuem cada vez mais fortes, e os fracos, cada vez mais fracos. A tendência é que a diferença entre os assim chamados grandes e pequenos aumente cada vez mais, a não ser que a Bundesliga reveja seus critérios na fixação dos valores a que cada clube tem direito.
A Premier League tem um sistema mais equitativo e poderia ser um ótimo exemplo a ser seguido pelos dirigentes do futebol alemão. Quem sabe eles se animam e fazem as mudanças necessárias?
Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br
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Autor: Gerd Wenzel
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