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"Impossível conter as lágrimas", conta fotógrafa diante de óleo em praias

A fotógrafa Bruna Veloso vê contaminação de óleo em praia no Nordeste - Arquivo pessoal
A fotógrafa Bruna Veloso vê contaminação de óleo em praia no Nordeste Imagem: Arquivo pessoal
do UOL

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

27/10/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Fotógrafa sai de Santos para ajudar no desastre das manchas de óleo no Nordeste
  • Ela ressalta importância do trabalho voluntário nas praias
  • "O cheiro forte e denso do óleo foi o que mais me incomodou e impressionou"

Era dia 9 de outubro quando a fotógrafa Bruna Veloso, 37, conta ter levado um susto ao ver o jornal enquanto montava a mesa de café da manhã, em Santos (SP): "Praias contaminadas por óleo no Nordeste". "Um vazamento de petróleo na costa paradisíaca do Brasil desde o início de setembro e estou sabendo só agora? O que está acontecendo nas praias e com as pessoas?"

A situação a levaria a se tornar mais uma voluntária na retirada do material das praias. "Quando li, meu coração acelerou em uma mistura de angústia e revolta", conta.

Arrumou as malas e pegou um voo. "Mesmo sem qualquer plano, hospedagem ou contato, escolhi pousar em Maceió por ser um ponto estratégico para acompanhar as mudanças de marés que levariam o óleo derramado para norte ou sul do litoral."

Ao chegar à cidade, buscou institutos e ONGs (Organizações Não Governamentais). "A receptividade e abertura foram imediatas. Consegui acompanhar o recebimento de uma tartaruga oleada e a instalação de uma barragem de contenção, mas ainda longe do mancha de óleo", diz.

Deixou Alagoas e foi a Pernambuco. Mais especificamente, para Ipojuca, no litoral sul do estado, município onde está a praia de Porto de Galinhas.

A emoção bateu. "Foi impossível conter as lágrimas diante do desastre. O cheiro forte e denso do óleo foi o que mais me incomodou e impressionou", afirma.

A partir dali ela, em muitos momentos, se juntou aos voluntários que tiravam o óleo da praia. "Entrei na água no instinto fugaz de salvar o mar verde de um incidente proveniente da ganância humana sem limites. Quando eu queria reclamar de desespero por não conseguir grudar os pedaços, ou quando a luva endurecia, olhava a minha volta e via um povo calado, calmo e trabalhador. Todos unidos lado a lado e com uma serenidade e força", relata.

A fotógrafa Bruna Veloso - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A fotógrafa Bruna Veloso viajou a Maceió para ajudar na tragédia ambiental no Nordeste
Imagem: Arquivo pessoal

A fotógrafa diz que ficou impressionada com a coragem do povo nordestino. "Pessoas de todas as partes se alojam nas bases para limpar as praias, empresários doam alimentos e materiais, bugueiros disponibilizam seus veículos de trabalho para transportar os voluntários. Vi uma união de pessoas resilientes, sempre de prontidão. A cada ligação de pedido de ajuda, grupos se mobilizaram: água, comida e EPIs [equipamentos de proteção individual] para distribuir", conta.

Após tantos dias e prestes a voltar para casa, ela diz que ainda apreende a dimensão da tragédia. "Uso as redes sociais para chamar a atenção, principalmente para quem está longe da situação ter a dimensão dos fatos, esforços e dificuldades enfrentadas pelos envolvidos", diz.

Bruna cita que seu trabalho sempre foi ligado a questões sociais e culturais. "Há algum tempo sentia a necessidade de trabalhar com os oceanos em causas ambientais. Minha ligação com os mares é profunda, sou nascida e criada no litoral de São Paulo e tenho um projeto documental com as mulheres surfistas. Só não imaginava que o oceano entraria na minha vida através de um desastre", diz.

Para ela, impressionou o trabalho de tantos voluntários, anônimos fazendo o trabalho do Estado. "Por se tratar de uma substância altamente tóxica, sabemos que haverá consequências para toda a cadeia ambiental, econômica e de saúde que só serão sentidas ao longo dos anos. Aplausos aos incansáveis voluntários que não esperaram os representantes de governos e tomaram atitudes, mesmo colocando a saúde em risco."

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