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Mulher presa por engano no lugar da irmã recebe carta com pedido de perdão

Carta escrita por Daniela Estevão Fortes enviada para a irmã, Danielle - Acervo pessoal
Carta escrita por Daniela Estevão Fortes enviada para a irmã, Danielle Imagem: Acervo pessoal
do UOL

Pauline Almeida

Colaboração para o UOL, no Rio

24/06/2019 20h36

Após ser confundida com a irmã e ficar 11 dias presa por engano, uma moradora de Magé, na Baixada Fluminense, teve outra surpresa. Danielle Estevão Fortes, 27, recebeu uma carta de alguém que diz ser Daniela Estevão Fortes, 24, em que ela pede perdão e diz querer mudar de vida.

"Meu amor por você me fez querer nascer em Cristo e viver sem ilusão, agora é tão diferente. Me perdoa por te fazer passar por essa tribulação. Eu não tinha noção de como doeria tanto. E eu sei que ainda vou sofrer muito, mas se for da vontade dele [Cristo] eu aceito", diz um trecho da carta.

Daniela, a irmã parecida fisicamente e no nome, acusada de assaltar duas lojas de celulares da Baixada Fluminense no ano passado, continua desaparecida.

Em entrevista ao UOL, Danielle contou que recebeu as fotos da carta - escrita a mão em duas folhas - por meio de uma mensagem no WhatsApp, vinda de um número desconhecido. No fim, a assinatura "com amor, Daniela".

Depois de receber o conteúdo, ela diz que tentou entrar em contato, mas sem sucesso.

A mensagem surpreendeu a destinatária. Apesar dos dias de angústia na cadeia, assim como quando ganhou a liberdade, Danielle disse que perdoa a irmã, mas gostaria que ela respondesse na Justiça pelos crimes contidos.

"Queria que ela aparecesse, se entregasse. Se for preciso minha ajuda para ela se entregar e pagar o que ela fez, em segurança. Porque eu tenho para mim que ela está resistindo a isso com medo do que ela vai sofrer lá dentro", declarou.

A carta traz diversas referências religiosas. "Queria te contar que quando eu agia, eu não pensava, era usada pelo inimigo? Antes doía, torturava? meu arrependimento gritava e ninguém ouvia, só quem sentia aquela angústia era eu, só pensava em morrer", escreveu a irmã.

Segundo o texto enviado, Daniela parece querer mudar de vida por meio de uma conversão religiosa. "A obra está sendo feita, graças a Deus minha hora chegou! É doloroso, machuca? mas primeiro a tempestade, depois a calmaria, pra ele morar em mim, eu preciso morrer."

Danielle Estevão Fortes (centro) reencontra a família após ficar 11 dias presa - Reprodução/Redes sociais - Reprodução/Redes sociais
Danielle Estevão Fortes (centro) reencontra a família após ficar 11 dias presa
Imagem: Reprodução/Redes sociais

Vítima de dois erros

No dia 7 de junho, Danielle Estevão Fortes foi depor como testemunha no inquérito que apura o assassinato de um irmão. No prédio da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, em Belford Roxo, ela recebeu a notícia de que era uma foragida da Justiça e seria detida.

Mesmo dizendo que estava sendo confundida, acabou presa, levada inicialmente para a cadeia de Benfica, na zona norte do Rio, e depois para Bangu, na zona oeste, onde ficou até os advogados provarem o erro e conseguirem que ela fosse solta.

Quando a liberdade parecia próxima, mais uma falha. Erros na digitação do sobrenome e RG de Danielle no documento fizeram com que ela dormisse outra noite na cadeia.

No dia 18, veio o reencontro com a família, que havia passado a madrugada na porta do presídio. Depois, a população de Praia de Mauá, distrito de Magé, onde sua família mora, ainda a recebeu com festa, com direito a rojões e carreata.

Vida não voltou ao normal

Mesmo em liberdade, a vida de Danielle ainda não voltou ao normal. Existem dois processos judiciais contra sua irmã, em duas varas diferentes. Uma delas já emitiu sentença de inocência, mas em outra, o processo segue.

Por causa das pendências jurídicas, a volta ao trabalho como esteticista e em um buffet ainda não aconteceu e a situação financeira está apertada.

"Espero que tudo volte ao normal, para que eu possa voltar a trabalhar", destaca Danielle, que mora com a namorada e também ajuda financeiramente a mãe, que é faxineira.

Seus advogados preparam uma ação de indenização contra os erros cometidos pelo governo do Rio de Janeiro e o Tribunal de Justiça.

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