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Strache queria controle midiático na Áustria similar ao de Orbán na Hungria

18/05/2019 13h01

Viena, 18 mai (EFE).- O agora ex-vice-chanceler da Áustria e ex-líder do ultranacionalista FPÖ, Heinz-Christian Strache, disse em 2017, em um vídeo comprometedor que o levou a renunciar neste sábado, que queria um controle da imprensa como o alcançado pelo primeiro-ministro da Hungria, o nacionalista Viktor Orbán.

A gravação, filmada em 24 de julho de 2017, três meses antes das eleições legislativas austríacas, em uma casa de Ibiza, na Espanha, preparada previamente com sete câmeras escondidas, capta praticamente cada movimento e palavra dos presentes.

Divulgadas na tarde da sexta-feira por dois meios de comunicação alemães - a revista "Der Spiegel" e o jornal "Süddeutsche Zeitung"- e reproduzidas depois por toda a imprensa austríaca, as imagens suscitaram um grande escândalo na república alpina.

Além das suas propostas corruptas de passar contratos estatais a uma mulher que se fez passar pela sobrinha de um oligarca russo em troca de ajuda eleitoral, os comentários do político ultranacionalista sobre a imprensa causaram uma indignação geral, mesmo depois que tentou justificá-los dizendo se tratar de "estupidez" causada pelo álcool que consumiu.

A transcrição do vídeo indica também que Strache fala em convencer a suposta investidora russa a comprar 50% do jornal "Kronen Zeitung", o de maior tiragem e influência do país, e substituir alguns jornalistas por outros vinculados aos ultranacionalistas.

"Os jornalistas são de todas as formas as maiores putas do planeta", disse então Strache.

O ex-vice-chanceler também se oferece para mediar para que um investidor vienense, Heinrich Pecina, que "adquiriu todos os meios (regionais) da Hungria há 15 anos" para vendê-los depois a pessoas de confiança de Orbán, ajudasse a russa a obter o controle do "Kronen Zeitung".

Na conversa, Strache lembra que os meios de comunicação húngaros adquiridos por Pecina foram fechados ou "acomodados" na linha do partido de Orbán.

"Queremos criar uma paisagem midiática parecida com a de Orbán", ressaltou então, completando que o jornal conectaria a investidora russa "com as dez pessoas mais poderosas da Áustria" e lhe abriria as portas a outros ramos de negócios.

"Na realidade, com o jornal, você consegue toda a influência. Tem as rédeas da situação, pode fazer o que quiser na Áustria", comentou.

"Se o jornal nos apoiar, não alcançaremos 27 (% dos votos), mas 34% (...) Se ficarmos em primeiro (nas legislativas de outubro de 2017), podemos falar do que for", completou em seguida.

Strache também defende nas imagens que a Áustria se abra mais para o leste europeu e coopere com o Grupo de Visegrado (Hungria, Polônia, República Checa e Eslováquia).

Neste contexto, revela inclusive que já se reuniu com um assessor do presidente russo, Vladimir Putin, para planejar "como podemos cooperar estrategicamente". EFE

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