Projeto ensina braille a crianças cegas a partir de peças de Lego

A Lego Foundation e o Grupo Lego, em conjunto com associações para pessoas cegas e com baixa visão, anunciaram nesta quarta-feira (24), em São Paulo, um projeto para a criação de peças customizadas para o braille (sistema de escrita com pontos em relevo). A ação foi apresentada também nesta tarde durante a 'Conferência de Marcas Sustentáveis', em Paris, na França, e tem o objetivo de ajudar crianças no desenvolvimento e alcance de suas habilidades.

A iniciativa foi proposta em 2017 pela Fundação Dorina Nowill para Cegos, e começou a ser realizada em uma parceria com a agência Lew'Lara, criadora do primeiro protótipo nacional, que já trazia o nome Braille Bricks e a Unesp (Universidade Estadual Paulista), que montou a metodologia para um programa educacional e inclusivo em escolas públicas das regiões de Presidente Bernardes e Franco da Rocha, em São Paulo.

Para Ika Fleury, Presidente do Comitê Braille Bricks da Fundação Dorina Nowill para Cegos, o braille é a única maneira de alfabetizar uma criança com deficiência visual.

"O Braille Bricks é uma ferramenta inovadora, que colabora efetivamente para o aprendizado inclusivo, envolvendo não só as crianças cegas e com baixa visão, mas também os colegas videntes", afirma.

Nunca vi uma ação com o conceito de inclusão vivenciado na sua essência, como o Braille Bricks. Algo extremamente simples, mas que traz a oportunidade de fazer professores e alunos trabalharem juntos no processo de aprendizagem"
Klaus Schlüzen, professor da Unesp

Projeto piloto

A primeira iniciativa em escolas começou há dois anos, sem o auxílio de fabricantes de brinquedos:

"Começamos com 32 kits, feitos com nossa própria mão de obra, pois entendíamos que estávamos usando os blocos como uma ferramenta pedagógica, e não apenas um brinquedo", diz Lelipe Luchi, CCO da Lew'Lara.

Após entender o potencial do produto, a agência Lew Lara e a Fundação Doirina Nowill fizeram uma ampla campanha nas redes sociais e abriram a patente para buscar fabricantes de brinquedos interessados no projeto. A partir daí, a Lego se viu motivada a produzir os blocos com as inserções em braille.

Já em 2018, com a Lego, uma nova ação foi até escolas públicas de Presidente Bernardes e Franco da Rocha, em São Paulo, e trabalhou com 82 crianças de 4 a 10 anos, que participaram de atividades de alfabetização em braille usando as peças durante um ano.

Segundo Klaus Schlüzen, professor da Unesp que auxiliou na montagem da metodologia de capacitação, os professores fizeram um primeiro curso presencial e, hoje, há uma versão online para a continuação do trabalho com os profissionais independentemente de sua localização.

Quando chega ao mercado?

Os kits estão sendo testados, neste semestre, com crianças da Noruega, Dinamarca, Inglaterra e Brasil. Até o fim do ano, há possibilidade de se iniciarem testes em alemão, espanhol e francês, segundo a Fundação Dorina Nowill.

De acordo com a Lego, o objetivo da marca é começar a distribuir o kit (250 peças, que incluem todo o alfabeto, os algarismos de 0 a 9 e símbolos matemáticos) no segundo semestre de 2020.

Crianças cegas têm o mesmo desejo e necessidade de explorar o mundo e socializar por meio do brincar, mas muitas vezes enfrentam o isolamento involuntário das atividades como consequência"
John Goodwin, CEO da LEGO Foundation

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