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Grupo de WhatsApp e câmeras IP viram armas de vizinhos para driblar assalto

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Imagem: Getty Images
do UOL

Paulo Gratão

Colaboração para o UOL, em São Paulo

17/04/2019 04h00

A jornalista Larissa Baeta, 26, estava sozinha em casa, na zona oeste de São Paulo, quando dois vizinhos viram que havia um desconhecido no quintal do imóvel onde ela mora e avisaram no grupo de WhatsApp da vizinhança. "Minha mãe viu a mensagem e me ligou desesperada, mandando trancar tudo. Aí chegou a polícia, entraram aqui e conseguiram pegá-lo na casa ao lado", conta.

Também foi pelo grupo de WhatsApp que a família da enfermeira Cibele Lima, 31, ficou sabendo que sua casa, na zona norte paulista, estava sendo invadida durante a madrugada. As imagens foram captadas pelo vizinho, que flagrou o ato, e enviadas à polícia.

A troca de informações e a vigilância atenta do grupo de moradores de Getuba, bairro de Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo, também trouxe mais segurança para a dona de casa Maria Luiza Santos Mota de Moura, 65. Ela soube na semana passada que a casa do vizinho foi invadida, mas, apesar de preocupada, considera a comunicação uma arma contra assaltantes, que têm ficado de olho nas casas de veraneio.

Quando a insegurança impera a tecnologia vira aliada, e não há tecnologia mais simples e acessível que o WhatsApp para a maioria das pessoas. Com o app de troca de mensagens, ficou muito mais fácil compartilhar notificações de movimentações suspeitas, roubos e tentativas de assalto e manter uma vigilância em tempo real.

A própria Polícia Militar do Estado de São Paulo estimula a participação da sociedade no combate à criminalidade e criou o Programa Vizinhança Solidária para aproximar vizinhos.

Ladrões levaram R$ 6.000 em produtos da casa de Fátima Narciso, em Jundiaí - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ladrões levaram R$ 6.000 em produtos da casa de Fátima Narciso, em Jundiaí
Imagem: Arquivo pessoal

Câmeras IP

Mas nem sempre isso basta. Além da comunicação mais dinâmica, é crescente o interesse por sistemas de segurança —hoje existem cerca de 815 mil imóveis com equipamentos do tipo no Brasil, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (ABESE).

Há alguns anos, as empresas eram as maiores consumidoras de sistemas de segurança, mas no ano passado 69% dos prestadores de serviços atenderam projetos residenciais. "Os custos caíram, e as pessoas passaram a ter a tecnologia mais incorporada ao dia a dia", explica a presidente da Abese, Selma Migliori.

Foi um assalto dois anos atrás, enquanto viajava com o marido, que fez a dona de casa Fátima Narciso, 58, comprar um sistema de vigilância que custou cerca de R$ 6.000 para a casa onde mora em Jundiaí (SP). Os bandidos furtaram objetos que somaram um prejuízo de mais de R$ 10.000, mas ela conseguiu ter acesso aos rostos dos ladrões pelas imagens captadas pela câmera da vizinha. Depois disso, trocou as janelas, colocou grades, cerca elétrica e instalou suas próprias câmeras.

O empresário do ramo de informática José Carlos Manhe, 54, também de Jundiaí, achou que as câmeras não eram suficiente e instalou ainda equipamentos para monitorar a área externa da casa, um total de R$ 8.000 em equipamentos. Mas nada disso foi suficiente. Um dia chegou em casa e deu de cara com os ladrões, que o imobilizaram e levaram tudo.

"Depois disso, eu complementei com a concertina [uma estrutura em espiral com arame farpado] e mais uma cerca elétrica. Percebi que só com a câmera não tem muita prevenção", disse.

Quanto custa ter mais segurança

Além de segurança pública eficiente, é claro, o ideal é ter um projeto pensado para cada caso. Criar grupos no WhatsApp sai de graça, mas listamos aqui algumas alternativas para quem buscar incrementar a vigilância.

"Existem benefícios e custos variados. É importante também saber que parte do investimento contempla a execução de consultoria e projeto, além da instalação", diz Heverton Guimarães, especialista em segurança eletrônica da empresa SuperSeg Brasil.

Segundo ele, a instalação de quatro câmeras, por exemplo, pode custar mais de R$ 1.300 (valores médios, não considera a instalação), e requer cerca de 24 itens. Confira:

  • 1 fonte colmeia chaveada bivolt - R$ 26
  • 100 metros de cabo - R$ 75
  • 8 conectores BNC macho - R$ 17,50
  • 8 conectores P4 macho - R$ 8,72
  • 1 DVR com 4 canais MultiHD - R$ 382
  • 1 HD externo - R$ 384
  • 2 câmeras Bullet (indicada para ambientes externos) MultiHD - R$ 250
  • 2 câmeras Dome (recomendada para ambientes internos) MultiHD - R$ 235

Além das câmeras, outros recursos podem ser instalados sem que você gaste tanto, aponta o especialista:

- Cadeado com alarme antifurto - R$ 90
O item dispara um alarme sonoro ao menor movimento ou impacto

- Vídeo porteiro - R$ 580
Aparelho de voz e imagem para identificar pessoas que tentem ter acesso à casa

- Interfone - R$ 150
Aparelho de voz para identificar pessoas que cheguem à porta da casa

- Grade de proteção para interfone - R$ 35
Sobreposição que dificulta o roubo ou danificação do aparelho.

O que diz a lei

Se você decidir por investir na captura de imagens, é importante saber os limites. De acordo com o advogado Gabriel Villarreal não existe previsão legal que impeça a instalação de câmeras. No entanto, a divulgação pública do conteúdo gravado é ilegal.

"É possível encontrar normas municipais prevendo a obrigatoriedade de afixação de placas indicativas da existência de captação de imagens no local e, ainda, expressamente comunicando as pessoas que tais imagens possuem caráter confidencial e são protegidas nos termos da lei", explica.

Se outra pessoa tiver acesso ao conteúdo das câmeras e divulgar, o responsável ainda é o dono do equipamento. "Em muitos casos, os donos das câmeras optam por não alterar a senha padrão e acabam sendo vítimas de invasões e divulgações de imagens por parte de terceiros", alerta.

O advogado Ageval Doria Junior ressalta que imagens captadas por pessoas jurídicas para quaisquer finalidades ou por pessoas físicas para fins econômicos podem ser enquadradas na nova Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD - Lei nº 13.709/18), que entra em vigor em 14 de agosto de 2020 e impõem limites mais rígidos.

Cuidados ao contratar

De acordo com a Abese, existem 12 mil empresas no Brasil que oferecem sistemas eletrônicos de segurança, mas ainda não há uma regulamentação do setor —o Projeto de Lei nº 1759/07 tramita há doze anos na Câmara dos Deputados. Então, para não cair em ciladas, a entidade dá algumas dicas:

  • Procure uma empresa séria, legalmente constituída e que possa explicar a origem dos equipamentos.
  • Antes da instalação, a empresa deve enviar um técnico ao local para avaliação dos riscos.
  • Após a instalação, a empresa deve treinar todos os frequentadores do imóvel para a correta utilização do equipamento.
  • É importante que haja um teste periódico no sistema de segurança. Mesmo com monitoramento, o ideal é que seja feito uma avaliação manual de tempos em tempos. A empresa deve orientar qual é o prazo para isso.

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