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O mistério da presença militar russa na Venezuela

Roman Goncharenko (ca)

25/03/2019 15h53

Rússia enviou aviões com cem soldados e 35 toneladas de material não especificado, inclusive caminhões pesados, a Caracas e alimentou especulações sobre uma intervenção militar no país.Quando dois aviões militares russos pousaram no aeroporto de Caracas no sábado passado (23/03), alguns observadores cogitaram um possível envolvimento da Rússia na luta pelo poder na Venezuela.

De acordo com relatos da mídia, as aeronaves do tipo Ilyushin IL-62 e Antonov AN-124 transportaram cerca de cem soldados uniformizados e 35 toneladas de material não especificado, inclusive caminhões pesados.

Consta que o chefe de gabinete das forças terrestres russas, o general Vasily Tonkoshkurov, estava num dos aviões. E, também, que, no caminho para Caracas, as duas aeronaves teriam aterrissado na Síria, onde a Rússia está militarmente ativa desde 2015, apoiando o governante Bashar al-Assad.

Seria chegada a hora de uma missão semelhante na Venezuela? O Kremlin e suas Forças Armadas ajudarão o abalado presidente Nicolás Maduro? Talvez até mesmo a ponto de uma invasão, como em 1979 no Afeganistão?

As autoridades responsáveis em Moscou pouco falaram. Mesmo na mídia russa, a chegada de duas aeronaves de transporte na Venezuela foi uma questão secundária.

De acordo com reportagem desta segunda-feira da agência estatal de notícias RIA-Novosti, que menciona um diplomata russo em Caracas, os militares foram discutir questões relacionadas a acordos anteriores de fornecimento de armamentos e "não há nada de misterioso nisso".

A Rússia fornece há anos armamentos para a Venezuela, avaliados em mais de 10 bilhões de dólares, incluindo aviões de combate, helicópteros, sistemas de defesa antiaérea e tanques de guerra. Em breve haverá uma fábrica de metralhadoras do tipo AK-47, como também uma de cartuchos.

Além dos investimentos na indústria petrolífera venezuelana, esses fornecimentos de armas são os dois principais interesses da Rússia no país em crise.

Nos últimos meses, o Kremlin negou relatos de uma possível presença militar da Rússia no país sul-americano. Os rumores incluíam também a presença de mercenários russos com experiência de combate no leste da Ucrânia e na Síria, conhecidos como Tropa Wagner.

Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, Maduro não pediu ajuda militar à Rússia durante uma conversa telefônica que teve com o presidente Vladimir Putin no fim de janeiro.

Até agora, a Rússia mostrou de forma simbólica a sua disposição de ajudar a Venezuela militarmente. Em dezembro de 2018, por exemplo, Moscou enviou dois bombardeiros nucleares de longo alcance do tipo Tupolev TU-160 para Caracas e participou de um exercício conjunto com a Força Aérea Venezuelana.

Pequeno detalhe: na época, os bombardeiros foram acompanhados pelas mesmas aeronaves que aterrissaram agora em Caracas, um Ilyushin IL-62 e um Antonov NA-124. No entanto, isso aconteceu antes do agravamento da crise e antes de o político oposicionista Juan Guaidó ter se declarado presidente interino e ser reconhecido por muitos países ocidentais.

A mídia russa menciona duas possíveis razões pelas quais Moscou até agora tem se mantido militarmente reticente na Venezuela. Por um lado, o Exército do governo venezuelano é consideravelmente mais forte do que, por exemplo, na Síria antes da missão russa.

Por outro lado, a distância geográfica entre os dois países é significativamente maior e o apoio logístico às tropas, mais difícil. Nas redes sociais, especula-se que a Rússia quer, acima de tudo, dissuadir os EUA de uma intervenção militar na Venezuela.

As atuais ações da Rússia no país sul-americano não permitem uma comparação com a atuação de Moscou na Síria, e muito menos com a missão soviética no Afeganistão. A presença dos aviões russos em Caracas só permite especulações, disse o especialista militar russo Alexander Golts. E nada pode ser descartado.

"Talvez eles [militares russos] estejam se preparando para retirar Maduro, talvez queiram transportar ouro para fora do país ou enviar reforços para defender Maduro", disse Golts.

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