Topo
Notícias

Governo de Maduro detém militares rebeldes e anula decisões parlamentares

21.jan.2019 - Soldado opositor de Maduro durante confronto com forças de segurança nos arredores do posto de comando da Guarda Nacional no norte de Caracas - Yuri Cortez/Caracas
21.jan.2019 - Soldado opositor de Maduro durante confronto com forças de segurança nos arredores do posto de comando da Guarda Nacional no norte de Caracas Imagem: Yuri Cortez/Caracas

21/01/2019 16h53

Um grupo de militares foi detido após se rebelarem nesta segunda-feira (21) contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, dois dias antes das manifestações opositoras que exigirão um governo de transição e eleições.

À agitação provocada pela rápida insurgência se somou uma sentença do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ, de linha governista), que declarou nula a junta diretiva parlamentar presidida pelo jovem opositor Juan Guaidó.

Sob a liderança de Guaidó, o Congresso - de maioria opositora - declarou Maduro "usurpador" após a sua posse em 10 de janeiro para um segundo mandato, considerado ilegítimo por vários governos, e acordou uma anistia para os militares que não o reconheceram.

"Fazemos um chamado à Força Armada para restabelecer a ordem. Família militar, ali estão os que querem perseguir", disse Guaidó à imprensa, após a decisão que reiterou a decisão do TSJ de declarar o Parlamento em desacato em 2016.

De madrugada, um número não detalhado de membros da Guarda Nacional (GNB) de Macarao (oeste) roubaram armas de guerra de um posto em Petare (leste) e se entrincheiraram depois no quartel do bairro Cotiza (norte), onde foram detidos, segundo um comunicado da Força Armada (FANB), que reporta controle da situação.

"Aqui está a tropa profissional da GNB contra este regime que não reconhecemos completamente. Preciso do apoio de vocês, saiam às ruas", disse um militar que se identificou como sargento dessa corporação, em um dos vários vídeos que circularam nas redes.

Essa ação ocorre às vésperas das manifestações convocadas pela oposição e pelo governo, no que se anuncia como o primeiro grande ato nas ruas desde os protestos de 2017 que deixaram 125 mortos.

"Este Parlamento se mantém firme com as decisões tomadas. Temos um foco muito claro: em 23 de janeiro todos esses venezuelanos estejam muito atentos", sustentou Guaidó nos jardins do Palácio Legislativo.

'Estamos com eles!'

No comunicado divulgado pelo ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López, a Força Armada se refere aos rebeldes como um "pequeno grupo de assaltantes" que, disse, inclusive "sequestrou" quatro militares.

"Durante a prisão conseguiram recuperar o armamento roubado e, no momento atual, estão dando informações de interesse aos organismos de Inteligência e ao sistema de Justiça militar. A esses sujeitos será aplicado todo o peso da lei", advertiu.

Após saberem do caso por meio dos vídeos, um grupo de moradores de Cotiza chegou às proximidades do quartel para apoiar os rebeldes, bater panelas e fizeram barricadas em uma rua com lixo, depois do que foram dispersados por efetivos policiais e militares com bombas de gás lacrimogêneo.

"Estamos com eles. Se eles se unem com nosso país, estamos com eles. Vamos estar nas ruas. Liberdade!", gritou uma mulher. "Queremos que Maduro se vá, estamos cansados!", alfinetou um homem.

Ao meio-dia já haviam se somado outros moradores de bairros próximos a Cotiza e a situação tendia a se normalizar durante a tarde.

Os rebeldes foram levados ao Forte Tiuna - principal complexo militar do país - sob ordens da Procuradoria e da Justiça militar, segundo versões da imprensa.

Descontentamento militar

Guaidó, que pediu o não reconhecimento de Maduro, assegurou que a mensagem do Parlamento está tendo "eco" na Força Armada, considerada o apoio do governo.

Defendendo a quebra do apoio decisivo da Força Armada que Maduro tem, o Parlamento se comprometeu há uma semana a "decretar uma lei de anistia" para "funcionários civis ou militares" que não o reconhecem e cooperam com o "governo de transição".

Maduro considera essa proposta como parte de um "golpe de Estado" em curso, por trás do qual, segundo diz, estão a Casa Branca e vários governos latino-americanos que também sustentam que a sua reeleição em maio de 2018 foi fruto de eleições ilegítimas.

Rocía San Miguel, especialista em assuntos militares e presidente da ONG Controle Cidadão, assegurou à AFP que o fato "pode ser descrito como uma expressão de descontentamento, que não encontrou resposta em outras unidades militares".

A Força Armada, integrada por 365.000 mil soldados e 1,6 milhão de milicianos civis, reafirmou a sua lealdade "absoluta" a Maduro após a posse.

Apesar do esforço para ser monolítica, dois generais estão entre os presos por um suposto ataque contra o presidente em 4 de agosto, quando dois drones explodiram perto de um palanque onde liderava um ato militar.

Cerca de 180 soldados foram detidos em 2018 acusados de conspiração, segundo San Miguel. A ONG Human Rights Watch denuncia torturas.

Em um contexto em que poucos escapam da escassez de alimentos e remédios e da hiperinflação, 4.309 soldados desertaram da Guarda Nacional em 2018, segundo uma lista vazada do organismo e citada pela Controle Cidadão.

A ONG estima que 10.000 membros da Força Armada tenham pedido baixa desde 2015.

Notícias