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Após derrota histórica no Brexit, premiê britânica ganha sobrevida no cargo

Britânicos permanecem divididos com o Brexit

AFP
do UOL

Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

16/01/2019 17h16Atualizada em 16/01/2019 20h02

O Parlamento britânico rejeitou, nesta quarta-feira (16), a moção de censura apresentada pelo Partido Trabalhista, de oposição, na última terça. O objetivo da ação era destituir a premiê Theresa May após uma derrota monumental do governo no acordo do Brexit.

A líder do partido Conservador ganhou sobrevida com 325 votos contrários à sua destituição -- 19 a mais do que os que pediram que ela saísse. Para que a moção fosse aprovada, era necessária a maioria dos votos dos parlamentares presentes.

Ontem, May havia sido derrotada por uma diferença de mais de 200 votos, com 432 parlamentares contra o projeto de acordo do 'brexit' que ela defende e apenas 202 a favor.

Com a permanência de May, a comunidade internacional volta a ter esperanças de que a saída do Reino Unido da União Europeia seja feita mediante um acordo. Se isso não acontecer, crescem as incertezas com relação, por exemplo, a situação dos europeus vivendo no arquipélago britânico ou à fronteira entre Irlanda e Irlanda do Norte.

"Estou feliz que esta casa tenha expressado sua confiança no governo esta noite. (...) Nosso governo continuará seu trabalho para aumentar nossa prosperidade, garantir nossa segurança e fortalecer nossa união", disse a premiê britânica em discurso logo após a votação. 

May ainda reiterou que não pretende debater a permanência do Reino Unido no bloco. "E sim, nós continuaremos a trabalhar na promessa que fizemos ao povo deste país para seguir o resultado do referendo e deixar a União Europeia. Acredito que este dever é compartilhado por todos os membros desta Casa e temos a responsabilidade de identificar um caminho a seguir ", afirmou. 

Derrota ontem, vitória hoje

Apesar da derrota considerada "humilhante" na votação do acordo do Brexit, a permanência de May pode ser considerada como uma opção pelo "mal menor" por parte do parlamento.

Se a premiê fosse deposta, o Reino Unido ficaria submerso em incertezas e conviveria com paralisação do governo. Com uma moção de desconfiança aprovada, começaria a correr um prazo de duas semanas para que o governo reunisse maioria e votasse pela permanência de May no cargo, ou fosse formado um governo de oposição.

E enquanto isso, o dia "D" da saída da União Europeia se aproxima: a data acordada é 29 de março. Uma extensão desse prazo passaria essencialmente por um afrouxamento do Artigo 50 do Tratado de Lisboa, que versa sobre a saída de países do bloco europeu. Há muita desconfiança em relação à extensão do prazo de saída, pois todos os 27 membros da União Europeia teriam de aprovar uma nova data. 

Diante de tanto impasse, ainda é incerto o futuro do Brexit. Há diversas opções sobre a mesa:

  • O Reino Unido pode 'desistir' de deixar a União Europeia, convocar novo referendo e negociar a permanência no bloco - o que enfrentaria resistência dos apoiadores do Brexit
  • O Reino Unido pode deixar a União Europeia em março, conforme prazo estipulado, sem acordo - o que levanta dúvidas, por exemplo, quanto a fronteira entre a Irlanda do Norte, território do Reino Unido, e a Irlanda, território europeu
  • A premiê Theresa May pode decidir ainda convocar eleições gerais para resolver o impasse do Brexit. Segundo análise dos jornalistas do Reino Unido, um novo mandato poderia legitimar o acordo. Pelo menos dois terços dos parlamentares, no entanto, têm de aprovar o chamado para novas eleições
  • Uma renegociação para tentar emplacar outro acordo de saída também é possível. Nesse caso, teria de haver um afrouxamento do artigo 50 do Tratado de Lisboa, que versa sobre a saída de países da UE. Todos os Estados-membros teriam de aprovar essa ampliação do prazo de saída que fora estipulado para 29 de março
  • Existem ainda outras consequências após a rejeição do acordo. A renúncia de May é uma delas. Caso a premiê resolva não ocupar mais o cargo, o Partido Conservador seria palco de uma "corrida ao poder", da qual resultaria a indicação de um novo primeiro-ministro

O que dizem os europeus

Mais cedo, o chefe da negociação entre União Europeia e Reino Unido, Michel Barnier, em discurso no plenário do Parlamento Europeu, afirmou que as chances de uma saída sem acordo "nunca foram tão altas". "Nossa resolução é evitar esse cenário, mas também temos uma responsabilidade. É por isso que, do nosso lado, estamos intensificando nossos esforços do nosso lado para lidar com esse cenário", disse Barnier. 

Antes da votação, em meio aos debates com os parlamentares sobre soluções e possibilidades para o acordo do Brexit, a primeira-ministra britânica afirmou que um possível chamado para eleições gerais seria "a pior coisa que poderia acontecer". 

O presidente francês, Emmanuel Macron, fez duras críticas à ideia de deixar a UE sem nenhum acordo - uma possibilidade que aumentou nos últimos dias. "A primeira opção é sair sem acordo, o que assusta todo mundo. Os primeiros que perderão [com um Brexit sem acordo] serão os cidadãos britânicos. (...) 70% dos produtos que estão nas prateleiras dos supermercados britânicos vêm da Europa continental", afirmou Macron em discurso.

Segundo Macron, o acordo que os britânicos negociaram com o bloco "não pode ser renegociado" e é o "melhor possível". 

Pelo Twitter, o prefeito de Londres, Sadiq Khan, do Partido Trabalhista, criticou duramente os conservadores por colocarem o "interesse político acima dos interesses nacionais." Para Khan, novas eleições devem ser convocadas para que os cidadãos britânicos tenham a palavra final em relação ao Brexit.

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