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Ford e VW juntas: picape Volks com base da Ranger será primeiro modelo

Ranger dará base para uma nova picape da Volkswagen. Será a nova geração da Amarok? - Arte UOL Carros sobre Divulgação
Ranger dará base para uma nova picape da Volkswagen. Será a nova geração da Amarok?
Imagem: Arte UOL Carros sobre Divulgação
do UOL

Eugênio Augusto Brito, Ricardo Ribeiro e Jorge Moraes

Do UOL, em São Paulo (SP); colaboração para o UOL em Wolfsburg (Alemanha) e Detroit (EUA)

15/01/2019 12h09Atualizada em 15/01/2019 14h55

Não há fusão ou troca de ações, mas ações darão origem a elétricos, autônomos e veículos comerciais em conjunto

O presidente mundial da Volkswagen, Herbert Diess, e o presidente mundial da Ford, Jim Hackett, confirmaram há poucos instantes que as empresas pretendem desenvolver furgões comerciais e picapes de médio porte de forma conjunta e prevendo vendas globais a partir de 2022.

Desta vez, Ford e Volkswagen anunciaram uma aliança diferente do que foi a Autolatina, nos anos 1980/90, nada de comparações nesse sentido. O acordo sem participação acionária permitirá às empresas desenvolverem juntas veículos a partir de 2022, quando nascerá a primeira picape média da união. O Espere daí as novas Amarok e Ranger.

Através da aliança, a Ford vai projetar e construir as picapes de médio porte para ambas as empresas. O primeiro modelo, já em 2022, será um lançamento da Volkswagen usando a evolução da plataforma da Ranger. Depois, a própria picape Ford chega ao mercado. Os principais mercados de atuação dessa linha de produtos serão Europa, África e América do Sul.

Lyle Watters, presidente da Ford Brasil, presente ao Salão de Detroit, destacou a liderança da empresa no projeto Ranger/Amarok. "Mas é muito importante que os produtos sejam diferenciados", frisou o executivo, que destacou o foco na expansão dos resultados. "Temos opções mas ainda não estamos no ponto de falar onde a produção irá acontecer. Precisamos ver onde, mas oportunidades estão."

Por enquanto, a Ranger atual é feita na unidade da Ford em Pacheco, na Argentina, além do desenvolvimento na Austrália para o mercado de Ásia e Oceania -- espera-se a volta da fabricação em Michigan este ano, visando o mercado norte-americano. Já a Volkswagen Amarok também é entregue em Pacheco para nosso mercado, tendo sido desenvolvida em Hanover (Alemanha) e ainda com produção na Argélia (para Oriente Médio e África).

Não está prevista uma fusão ou mesmo trocas de ações. A aliança visa a redução de custos e será, inicialmente, restrita aos veículos comerciais. Ainda assim, foram anunciados planos de estender esta cooperação para o desenvolvimento de veículos elétricos e autônomos, que são hoje as operações mais caras de todas as companhias do setor automotivo.

Na sequencia, viriam vans comerciais para o mercado europeu. A Ford ficaria com as de maior porte e a Volkswagen pretende desenvolver e construir um modelo para uso urbano.

Menos custos, mais modelos, mais lucros

Segundo o anúncio conjunto acompanhado por UOL Carros, a aliança vai gerar maior escala de produção e eficiência, permitindo que ambas as empresas compartilhem investimentos e plataformas de veículos de capacidades e tecnologias distintas.

As empresas estimam que a cooperação resultará em melhores resultados operacionais anuais (lucros brutos), a partir de 2023. Além disso, Volkswagen e a Ford assinaram um memorando de entendimento para investigar a colaboração em veículos autônomos, serviços de mobilidade e veículos elétricos para "explorar oportunidades".

Para o chefão da Volkswagen, a aliança vai melhorar a competitividade das empresas. "Volkswagen e a Ford aproveitarão os recursos coletivos, capacidades de inovação e posições de mercado complementares para atender ainda melhor a milhões de clientes em todo o mundo. Será uma pedra angular para nosso esforço para melhorar a competitividade", afirmou Diess.

Ford e Volkswagen presidentes - Ben Klayman/Reuters - Ben Klayman/Reuters
CEO da Ford, Jim Hackett (esq.), posa ao lado Herbert Dies, CEO da VW: "Menor custo, maior competitividade"
Imagem: Ben Klayman/Reuters

Para ser líder

As duas empresas têm modelos comerciais com maior ou menor grau de sucesso no mercado. A Ford tem a linha Transit (furgões e vans de diferentes portes) e a Ranger (picape média). Já a Volkswagen fabrica a linha Transporter (van herdeira da Kombi), Caddy (multi-uso de porte pequeno) e Amarok (picape).

O volume coletivo de veículos comerciais leves das empresas em 2018 totalizou aproximadamente 1,2 milhão de unidades globalmente. Assim, a aliança tem potencial para se tornar a colaboração de maior volume do setor em escala de produção a partir da junção de plataformas.

As empresas ainda destacaram que mais detalhes do funcionamento da aliança serão acertados nos próximos meses e, logo, novos anúncios podem ser esperados. Além de vans e furgões, caminhões médios, que também integram uma previsão de crescimentos global para os próximos cinco anos, devem ser considerados. Tanto VW como Ford têm produtos fortes na categoria.

Lyle Watters Rogelio Golfarb Ford Brasil - Jorge Moraes/UOL - Jorge Moraes/UOL
Lyle Watters, CEO da Ford do Brasil (centro), acompanhou anúncio de Detroit (EUA): "É importante que os produtos sejam diferenciados".
Imagem: Jorge Moraes/UOL

E carros de passeio?

Ainda não há uma discussão sobre a produção conjunta de carros de passeio. No entanto, ambas as empresas disseram que estavam abertas a considerar programas adicionais de veículos no futuro.

Assim, os carros do futuro estão na rota da aliança que vai explorar o melhor potencial de cada parte. A conectividade norte-americana e o programa alemão de elétricos e autônomos certamente trariam benefícios à cadeia de produção conjunta.

Já tivemos acesso, na CES 2019, realizada na semana passada em Las Vegas, à concepção de rede de integração entre carro, celular e o ser humano com o projeto C-V2X da Ford, que mostrou que o veículo do amanhã não precisa ser autônomo para ser inteligente. A Volks, por outro lado, segue firme no desenvolvimento de plataformas de modelos elétricos para diferentes faixas do mercado, de hatches médios a furgões de passageiro e entregas. 

"Com o tempo, essa aliança ajudará as duas empresas a criar valor e atender às necessidades de nossos clientes e da sociedade", afirmou Hackett, da Ford. "Isso não só irá impulsionar eficiência significativa e ajudar ambas as empresas a melhorar sua forma física, mas também nos dará a oportunidade de colaborar na definição da próxima era de mobilidade".

A aliança não envolve a propriedade cruzada entre as duas empresas -- ou seja, não há neste primeiro momento uma empresa prevalecendo sobre outra. Ela será gerida por um comitê conjunto liderado por Hackett e Diess e que incluirá executivos de alto escalão de ambas as empresas.

Renault Alaskan - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Inédita no Brasil, Renault Alaskan tem base de Nissan Frontier e desenvolvimento com Mercedes-Benz
Imagem: Murilo Góes/UOL

Alianças pelo mundo

Quem tem mais de 40 anos lembra da primeira aliança de Ford e VW, a Autolatina, que unificou as operações de ambas no Brasil e na Argentina. A partir de 1987, a Autolatina operou como uma nova empresa operacional, embora os produtos lançados mantivessem as nomenclaturas separadas de Ford e de Volkswagen.

A fusão regional resultou em carros de uma marca que tinham uma variante quase idêntica na outra, compartilhando componentes e peças de estamparia: o Ford Escort foi vendido pela Volkswagen na variante Logus/Pointer; já o Volkswagen Santana/Quantum virou Versailles/Royalle com o logotipo da oval azul. A união, porém, foi encerrada em 1995 tendo mais prejuízos às imagens das linhas de produtos das duas marcas, sobretudo para a Ford, que benefícios.

Recentemente, GM e Honda sinalizaram parceria para desenvolvimento global de baterias de elétricos. As alemãs BMW, Audi e Mercedes-Benz também têm acordos em termos de tecnologias de comunicação. Mesmo comercialmente, existem conversas entre a gigante GM e a Fiat-Chrysler.

Mas o exemplo mais em voga é o da aliança Renault-Nissan, que recentemente incluiu a japonesa Mitsubishi. Montada originalmente para alavancar o desenvolvimento de modelos elétricos, a aliança Renault-Nissan expandiu suas ações a praticamente todos os segmentos operados pelas duas companhias, de carros de passeio a veículos comerciais (onde as duas empresas fazem ações inclusive com terceiras, como é o caso da alemã Mercedes-Benz).

Com a compra do controle da Mitsubishi, espera-se uma maior ação também entre utilitários leves, ainda que neste momento quase tudo o que se fale da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi seja negativo por conta do escândalo decorrente da prisão de seu homem-forte, o executivo brasileiro Carlos Ghosn, por denúncias fiscais, em Tóquio (Japão).

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