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Entenda a paralisação do governo dos EUA e qual a relação dela com o muro de Trump

22.out.2018 - O presidente americano, Donald Trump, participa de comício em Houston, no Texas - Doug Mills/The New York Times
22.out.2018 - O presidente americano, Donald Trump, participa de comício em Houston, no Texas Imagem: Doug Mills/The New York Times

12/01/2019 20h57Atualizada em 13/01/2019 10h24

Paralisação do governo americano, ou "shutdown" chegou neste sábado ao 22º dia, a mais longa da história.

A paralisação do governo americano (ou "shutdown") se tornou neste sábado a mais longa da história.

São 22 dias em que o governo está parcialmente paralisado, ultrapassando o recorde anterior, de 21 dias, de 1995-1996, durante a gestão do então presidente Bill Clinton (1993-2001).

Essa paralisação - desde 22 de dezembro - se deve a uma queda de braço entre o presidente Donald Trump, e os democratas, que atualmente controlam a Câmara dos Representantes (a Câmara dos Deputados dos EUA) e fazem oposição a Trump.

Trump se recusa a aprovar parte do orçamento federal porque este não inclui recursos da ordem de US$ 5,7 bilhões (R$ 21,15 bilhões) para a construção de um muro na fronteira com o México, uma de suas principais promessas de campanha.

Trata-se de uma paralisação parcial porque o Congresso já custeou 75% do governo federal até setembro. Até agora, os recursos que ainda faltam ser aprovados afetam nove departamentos federais (ministérios), incluindo Agricultura, Transporte e Interior.

Devido à forma como o financiamento é distribuído entre as agências, certos serviços são afetados, embora possam tecnicamente estar sob os departamentos que já foram cobertos. Esse é o caso, por exemplo, da FDA, a agência de vigilância sanitária americana.

Nesse cenário, o governo não pode se comprometer com nenhuma outra despesa, levando a um congelamento parcial dos serviços e atividades governamentais até que os gastos sejam aprovados.

Como resultado, 25% de todo o governo federal parou de funcionar e 800 mil servidores estão com os vencimentos atrasados.

Na sexta-feira, esses funcionários - incluindo agentes penitenciários, aeroportuários e do FBI (a polícia federal americana) - não receberam o primeiro mês de salário.

Enquanto isso, Trump negou que estaria prestes a declarar Estado de emergência nacional para ignorar o Congresso e arrecadar os recursos de que precisa.

Ele descreveu a declaração de emergência como "uma saída fácil" e disse preferir que o Congresso resolva o problema.

Mas acrescentou: "Se eles não fizerem isso... vou declarar Estado de emergência nacional. Eu tenho todo o direito".

Reação dos servidores

Oscar Murillo, engenheiro aeroespacial na Nasa, postou uma foto de seu contracheque em branco no Twitter e disse que acabou perdendo dinheiro por causa de débitos programados.

Também no Twitter, outra usuária, Cat Heifner, compartilhou o suposto contracheque do seu irmão, mostrando que ele ganhou US$ 0,01 por seu trabalho como controlador de tráfego aéreo.

https://twitter.com/catheifner/status/1083405211820019712

Segundo o site de notícias americano Vox, diplomatas americanos em missões no exterior também estão passando aperto.

Na reportagem, o jornalista Alex Ward, cuja mulher trabalha no Departamento de Estado (o equivalente ao Ministério das Relações Exteriores no Brasil), cita o caso de uma diplomata que passou a fazer avaliações online de delineadores para pagar as contas.

Já o site de classificados Craigslist, por exemplo, foi inundado de produtos vendidos por funcionários do governo federal.

Entre os itens, estão desde camas até brinquedos velhos.

"À venda por US$ 93.88 no Walmart. Peço US$10", diz um anúncio que retrata uma cadeira de balanço infantil. "Precisamos de dinheiro para pagar nossas contas"

Dos 800 mil servidores federais que estão sem receber, cerca de 350 mil estão de licença temporária, enquanto os demais continuam trabalhando.

Milhares de pessoas se inscreveram em programas sociais em meio à incerteza financeira.

O aeroporto internacional de Miami fechará um terminal inteiro neste fim de semana por causa da escassez de agentes de segurança causada pela paralisação.

Os agentes são funcionários federais considerados "essenciais" e, por isso, devem trabalhar - apesar de não serem pagos até que a paralisação termine.

Como forma de protesto, muitos deles deixaram de ir ao trabalho avisando que estão "doentes", informou o jornal Miami Herald.

Queda de braço

Na sexta-feira, Câmara e Senado aprovaram por maioria esmagadora um projeto de lei para garantir que todos os funcionários públicos recebam um pagamento retroativo após o término da paralisação. A proposta segue agora à sanção presidencial.

Mas isso pode ser um pequeno consolo para os servidores federais atualmente em dificuldades, sem nenhum fim à vista para o impasse.

Em uma mesa-redonda sobre segurança na fronteira com líderes estaduais e locais na sexta-feira, Trump exigiu novamente que os democratas aprovassem o financiamento para um muro ou uma barreira de aço.

No entanto, a líder democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, disse que o fim da paralisação está nas mãos do presidente americano.

"Quando o presidente agir, responderemos a tudo o que ele fizer", disse Pelosi à imprensa americana.

Segundo a agência de notícias americana Associated Press, o assessor sênior da Casa Branca Jared Kushner - genro de Trump - está entre aqueles que advertiram o presidente contra a declaração de emergência nacional.

A imprensa americana diz que a Casa Branca está considerando desviar parte dos US$ 13,9 bilhões alocados no ano passado pelo Congresso para ajuda humanitária em áreas como Porto Rico, Texas e Califórnia, para pagar pelo muro.

Mas o congressista republicano Mark Meadows, que é próximo do presidente, disse que essa opção não está sendo seriamente considerada.

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