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Doria libera calibre 12, antes restrito para noite, para uso da PM de dia

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em Brasília - Ernesto Rodrigues/Estadão Conteúdo
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em Brasília Imagem: Ernesto Rodrigues/Estadão Conteúdo
do UOL

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

11/01/2019 20h04

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), autorizou na tarde desta sexta-feira (11) que os policiais militares utilizem espingardas de calibre 12 em tempo integral durante o patrulhamento. Anteriormente, as equipes de radiopatrulha, que atendem as ocorrências das chamadas no 190, só podiam utilizar esse tipo de arma durante a noite.

Doria afirma que serão disponibilizadas 5 mil peças com essa especificação para a PM, e que os cabos e soldados estarão equipados em até 60 dias.

"Nos atendimentos diurnos, as equipes saíam com pistolas .40, impossibilitando uma resposta à altura em atendimentos de maior gravidade", afirma o governo paulista em nota. 

Com alto poder de destruição, as espingardas de calibre 12 são classificadas de "perigosas" pelo coronel da reserva Adilson Paes de Souza. Ele questiona a pertinência da medida.

2.abr.2014 - O tenente-coronel reformado da Polícia Militar de São Paulo Adilson Paes de Souza critica a violência policial - Junior Lago/UOL - Junior Lago/UOL
O coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo Adilson Paes de Souza
Imagem: Junior Lago/UOL
"É uma arma com maior chance de produzir uma desgraça. Todos os policiais do estado estão aptos para utilizar essa arma?", questiona. 

"O balote [tipo de munição para essa arma escolhido pelo governo de SP], se atingir uma pessoa, pode até mutilar e atravessar uma lataria de carro", afirma.

De todas as armas que conheci na polícia, a calibre 12 é a que mais me inspirava medo. Adilson Paes de Souza, coronel da reserva da PM

Paes de Souza diz que "tudo vai depender do preparo técnico e emocional do policial", já que, segundo o coronel, são comuns acidentes durante manuseio da calibre 12.

Para o professor de Gestão Pública da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas de São Paulo) Rafael Alcadipani, é vantajoso ao policial que ele tenha mais equipamento, mas autorizar o uso da calibre 12 em tempo integral deveria ser justificado com estudo técnico. 

"Para alguns tipos de regiões com maior concentração de criminalidade, sim, faz sentido a adoção da calibre 12, mas me parece que não é uma medida efetiva que justifique o gasto para o estado inteiro. Em Itupeva, Itapira, cidades onde não há tanta criminalidade, o que ela [calibre 12] adiciona além da [pistola] .40?", questiona Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

"O governador vendeu a ideia de que ele iria equipar as policias, e com essa medida ele está suprindo um pouco essa promessa de campanha. Há um objetivo político muito claro", diz 

Espingarda calibre 12 é extremamente comum, afirma tenente-coronel da PM

Sobre as críticas à adoção da arma, o tenente-coronel da Polícia Militar Robson Cabanas explica que a espingarda calibre 12 "é uma arma clássica" das equipes de radiopatrulha da PM e a classifica como "arma de apoio". 

"Não existe arma de fogo mais ou menos poderosa, mas, sim, a arma de fogo com melhor característica para determinada ação. Se o bandido está armado com um revólver dentro de uma residência, a pistola é uma arma boa para trabalhar neste sentido, mas se for necessário um disparo de médio alcance, a espingarda calibre 12 entra nessa situação", defende.

"A polícia utiliza certos calibres não procurando mortes, mas para incapacitar o bandido o mais rápido possível. Um calibre grosso, de massa mais adequada, você fratura uma perna ou um braço", afirma. 

Sobre o uso no interior do estado, ele diz que "em sítios, fazendas, áreas remotas, o apoio está a 20 ou 30 quilômetros de distância, demora para chegar, eles [os policiais] precisam ter a arma de apoio. Tudo depende do ambiente e da circunstância. Quando você oferece a espingarda, o policial terá uma gama maior de recursos". 

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